Maior organização e comunhão na Igreja

Apelos de D. José Policarpo e António Pinto Leite na semana de Formação Permanente na Diocese de Coimbra

“O Padre de hoje, um servidor. De quem e como?” é o tema orientador da “Semana de Formação Permanente” dos sacerdotes da Diocese de Coimbra, a decorrer de 1 a 4 de Fevereiro, na Casa da Sagrada Família, na Praia de Mira.

D. Albino Cleto, na abertura desta semana de formação eclesial, destacando o objectivo principal desta jornada – reflectir sobre o sacerdócio – sublinhou: “Temos que ser padres para um tempo que já não é o mesmo de há dez anos para cá”.

O primeiro dia da Semana de Formação do Clero, que congrega cerca de 70 participantes, teve como oradores António Pinto Leite, advogado e vice-presidente da Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE) e do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José da Cruz Policarpo.

 “A Igreja está envelhecida, é conservadora e é mal amada”, disse António Pinto Leite, no início da sua comunicação, fazendo, deste modo, um breve retrato da Igreja, a forma como é vista de fora. O orador afirmou que há uma crise de vocações e os seus responsáveis têm reconhecer isso, tratando-se “de um problema ocidental, que afecta também a Igreja em Portugal”. “Igreja tem que ser um sinal dos céus, um sinal de salvação”, observou António Pinto Leite, frisando que “não me interessa que ela ganhe os debates na televisão, interessa-me sim, o que ela diz sobre os temas de actualidade e por vezes fracturantes”. O cronista do semanário Expresso afirmou que “a Igreja deve ser mais amada, mesmo nos meios católicos”.

Constatando que a Igreja não é uma entidade bem organizada, António Pinto Leite salientou que “a Igreja podia ser bem organizada, se os padres tivessem tempo para amar as pessoas que as rodeiam e tivessem mais tempo para acção pastoral”.

Para o dirigente da ACEGE, existe uma “atomização” no seio da Igreja, exemplificando esta expressão ao dizer que “os padres não reportam aos bispos e os bispos não comunicam entre si”. Porque, realça, “há também rivalidades entre paróquias ou párocos que não fazem sentido”, alertando que “em todas as organizações é igual, só que na Igreja vocês têm mais responsabilidade”.

“Evitem ser burocratas de Deus. A Igreja nunca poderá ser uma empresa, apesar de ter um accionista que é Deus, que nos pede constantemente resultados…”, afirmou António Pinto Leite, alertando para um risco muito grande que acontece na maioria dos padres: “é o facto de se acomodarem com a administração”.

O dirigente da ACEGE opinou para que as paróquias se organizassem, criassem secretariados, planificassem a actividade pastoral “porque a Igreja está num contexto de mercado, ou seja, tem que se adaptar ao mundo que está em constante mudança”. “A Igreja tem um grande adversário, e não é o Estado ou a maçonaria, mas sim a indiferença”, advertiu.

António Pinto Leite exortou os Padres de Coimbra que tivessem cuidado com os líderes sociais, sejam culturais, empresariais ou políticos, porque têm muita influência no mundo das organizações e da sociedade. Outro cuidado foi dirigido às redes sociais na Internet. “Como é que S. Paulo olharia hoje para o Facebook, o Hi5, o Twitter? A maior parte da nossa juventude não está na TV ou nos jornais, mas sim nas redes sociais”.

A concluir, António Pinte Leite motivou os presentes “que sejam mais padres e não digam que estão velhos e cansados. A idade é uma treta. Se for necessário, os mais novos que se cheguem à frente e ajudem os mais velhos”.

Maior comunhão eclesial

O Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, lembrou que “é preciso redescobrir o Concílio e o seu desafio de estar atento aos sinais que, apesar de tudo, nos vêm do seio desse mundo que mudou, a sugerirem o verdadeiro rosto da Igreja nesta nova etapa da missão”. E acrescenta: “Não se evangeliza esse mundo identificando-nos com ele e cedendo aos seus critérios, nem propondo-lhe formas de ser que já não o interpelam”.

 “A comunhão eclesial é fundamental na Igreja. Enquanto houver alguns, bispos e padres, que se consideram com o direito de decidir pela sua cabeça, os caminhos de pastoral, o sentido da existência moral, a maneira de celebrar, estamos a fragilizar a proposta cristã, num mundo que saberá aproveitar, com os seus critérios, as nossas divisões. A Igreja é hoje um todo global, perante um mundo globalizado”, referiu o prelado.

Para D. José Policarpo, o futuro da Igreja “ultrapassa as capacidades de visão e de decisão de cada um de nós”. E sublinhou: “o padre é chamado a pôr-se totalmente ao serviço da edificação da Igreja, com tudo o que é e tudo o que tem”. “É a mais bela realização da liberdade; é a dimensão em que o sacerdote se humaniza, exercendo o seu ministério, porque viver a vida como um dom, a Deus e aos irmãos, é a mais perfeita realização do ideal humano, num mundo retalhado de egoísmos e busca dos próprios interesses”, enfatizou o Patriarca de Lisboa, na sua conferência sobre “Fecundidade Apostólica do Presbitério”.

Referindo-se aos padres de hoje, D. José Policarpo realçou que muitos deles são “generosos no trabalho, desmultiplicam-se em actividades, como diz o povo, “trabalham que nem mouros”, mas permanecem egocêntricos quando reivindicam autonomia de critérios, na gestão dos afectos, no estabelecer de prioridades, na atitude perante os bens materiais”. E acrescenta: “Para se pôr tudo ao serviço, não basta trabalhar muito”.

Dia 2, a “Semana de Formação Permanente do Clero de Coimbra” teve como palestrantes D. Manuel Madureira Dias, Bispo Emérito do Algarve. Hoje, dia 3, intervêm João Carlos, Prof Universitário, Jacinta Paiva, professora; Rosa Alves Gonçalves, professora; José Manuel Fernandes, Professor.

O P. Vicente Neto Moreno, formador no Seminário de Évora, dia 4, encerra a semana de formação.

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Agência ECCLESIA

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