Visita do Papa a Portugal deve ter consequências

Viagem de Bento XVI ofereceu «um renovado impulso espiritual» e apontou prioridades para a Igreja

O acolhimento a Bento XVI durante a sua estadia em Portugal e as implicações, na Igreja e no país, das palavras que proferiu durante a visita marcam o dossier que a Agência ECCLESIA apresenta esta semana.

O presidente do Centro Regional do Porto da Universidade Católica, Joaquim Azevedo, considera que a viagem de Bento XVI ofereceu “um renovado impulso espiritual” e apontou duas prioridades para as estruturas eclesiais: serem capazes de “chegar aos corações” e manterem a certeza de que a sua acção deriva de Deus.

O professor universitário contrapõe duas realidades de sinais opostos que ocorreram durante a visita do Papa: “o anúncio, por parte do Governo, de medidas muito difíceis e penalizadoras, sobretudo para os mais pobres” e a celebração da missa no Porto, momento assinalado por uma “beleza” que abre “horizontes de plenitude, confiança e paz”.

“Onde moram a esperança e a confiança que habitam cada um de nós?”, questiona Joaquim Azevedo, sugerindo que “talvez, nunca como hoje, este país precise da Igreja e da actualização da sua Vocação.”

Para o presidente do Centro Nacional de Cultura, “foi evidente a preocupação de Bento XVI falar para fora e não para dentro da Igreja – abrindo horizontes e assumindo claramente um diálogo com a modernidade”.

Se é verdade que o Papa “falou da influência do laicismo, não deixou de enfatizar a existência de um universo ético e de um ‘ideal’ a cumprir no relacionamento com o resto do mundo”, refere Guilherme d’Oliveira Martins.

“Essa atitude dialógica deve, porém, fazer-se sem ambiguidades e com respeito por todos”, adverte o autor, que sublinha a demarcação do Papa face ao relativismo e a valorização que ele faz da “existência da cultura do outro” e do enriquecimento proporcionado através “do bem, da verdade e da beleza”.

Manuel Pinto acompanhou como jornalista a primeira viagem de João Paulo II a Portugal, em 1982, e uma das principais diferenças que verificou entre as duas visitas foi o “profissionalismo” dos meios de comunicação social e dos “organizadores a lidar com os media”.

“Outra nota – prossegue o professor da Universidade do Minho – tem que ver com o cuidado posto na linguagem estética das celebrações. Muito há, ainda, que melhorar, mas houve soluções bem conseguidas. E isso, do ponto de vista comunicacional é marcante.”

Ao analisar a cobertura por parte da televisão, Manuel Pinto acentua que “a lógica dominante continua a ser pautada por bastante preconceito e significativa ignorância”, salientando que “o jornalismo sai a perder quando vemos que estas multidões que se juntam para celebrar a fé (e, no caso, contactar de perto com o Papa) não têm gente à altura para as informar, contextualizar e interpretar o fenómeno”.

João Wengorovius Meneses começa por analisar a “crise económica, financeira, social e, também, política e moral” que desde 2008 afecta a maioria dos países desenvolvidos, reflectindo seguidamente sobre a influência que as palavras do Papa podem exercer sobre a actual conjuntura.

“Por si só – escreve o presidente da TESE – uma mensagem de esperança já seria um contributo importante para o combate à crise. Mas julgo que a visita de Bento XVI nos deu um contributo maior. Num contexto de crise espiritual – e será esta, porventura, a raiz de todas as outras –, a visita de Bento XVI mobilizou cada católico, senão mesmo cada português, para dias de rara beleza e verdade, de desafio e inspiração.”

O autor da obra “O Peixe Amarelo – Pistas Para um Mundo Melhor” recorda a resposta dada por uma rapariga depois da missa celebrada no Porto, quando questionada por um jornalista acerca do que sentiu: “’Foi como se o Papa tivesse olhado para cada um de nós.’ Pois é nesse olhar que começa o fim da crise – porque nos devolve a confiança de Pedro e nos lembra que a história de cada um é única, mas o nosso destino comum.”

O chefe de redacção da Agência ECCLESIA, Octávio Carmo, que acompanhou o voo papal de e para Roma, conta que desde a partida de Itália “o ritmo foi sempre frenético e os temas variados, da questão da pedofilia na Igreja à regulação dos mercados, passando pelo segredo de Fátima ou as relações entre tradição católica e secularismo em Portugal, no marco do centenário da República”.

No entender do repórter, “a abordagem que cada uma destas questões merecia variava em função do ângulo mais ou menos internacional que cada jornalista lhe quis oferecer, mas em solo luso foi evidente que a agenda era marcada pelas palavras do Papa e pela manifestação do povo português que respondeu “presente” aos encontros com ele”.

Octávio Carmo ressalta que as palavras de Bento XVI “merecem uma leitura atenta, pessoal e colectiva, com consequências práticas na Igreja e na sociedade”.

O reitor do Santuário de Fátima, Pe. Virgílio Antunes, está convicto de que “o facto do Papa se apresentar como peregrino tem uma importância muito grande” porque é uma maneira de se “aproximar de todas as pessoas que lá estavam e que por lá passam”.

O sacerdote qualifica de “inesquecíveis” os momentos de silêncio de Bento XVI na Capelinha das Aparições e declara que foram desfeitas as dúvidas de “muitas pessoas” quanto à sua devoção mariana: “Ficou demonstrado esse amor do Papa a Nossa Senhora”.

Por outro lado, realça o Pe. Virgílio Antunes, Bento XVI “chamou à mensagem de Fátima a mais profética dos últimos tempos”, referindo que ela “não está encerrada” e que, por isso, “não pode fechar-se na relação com um ou outro acontecimento da história”.

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Agência ECCLESIA

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