Homilia do Arcebispo de Braga na solenidade de Cristo-Rei

Realeza de Cristo perante os contrastes sociais

No prefácio desta Solenidade do Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, aclamamos a vinda de um reino eterno e universal, oferta de Deus a todos os povos. “Reino de Verdade e de Vida, reino de santidade e de graça, reino de Justiça, de amor e de paz.” Ao que parece história e o Homem têm colocado muitos entraves à realização definitiva destas pérolas do reino que Jesus anunciou. A cizânia cresce sempre ao lado da boa semente.

Neste tempo que é novo, de ruína de impérios e de ideologias sociais e económicas, construídos sob o signo da materialidade absoluta, do sonho da imortalidade e da superficialidade das crenças, encontramo-nos diante de várias interrogações que a era pós-moderna veio agudizar:

– Que Verdade andamos à procura? É Cristo a Verdade do Homem, sobretudo para nós cristãos que acreditamos que a encarnação de Jesus Cristo é a revelação da Verdade plena do amor de Deus?

 – Onde está a “vida” autêntica, cheia de humanidade e do toque da transcendência?

 – Que caminhos de “santidade” já percorridos em torno da Palavra eloquente que nos chama a dar testemunho e esperança das nossas razões de acreditar?

– Se recebemos a “graça” de Deus como dom, será que nos temos sentido co-responsáveis no anúncio de um tempo luminoso para a humanidade?

– Onde está a “justiça” que dignifica todo o Homem e dissipa as afrontas escandalosas que marginalizam, exploram e dividem toda e qualquer sociedade livre e democrática?

 – Que amor é digno de ser acreditado? Que gestos e atitude estamos dispostos a fazer para que Cristo Reine nas nossas vidas?

– Onde está a “paz” que faz do mundo um lugar habitável e cheio de esperança para àqueles povos que vivem marcados pelos dramas da violência e da barbárie humanas?

A Solenidade de Cristo-Rei coloca à Igreja o desafio de procurar as respostas para estas interrogações na Palavra de Jesus Cristo, na sua vida e na sua missão de entrega radical por cada história humana.

Preocupado com a apatia social, com a incerteza face ao futuro próximo e com a tristeza que poderá invadir os lares de milhares de famílias, lerei de seguida, a todos os Homens de Boa Vontade, Católicos ou não crentes, a mensagem de Advento-Natal que escrevi para este ano. Proponho-a como experiência a realizar num caminho de comunhão eclesial e de fraternidade humana.

Com a força e o amor de cada um, acredito que vai resultar. A luta pela humanização da vida e a fé em Cristo Jesus fazem dos cristãos arautos dum tempo cheio de Deus porque cheio de amor ao próximo.

Braga, Solenidade de Cristo-Rei, 21 de Novembro 2010

† Jorge Ortiga, Arcebispo Primaz

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