Homilia de D. Januário Torgal Ferreira no dia do Patrono da P.S.P.

1. Os finais de Setembro e princípios de Outubro têm aproximado, mais que uma vez, a festa de S. Miguel Arcanjo, Patrono da P.S.P., de momentos eleitorais e, por isso, de opções políticas, em Portugal.

Que a Polícia de Segurança Pública urge ser defendida, respeitada e estimada, sendo de relevar que atitudes destas são condições dos deveres dos seus profissionais, é verdade aceite como tal.

Mas, simultaneamente, o clima político que, por razões de cidadania, fez coincidir algumas vezes a data 29 de Setembro com as proximidades de um acto cívico, evoca os deveres e exigências do Estado e de cada um dos seus cidadãos, quando usamos a palavra para traduzir a ciência da defesa e da segurança interna, que é obra e arte das mulheres e dos homens da PSP.

 

2. Escutámos na 1.ª leitura do Livro do Apocalipse: “Agora chegou a salvação, o poder e a realeza do nosso Deus e a autoridade do seu Ungido”, e, no Evangelho segundo S. João, o parecer de Jesus sobre Natanael:

“Este é um verdadeiro israelita em que não há fingimento”.

Sem duplicidade nem aproveitamento é fundamental proclamar a salvação, o poder e a realeza da justiça e da paz, bem ao contrário do que, mais de uma vez, fomos ouvindo.

Sem duplicidade, permitam-me dizê-lo: a PSP é importante, é venerada e é objecto, em numerosos casos, de declarações, não tanto por ela própria; ao contrário, pelos intuitos e objectivos, que são dos que dela falam.

O nome da PSP e a urgência da PSP são proclamados como quem invoca o nome de Deus em “vão”, ao salientar-se a sua função contra a vilania da loucura social, da violência sem peias, de uma agitação sem dique nem salvaguarda.

Estamos todos de acordo com os préstimos imprescindíveis, desta modalidade de segurança cívica, não esquecendo que, por muitos, é ignorada!

Restam-nos dúvidas no tocante à estratégia milimétrica, como quem se propusesse salvar uma cidade tendo a obrigação de colocar um anjo tutelar junto de cada cidadão. E afirmar lampejos quase místicos desta ordem é distorcer a realidade para imaginar uma linha de segurança interna inimaginável na ordem dos factos. Tanto é assim, ou seja, tão irreais e inimagináveis tais processos se nos apresentam, que, em várias circunstâncias, quem já desempenhou funções desse mando, não concretizou tais objectivos, não porque os ignorasse, mas, porque, na prática, deu-se conta de serem atitudes simplesmente pensantes ou verbais. Mesmo neste quadro de utopia, era importante perguntar a muitos responsáveis por que não accionaram o processo do aumento quantitativo de agentes policiais de proximidade, questionando sempre, quem de direito, se uma força concentracionária, assim planeada, deveria ter sido ou deverá ser sempre, o remédio último para figurinos imprevistos da banalidade do mal ou da desarticulação da ordem.

A emergência da pauperização, da exclusão, da tristeza de uma sociedade desumana, frutos da injustiça sistémica e do nihilismo que a civilização não soube nem quis evitar, constitui um combate de cidadania, onde certos incêndios ou são vencidos por todos, ou se remetidos aos cuidados de alguns heróicos bombeiros, só vêm provar a inabilidade de um todo social, onde os mais responsáveis se defendem, culpando outros, e esquecendo os verdadeiros operários da ordem.

A salvação, a harmonia e a paz da Polícia de Segurança Pública, cuja festa de Seu Patrono quase coincide com a festividade das eleições, manifestaram esta verdade conhecida como tal: as tensões existentes nos vários corpos de seus profissionais têm de encontrar soluções e responsabilizar as perspectivas políticas e sindicais, de que abundam porta-vozes e intérpretes. Parece-me. E pode acontecer que os enredos das discussões e das propostas nos façam esquecer a realidade.

No início de uma nova legislatura, a minha estima e respeito concretizam-se num voto muito realista: desejaria como bispo, como português e cidadão, que as várias leituras e representações dos problemas dos profissionais da Polícia de Segurança Pública encontrassem, nos próximos tempos, a tranquilidade, a justiça e o bem-estar por que lutam. A progressão nas carreiras, as oportunidades iguais, a confiança entre responsáveis, a solução económico-social, a promoção de uma vida sã e feliz na família, a esperança no futuro, o comportamento cívico sem mancha, a doação e o sacrifício, a luta contra a corrupção interna e externa da vida, são aspirações e metas. Tudo faremos o que está nas nossas mãos. E que Deus nos acrescente a virtude e a paz, longe de fingimentos e irrealismos.

 

Lisboa, Igreja da P.S.P., em Belas, 29 de Setembro de 2009

Januário Torgal Mendes Ferreira, Ordinário Castrense para Portugal

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