Homilia do Bispo do Funchal no Domingo de Ramos – 25.º Dia Mundial da Juventude

Olhar a vida, à luz do Mistério Pascal do Senhor

A celebração do Domingo de Ramos, que marca o início da Semana Santa ou Semana Maior, evoca a entrada solene de Jesus em Jerusalém, para o culminar da Sua missão redentora. No monte das Oliveiras, numa atmosfera de grande entusiasmo, Ele é aclamado como Rei e intensifica-se aí o processo que O conduzirá à Cruz e à Sua glorificação. De facto, o Hossana do Domingo de Ramos e a proclamação da Paixão condensam, antecipadamente, na liturgia de hoje, o mistério da paixão, morte e ressurreição de Jesus, que celebraremos durante esta semana, desdobrando os seus diversos aspectos, no Tríduo Pascal.

A Igreja Universal, desde há 25 anos, celebra também, neste domingo, a Jornada Mundial da Juventude, razão pela qual terei uma palavra especial para os jovens.

O Messias Servo

Cristo, em obediência ao Pai e por amor à Humanidade, entrega-Se voluntariamente à morte para a salvar. Apesar de ser aclamado triunfalmente pela multidão em festa, na Sua humildade e mansidão, Ele escolhe os sinais da pobreza para revelar o verdadeiro Rosto de Deus. É que, ao contrário do triunfalismo, domínio e prestígio dos reis da terra, o Messias vem para servir e dar a vida pelo Seu Povo.

Queridos jovens e comunidade diocesana em geral: a procissão dos Ramos que realizamos, no início desta celebração, é manifestação da fé da Igreja em Cristo, Messias e Senhor. À semelhança dos meninos hebreus, dos discípulos e da multidão, nós acompanhamos, cantamos e aclamamos o Senhor, com alegria e entusiasmo, por todas as maravilhas que Ele fez e continua a fazer em nós e por nosso intermédio.

Assim escreve S. Lucas: “Estando já próximo da descida do Monte das Oliveiras, toda a multidão dos discípulos começou a louvar alegremente a Deus, em voz alta, por todos os milagres que tinham visto, dizendo: Bendito o que vem como Rei, em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas alturas!” (Lc 19,38). Tal como na noite do nascimento de Jesus em Belém, somos envolvidos pelo mesmo canto de louvor e de alegria, no início da semana em que celebramos o mistério da Páscoa redentora.

Vida que surge da Morte

Na verdade, a liturgia do Domingo de Ramos está permeada pelo mistério do sofrimento, da morte e da glória da ressurreição. É o mistério do Homem de todas as culturas e de todos os tempos, que o Verbo de Deus quis encarnar ao assumir a nossa natureza humana e a nossa história. Mas, como semente lançada à terra, que morre para ressurgir (cf. Jo 12,24), a Páscoa do Senhor esconde sementes de Vida Eterna e aponta caminhos de Alegria e de Esperança.

Na primeira leitura, Isaías, o grande profeta messiânico, anunciou os sofrimentos de Cristo de uma forma impressionante, que ainda hoje nos causa admiração e assombro: “…não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam, mas o Senhor Deus veio em meu auxílio” (Is 50, 6-7). O salmo 21, por sua vez, faz ressonância deste sofrimento enorme e do maior grito de dor saído do coração humano, que Jesus agonizante pronunciou na Cruz: “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?”(Mt 27, 46).

No anúncio da Paixão do relato evangélico que foi proclamado (cf. Lc 23,1-49), somos tocados pela bondade infinita de Cristo, o Filho Amado do Pai, manifestada em todas as situações dolorosas, até na traição dos amigos. Nesta escola de sublime e transcendente Amor, escutamos a voz humilde do silêncio de Cristo, calado diante dos inimigos, escarnecido e maltratado, mas firme e confiante, entregue nas Mãos do Pai, Sua única força e consolação. Como diz S. Paulo, na segunda leitura, Ele não Se valeu da sua igualdade com Deus, da sua condição divina, mas assumiu servir a Humanidade, “obedecendo até à morte e morte de Cruz” (Fl 2,8).

A ressonância desta Palavra de Vida é bem actual. Deus continua a iluminar o nosso coração, os nossos sonhos e os caminhos da história da humanidade, na procura do Bem, da Verdade e da Paz. Deus está presente e actuante na história do mundo e conduz cada pessoa pelos grandes ideais e valores, que apontam caminhos de Vida e de Eternidade.

25.º Dia Mundial da Juventude

Queridos jovens: como sabeis, celebra-se hoje o Dia Mundial da Juventude, instituído há precisamente 25 anos pelo Papa João Paulo II, como jornada anual a realizar nas Dioceses e, de tempos a tempos, como Encontro Mundial, em que o próprio Papa costuma participar. O próximo, que terá lugar no mês de Agosto de 2011, em Madrid, está a ser preparado, desde já, sob a coordenação do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil, em articulação com os respectivos Secretariados Diocesanos.

Nestes Encontros Mundiais sempre têm participado jovens da nossa Diocese e espero que, dada a proximidade de Espanha, seja ainda maior o número de jovens da Madeira e Porto Santo a preparar-se e participar naquela grande Jornada Mundial de Jovens com o Papa, contando, para esse efeito, com as indicações e o apoio do nosso Secretariado Diocesano de Pastoral Juvenil.

Para este 25.º Dia Mundial da Juventude, o Papa Bento XVI escreveu uma mensagem, retomando o tema já abordado em 1985, numa belíssima Carta de João Paulo II, a primeira dirigida aos jovens: “Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?” (Mc 10, 17). Referindo-se à instituição das Jornadas Mundiais da Juventude, Bento XVI considera-as “uma iniciativa profética que deu frutos abundantes, permitindo às novas gerações cristãs encontrar-se, pôr-se à escuta da Palavra de Deus, descobrir a beleza da Igreja e viver experiências fortes de fé, que levaram muitos a dar-se totalmente a Cristo”.

No seu todo esta mensagem de Bento XVI bem merece ser conhecida e aprofundada. Convido, por isso, todos os jovens dos Movimentos, Grupos Apostólicos, Catequeses e Escolas, os jovens em geral, a participarem no Encontro Diocesano da Juventude, que se realizará, para esse efeito, no dia 16 do próximo mês de Maio, por iniciativa e sob a responsabilidade do Secretariado e do Conselho Diocesano de Pastoral Juvenil.

Jesus Cristo, o maior Amor

Caros amigos: numa cultura desprovida de alguns valores fundamentais e que, muitas vezes, projecta os jovens para caminhos sem retorno, de tristeza e até de morte, gostaria de vos propor um ideal, que creio ser caminho de autêntica felicidade: é Jesus Cristo! Seja Ele o verdadeiro ideal da vossa juventude!

A vós, jovens, que sonhais um mundo melhor e mais justo, onde haja verdade, justiça, amor, solidariedade e alegria, abri sem medo os vossos corações a Cristo, o Redentor do Homem! Sede anunciadores da Sua maravilhosa Mensagem de Amor e de Paz, dando voz à Esperança, também através do uso frequente que fazeis das novas tecnologias digitais. Irradiai a alegria de viver e levai às vossas famílias, escolas, paróquias e à sociedade em geral, o verdadeiro Rosto de Deus, o Amor que salva, compreende e liberta; levai-o a todos, particularmente àqueles que mais sofrem.

E a terminar, queridos jovens, quero, também eu, interpelar-vos com as palavras de Bento XVI na sua Mensagem. Escreve ele: “Quem vive hoje a condição juvenil tem de enfrentar muitos problemas resultantes do desemprego, da falta de ideais e de perspectivas para o futuro. Apesar das dificuldades, não vos deixeis desencorajar nem renuncieis aos vossos sonhos! Pelo contrário, cultivai no coração desejos grandes de fraternidade, de justiça e de paz”.

E o Papa continua: “O futuro está nas mãos de quem souber procurar e encontrar razões fortes de vida e de esperança. Se quiserdes, o futuro está nas vossas mãos, porque os dons e as riquezas que o Senhor guardou no coração de cada um de vós, plasmados pelo encontro com Cristo, podem dar esperança autêntica ao mundo! É a fé no seu amor que, tornando-vos fortes e generosos, vos dará a coragem de enfrentar com serenidade o caminho da vida” (Mensagem, 7).

Estas palavras de compromisso e de esperança, valem para toda a gente e não apenas para os jovens. Olhando a vida, à luz do mistério pascal de Cristo, não nos faltará a vontade, a força interior e a coragem para caminharmos em frente, assumindo cada um as suas próprias responsabilidades, na construção de uma sociedade nova!

Funchal, 28 de Março de 2010

† António Carrilho, Bispo do Funchal

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