Francisco Perestrello destaca a atribuição da Palma de Ouro de Cannes a João Salaviza
Já anteriormente se referiu aqui a importância da curta-metragem na produção cinematográfica, mesmo que esta seja de muito difícil comercialização. Mas é certo que muitos cineastas de relevo iniciaram o seu treino com filmes curtos, o que lhes permitiu adaptarem-se à profissão sem necessidade do recurso aos orçamentos gigantescos exigidos, em geral, pelos filmes de fundo.
Vem isto sobretudo a propósito da recente atribuição da Palma de Ouro de Cannes de Curta-metragem a um cineasta português, uma distinção de grande importância que permitirá o acesso desde cineasta a uma carreira merecida em função do talento revelado nesta sua primeira obra.
Trata-se de João Salaviza, e é o seu filme «Arena» que marcou esta posição ímpar na projecção internacional do nosso cinema.
Depois de algumas experiências como actor, João Salaviza realizou a sua primeira curta, «Duas Pessoas», em 2004. Obteve então uma nomeação para melhor filme curto no Festival de Karlovy Vary, promessa agora concretizada em Cannes com «Arena», quando o autor conta apenas 25 anos.
Nos últimos anos o cinema tem ganho alguma variedade, sobretudo pela recuperação do documentário como filme viável para programas de fundo. A mesma sorte não tem tido a curta-metragem que foi, ao longo de muitos anos, complemento indispensável nas sessões de cinema. As raras tentativas de recuperação desse velho hábito têm fracassado, limitando-se a sua divulgação a festivais da especialidade ou mesmo edições de vídeo, como a levada a efeito pela FBF Filmes com duas unidades que réunem diversos trabalhos de autores portugueses.
«Arena», mercê da sua Palma de Ouro, tem a divulgação garantida; o que se deseja é que tal arraste muitas obras de limitada metragem mas que merecem que o público as conheça e as critique, dando, em muitos casos, apoio ao início de carreira de cineastas que poderão vir, no futuro, a marcar uma boa posição.
Francisco Perestrello