Padre Pedro Rodrigues, da Missão Católica Portuguesa na capital britânica, fala da expectativa e das polémicas em torno da visita do Papa ao Reino Unido
Ao passar por Londres entre Quinta-feira e Domingo, no âmbito da sua viagem ao Reino Unido, Bento XVI terá diante de si uma das mais ricas amostras da multiplicidade cultural do planeta.
O programa da visita, que prevê reuniões com líderes de instituições civis, políticas e religiosas de vários quadrantes, manifesta a inclinação do Papa para a discussão de pontos de vista, já manifestada em anteriores viagens internacionais.
Esta tendência é reforçada pela multiplicidade cultural e espiritual da capital britânica, pelo que a estadia do Papa na cidade do rio Tamisa pode também simbolizar o convite ao diálogo que a Igreja Católica lança a todas as sensibilidades, incluindo aquelas que a combatem.
“Londres, sendo variada e cosmopolita, é uma mistura de muitos sentidos, culturas e pensamentos”, referiu à Agência ECCLESIA o padre Pedro Rodrigues, da Missão Católica Portuguesa da capital britânica.
Para o sacerdote de 35 anos, a passagem do Papa pela cidade tornará especialmente visível um aspecto comum a todas as intervenções pontifícias, independentemente do local onde são proferidas: “Mais do que falar aos católicos, Bento XVI vai falar ao mundo”.
Os discursos e homilias do Papa estão a ser aguardados com curiosidade, relatou o capelão originário da diocese de Beja: “Há uma grande expectativa em relação ao que vai acontecer. Mesmo a nível dos comentadores da televisão, tem havido muito interesse em Bento XVI”.
“Da parte da Igreja há a esperança de que a viagem venha a ser muito positiva, acima de tudo para a cidade”, embora as ruas de Londres ainda não exibam “grandes manifestações visuais” alusivas à passagem do Papa, indica o padre Pedro Rodrigues.
“A Igreja Católica – explica – tem um grande trabalho, nomeadamente a nível de escolas e instituições e isso faz com que o Governo a olhe de uma maneira mais fiável do que tem sido até agora.”
A nível do diálogo ecuménico, as esperanças também são elevadas: verifica-se “um grande acolhimento por parte dos anglicanos e de líderes de outras Igrejas protestantes”, assinala.
Segundo o padre Pedro Rodrigues, a beatificação do Cardeal John Henry Newman, “o mais emblemático convertido do anglicanismo”, vai dar “um grande peso” à visita que começa esta Quinta-feira e termina no Domingo.
Referindo-se à abertura de Bento XVI aos anglicanos que pretendam converter-se ao catolicismo, o capelão frisa que o objectivo principal do Papa não reside no aproveitamento da insatisfação dos fiéis face às decisões relativas à ordenação de bispos homossexuais ou do sexo feminino, entre outras deliberações polémicas.
“A Igreja aceita aqueles que decidem converter-se “por causa da fé católica”, e não “por estarem descontentes” com as opções tomadas pelas comunidades eclesiais anglicanas, salientou.
A estadia de Bento XVI – a segunda de um Papa depois do rei Henrique VIII (1491-1547) e a primeira enquanto chefe de Estado – tem sido assombrada por “fantasmas”, no dizer do capelão, associados a questões como a pedofilia, homossexualidade e contracepção.
O padre Pedro Rodrigues, a viver em Londres há dois anos e meio, está convicto de que “a polémica vai estar sempre como pano de fundo em qualquer dos momentos da visita”.
“Cada palavra do Papa vai ser esmiuçada ao máximo”, afirma o sacerdote, que antecipa a realização de manifestações contra Bento XVI ao longo dos quatro dias da estadia.
A obrigatoriedade de aquisição de um ingresso no valor de 5 libras (quase 6 euros) para algumas celebrações também causou alguma controvérsia, amplamente divulgada na imprensa.
“Vai fazer-se uma leitura bastante negativa disso”, admite o padre Pedro Rodrigues, que no entanto minimiza as consequências dessa opção: “Diante do material que nos é dado – sacos com cd’s e folhetos informativos – não creio que isso seja grande tema de conversa. Mas claro, é por aí que as pessoas pegam”.
A Missão Católica Portuguesa já distribuiu todos os bilhetes que lhe foram atribuídos: três ingressos para a missa na catedral de Westminster e uma centena para a vigília de oração em Hyde Park, ambas no Sábado.
Segundo as estimativas do sacerdote, dois mil fiéis participam semanalmente nas missas celebradas na Missão Católica de Londres e no Centro dos Padres Scalabrinianos, também na capital britânica, havendo perto de 800 crianças e jovens na catequese.