Transição que fica para a história

No virar de muitas páginas, cresce o número dos que analisam o pontificado de Bento XVI e apontam como qualidades o que antes pareciam ser fragilidades

A idade do Cardeal Ratzinger aquando da eleição pontifícia ditou, por esse único indicador, sentenças que se foram generalizando: será um pontificado de transição.

Aos seus 78 anos, assinalados em período de sede vacante, juntava-se o facto de Joseph Ratzinger ser número dois de João Paulo II e a referência doutrinária de todo um pontificado marcado pelo justo protagonismo do Papa polaco.

Passados cinco anos, impõe-se uma certeza: o pontificado de Bento XVI responde aos desafios que emergem do juízo da história lançado sobre os que decidiram seguir os passos de Cristo, corres-ponde ao exercício de uma liderança religiosa de acordo com as exigências sociais dos tempos em que vivemos e está em sintonia com as questões e a busca de sentido da vida pela pessoa humana, incontornável em qualquer indivíduo, em qualquer tempo.

Na mediatização de todas as mensagens, indivíduos e grupos absorvem imagens, as primeiras imagens que se oferecem sobre pessoas ou acontecimentos. Também as do Papa.

Nos dias que correm, na espera de Bento XVI, são essas as imagens, as que primeiro foram mediatizadas, que percorrem opiniões ditas. Nem sempre as pensadas. Mas as proclamadas, embaladas no facilitismo aparente de querer estar em sintonia com maiorias.

No virar de muitas páginas, cresce o número dos que analisam o pontificado de Bento XVI e apontam como qualidades o que antes pareciam ser fragilidades. Seriedade intelectual, busca da verdade, operacionalização das decisões, coerência, assunção de culpas, determinação na configuração de tudo e de todos com o exemplo de Jesus Cristo. É nessa esteira que tem de se compreender o pontificado de Bento XVI. Também na capacidade demonstrada em perscrutar valores e projectos que ficam para a história, mesmo quando não motivam popularidade imediata.

A partilha destas opiniões de imediato esbarram com questões clássicas, que pintam o estandarte de muitos debates, e que não se podem excluir da recriação da experiência cristã em cada tempo. É, no entanto, do actual Papa, pelos contributos que ofereceu à Igreja Católica como professor e como Cardeal, que se colhe uma certeza: não é por questões de moda, a favor ou contra, que todos os debates são assumidos; antes por se imporem a quem procura, sem rodeios e livre de condicionalismos, descobrir a Pessoa de Jesus Cristo e viver de acordo com a Sua Mensagem.

Os dias em que Bento XVI está entre nós podem ser uma oportunidade para descobrir essa ousadia do actual Papa.

Paulo Rocha

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Agência ECCLESIA

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