Jornadas de Teologia decorreram na UCP/Porto com a presença de D. Manuel Clemente e Adriano Moreira
Os padres dos nossos dias são particularmente desafiados a uma nova presença no mundo, marcada pela “autenticidade e a motivação”, defendeu o Bispo do Porto.
O tema esteve em destaque nas Jornadas de Teologia organizadas pela Faculdade de Teologia da Universidade Católica (UCP/Porto) entre 8 e 11 de Fevereiro, subordinadas ao tema “No Ano sacerdotal, a reinvenção do Presbítero”.
Em declarações à ECCLESIA, D. Manuel Clemente frisou que o lugar da Igreja mudou, porque já não “organiza tudo” como em séculos passados, e hoje “tem de se reinventar naquilo que foi a sua origem”.
Aos padres, acrescenta, compete participar “como cidadãos numa sociedade que é comum, crentes e não crentes, e ajudem os outros cristãos a fazê-lo cada vez mais, de maneira empenhada”, atentos ao “apelo da transcendência”.
Adriano Moreira, por seu lado, considerou que estamos numa época em que “as humanidades são secundárias em todos os sectores”, pelo que este é o “momento de lutar” para que elas “voltem a ter a função indispensável, não apenas para a defesa de uma sociedade civil harmoniosa, mas também porque há um património imaterial da humanidade e esse património em grande parte é resultado da pregação cristã”.
Segundo o professor e antigo deputado, esta realidade exige ao sacerdócio, uma “exemplaridade pública”, utilizando “o poder do Verbo contra o verbo do Poder”. O futuro, acrescentou, é “sempre desafiante” e deve ser enfrentado “com autenticidade”.
Na sua intervenção nas Jornadas, o Bispo do Porto considerou que no decreto Presbyterorum Ordinis, sobre o ministério e a vida dos sacerdotes, ecoam “claramente” os aspectos essenciais do pensamento da Igreja nos séculos transactos.
O texto, aprovado no decorrer do Concílio Ecuménico Vaticano II (1962-1965), refere que os padres são ministros da palavra de Deus, pelo que a devem ler e escutar “diariamente, para a ensinarem aos outros”.
O documento recorda que “é sobretudo no sacrifício da Missa que os presbíteros fazem de um modo especial as vezes de Cristo”. A união a Ele manifesta-se também na administração dos sacramentos e quando os sacerdotes guiam a comunidade que lhes foi confiada.
Para D. Manuel Clemente, a concretização destes princípios foi antecipadamente vivida por São Paulo, ao anunciar uma mensagem de vitória sobre a morte. Mesmo em ocasiões de adversidade, o Evangelho “causa alegria, levando ao serviço do Deus vivo e verdadeiro e à rejeição de toda a espécie de ídolos”.
À luz deste testemunho, o ministério sacerdotal “de ontem e de hoje” sintetiza-se numa “vida inteiramente repassada da qualidade novíssima que a ressurreição de Cristo trouxe ao mundo, levando os outros a igual condição.” “Não se pode viver o ministério em ‘lume brando’ nem em perspectiva habitual, do tipo ‘um homem como os outros’, assinalou o presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais.
Se faltar o “testemunho incarnado e pedagógico duma vida radicalmente convertida às ‘últimas coisas’”, poderão existir muitos elementos “‘humanamente’ úteis e razoáveis, mas não se tratará ainda de Igreja nem de ministério propriamente ditos”. D. Manuel Clemente defendeu ainda que a Igreja deve resistir a tudo o que não se orientar para as realidades posteriores à vida terrestre, mesmo que sejam compreensíveis e ‘razoáveis.
O Bispo do Porto afirmou também que a “tribulação” do sacerdócio ministerial e de toda a vida cristã é inevitável, “como tensão interior que a conversão alimenta”.
O Pe. Arlindo de Magalhães, professor de Teologia na UCP/Porto e pároco da Serra do Pilar, sublinhou que o actual tempo, de mudança, não é de “hecatombe”, mas de desafios. “Isso põe problemas aos presbíteros, que têm carregado com praticamente todos os ministérios na Igreja e hoje o seu ministério está preso a mil e uma coisa que não são essenciais”, lamentou.
A originalidade deste ano foi a integração entre as Jornadas de Teologia e a formação permanente do clero. D. Manuel Clemente explica que a Faculdade de Teologia tem a preocupação de “não só ministrar ensino e fazer investigação, mas também de a divulgar”.
Joaquim Azevedo, presidente do Centro Regional do Porto da UCP, refere à ECCLESIA que esta novidade é “muito importante”, porque a Universidade Católica não se limita à formação inicial, tendo a missão “intrínseca” de promover “a formação contínua e a actualização permanente do clero”.