Religiosos e religiosas promovem semana de celebração e antecipam publicações pelo Centenário da República
Pela primeira vez no nosso país, a celebração da vida religiosa alarga os seus horizontes, passando da tradicional festa no dia 2 de Fevereiro para toda uma semana dedicada a esta realidade da Igreja Católica, entre 31 de Janeiro e 7 de Fevereiro, tendo como lema “Vida consagrada, solidária na esperança”.
D. António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro e Presidente da Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios (CEVM), escreve na sua mensagem para esta ocasião que “a vida consagrada revela-nos que só uma esperança activa se faz compromisso e vigilância. Sabemos em Quem acreditamos”.
“A alegria, o encanto, a beleza, a capacidade de entrega, o testemunho de felicidade, a audácia da missão, a valentia da generosidade e a heroicidade de vidas dadas no silêncio da contemplação ou na vanguarda da missão, desenham o rosto da consagração do nosso tempo”, assinala.
Este responsável faz questão de sublinhar que “os consagrados(as) não vivem alheios à realidade nem são insensíveis aos problemas, nem tão pouco se sentem intocáveis diante da fragilidade humana ou imunes perante o pecado”.
“São muitos, hoje, os pobres, os puros de coração, os oprimidos, os misericordiosos, os perseguidos por amor da justiça e os construtores da paz que nos lembram caminhos de bem-aventurança e nos oferecem modelos evangélicos de consagração. Deles é o Reino de Deus e para eles devem trabalhar os consagrados(as) com renovada e feliz alegria”, indica.
O presidente da CEVM considera que “os consagrados(as) são chamados para esta linha da frente na resposta às novas pobrezas, no acompanhamento solícito junto de quem procura Deus, no serviço exigente da educação, no diálogo lúcido com o mundo da cultura e na atenção fraterna dada aos que vivem afastados da fé ou apenas guiados pela razão e pela ciência”.
Neste Ano Sacerdotal, o Bispo de Aveiro considera que “tem primordial sentido voltarmo-nos para a vida e ministério dos sacerdotes, dos presbitérios diocesanos ou dos institutos religiosos, e neles descobrirmos o testemunho feliz e belo da fidelidade do padre radicada na fidelidade de Cristo”.
República
Apresentando esta semana, num texto escrito para o dossier da Agência ECCLESIA, o Pe. Manuel Barbosa, Presidente da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP), destaca o estudo encomendado pela CIRP, “Ordens e Congregações Religiosas no contexto da I República”, que vai ser editado pela Gradiva e lançado a 15 de Fevereiro em Fátima.
A obra foi coordenada pelos historiadores José Eduardo Franco e Luís Machado de Abreu, e teve o contributo dos próprios e dos investigadores João Francisco Marques, Nuno Estêvão Ferreira, António Araújo, Fernando Catroga, Augusto Moutinho Borges e Cristiana Lucas, procurando “o esclarecimento da verdade destes acontecimentos da história de Portugal, na qual se inserem a Igreja e as Congregações e Ordens Religiosas”.
Segundo o presidente da CIRP, esta obra torna-se ainda mais relevante na sequência de um recente estudo de opinião que os Institutos Religiosos encomendaram a uma competente empresa de planeamento e estudos de mercado (APEME), em 2009, sobre “o que os Portugueses pensam e sentem a respeito dos Religiosos. Estudo Qualitativo e Integração com Quantitativo”.
O estudo abordou variados pontos e apontou alguns desafios da sociedade aos religiosos e o que deles se espera, “como a coerência com o compromisso e a integração na contemporaneidade e no mundo, qual desafio à elevada presença e intervenção na sociedade”, escreve o Pe. Manuel Barbosa.
Ainda em 2010 irá decorrer o Congresso Internacional “Ordens e Congregações Religiosas em Portugal. Memória, Presença e Diásporas” (Fundação Gulbenkian, 2-4 de Novembro) e será editado o “Dicionário Histórico das Ordens: Formas de Vida Consagrada Católica em Portugal” (Maio).
Para além destas iniciativas conjuntas, os Institutos Religiosos “continuarão a entrever novas formas significantes de presença carismática, contribuindo para uma sociedade cada vez mais humanizada”.
Vivências
Além de mostrar a vivência concreta da esperança solidária no Haiti, o último dossier da Agência ECCLESIA sobre a Vida Consagrada apresenta vivências concretas desta opção.
Maria José Reis deixou tudo o que a maioria das pessoas espera na vida para se dedicar a uma paixão, a de ser religiosa contemplativa na Ordem de Santa Clara de Assis (Clarissas). Em entrevista, explica a sua opção pela clausura de forma simples: “Para eu ser professora, enfermeira ou educadora não era necessário ir para a vida religiosa”.
Explicando a sua vida de oração, defende que a clausura é sobretudo uma experiência espiritual: “Eu costumo dizer que o Amor não tem grades”.
“Aquilo que é necessário fazer lá fora, nós fazemos! Ir ao médico, à farmácia, exercer direitos civis e coisas que são necessárias à vida do mosteiro”, revela, afirmando mesmo que “a nossa resposta ao voto da pobreza é mesmo ir, não é esperar, por exemplo, que o médico venha cá, os ricos é que trazem tudo a casa”.
A religiosa defende que “os contemplativos também caminham, mas de uma forma diferente, somos o motor. Precisamos dos irmãos da vida activa porque eles são o conforto da nossa oração e é muito bonito estarmos a rezar e ouvirmos falar dos frutos de lá de fora”.
Pe. Álvaro Pacheco, português, Missionário da Consolata, vive na Coreia do Sul, onde é editor da revista “Consolata”, nascida em Abril de 1995, com o objectivo de trazer “a missão universal da Igreja e do nosso Instituto ao coração e interesse dos sul-coreanos”. “É com a revista que ocupo a maior parte do meu tempo. Esta oferece-me, por um lado, a possibilidade de comunicar e partilhar a missão com os nossos benfeitores e, por outro, o de aprender mais sobre a missão, através do exemplo de outros missionários e do contacto com os amigos coreanos que ao longo destes 13 anos Deus me foi oferecendo”, escreve.
O sacerdote salienta “o interesse e amor com que os nossos benfeitores sempre nos apoiaram. Destaco a «campanha missionária» que lhes apresentamos uma ou duas vezes por ano na revista: com eles apoiamos projectos vários do nosso Instituto, desde a África à América Latina, passando pela Mongólia. Não me canso de agradecer a Deus pelo dom da missão na Coreia, um desafio mais fascinante que difícil”.