«Estado de Guerra»: O Primeiro Oscar de Realização no Feminino

Signis já atribuíra em Veneza o Prémio Ecuménico para Melhor Filme

Corrida mais uma noite de Oscars, muitos se afirmaram surpreendidos com os resultados da deliberação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Os mais pessimistas viram as seis estatuetas entregues a “Estado de Guerra” como a derrota de “Avatar”, enquanto os mais optimistas associaram a mesma meia-dúzia ao facto inédito de Kathryn Bigelow ser a primeira mulher a arrecadar o Oscar na categoria de Melhor Realizador… a.

Ainda que “Avatar” pudesse ter sido mais favorecido, estando em igualdade de circunstâncias nas categorias técnicas pelas quais “Estado de Guerra” foi premiado – com recursos técnicos distintos e diferenças fundamentais entre o clássico e o inovador, é certo, mas com o mesmo nível de qualidade -, é um facto que nos últimos anos a Academia tem primado por se descolar da forte pressão que envolve o chamado “caminho para os Oscars” – uma poderosa máquina comercial que invade a indústria cinematográfica e os media, com a internet à cabeça, desde o momento em que são divulgadas as nomeações.

Entre os surpreendidos com os resultados, estarão os que ignoraram a estreia do filme entre nós em Setembro passado e, certamente, os que não apostaram mais e mais atempadamente na sua divulgação (embora se adivinhe agora uma proveitosa “segunda época” nos cinemas, mesmo o  DVD à porta…). Em nenhum destes se incluirá a Signis que desde que viu “Estado de Guerra” pela primeira vez em Veneza lhe deu o merecido valor, simbolizado pela atribuição do Prémio Ecuménico para Melhor Filme.

Não é de admirar, pois o tema do filme e o seu tratamento são profundos e poderosos: baseado nos relatos verídicos de um jornalista correspondente no Iraque que se encarregou de os adaptar a esta versão cinematográfica, este é um drama de guerra que acompanha o dia a dia de 3 soldados em missões de alto risco (desminagem) no Iraque.

Com ele mergulhamos no contexto real, cru e tenso das ruas armadilhadas do Iraque e no extraordinário contraste de força e fragilidade dos soldados. Sob uma pressão psicológica brutal, decorrente de um contexto de guerrilha urbana, conhecemos a importância de gerir, segundo a segundo, opções: momentos de risco total como o desactivar de bombas artilhadas de forma cada vez mais rebuscada, ou as relações com os civis com quem os soldados a par e passo se cruzam podendo aqueles passar, em menos de um segundo, de inocentes civis a inimigos mortais…

Kathryn Bigelow continua a ser a realizadora  capaz de se e de nos questionar sobre os valores por detrás das situações limite desencadeadas pelos ditames geo-políticos mundiais.

Sem procurar iludir a marca profunda e dolorosa que a Guerra do Iraque gravou na sociedade americana (e não só) fazendo deste filme um alvo apetecível ao público, a verdade é que o preterir de um produto comercial de envergadura em favor de um “discreto” como este, faz-nos pensar, e desejar, que a Academia esteja mais próxima do compromisso de valores éticos e artísticos e mais distante de uma agenda política. A tal se referiu a actriz premiada Mo’nique (de “Precious”) e a reacção dos convidados foi imediata e retumbante: um fortíssimo aplauso de aprovação!

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Agência ECCLESIA

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