Directora do Secretariado de Educação Cristã do Porto diz que catequistas gostam mais de soluções práticas do que estudar documentos da Igreja
A maior parte das crianças e jovens que conclui os dez anos de catequese indicados pela Igreja Católica fica aquém das expectativas no que se refere à adesão às práticas e valores do cristianismo.
“Hoje precisamos de repensar os caminhos da evangelização, atendendo a que chegamos aos 10 anos de catequese e são muito poucos aqueles que fizeram uma iniciação à vida na fé”, defende a directora do Secretariado de Educação Cristã da Diocese do Porto, Maria Isabel Oliveira.
Em entrevista concedida hoje à Agência ECCLESIA, a responsável recordou que os catequistas têm à disposição uma ampla gama de textos que podem contribuir para abrir novas perspectivas, mas frequentemente preferem ficar nas soluções imediatas e dispensar a reflexão.
“Temos documentos da Igreja que são muito elucidativos e que nos abrem caminhos. Importa lê-los e estudá-los, mas nem sempre os catequistas estão disponíveis para isso porque o mais simples é buscar ferramentas imediatas de resolução de problemas”, afirmou Maria Isabel Oliveira.
Depois de sublinhar a necessidade de “alterar mentalidades” em relação à transmissão da fé, a directora do Secretariado Diocesano lamentou o impacto negativo nas paróquias causado pela saída dos jovens das comunidades logo depois de concluírem os dez anos de ensino.
Criar laços com a família
“A Catequese ao serviço da Evangelização” foi um dos seis cursos que integraram o programa das 6.ªs Jornadas de Verão de Formação de Catequistas e Outros Educadores, realizadas entre 16 e 18 de Julho no Porto.
A iniciativa contou com a presença de 220 catequistas, incluindo participantes de cinco dioceses do continente e das ilhas, número que no entender da responsável fica abaixo do esperado, embora seja explicável pela exigência da formação, que ocupou 13 horas do fim-de-semana.
Dos cursos apresentados, os que reuniram maior adesão foram “Novas famílias, novos problemas: como acompanhar crianças de meios desestruturados” e “Eu e o Outro: a arte de comunicar e de se relacionar”.
“Penso que estas temáticas têm muito a ver com as dificuldades que se vivem a nível catequético e social”, nomeadamente “a dificuldade de criar laços e de nos compreendermos mutuamente”, afirmou Maria Isabel Oliveira.
Segundo a directora, a educação cristã só é possível “quando se tem em conta a realidade” das crianças e jovens.
Além de estabelecer relações dentro dos grupos de catequese e entre eles e a comunidade que os acolhe, é importante criar laços com as famílias “para que a evangelização possa ser efectiva”.
“Caso contrário – adverte Maria Isabel Oliveira – é impossível anunciar uma boa notícia a uma criança durante 50 minutos ao longo da semana, e no resto do tempo ela estar numa família que não tem nada a ver com essa dinâmica”.