Adoração da Cruz, uma interrogação actual

“Nos dias de hoje parece não haver lugar para a resposta à pergunta de Pilatos” afirmou D. António Montes Às três horas da tarde de Sexta-Feira Santa, a Igreja celebra a morte de Cristo na Cruz. A esta hora, os cristãos reúnem-se para escutar e meditar nas leituras que se referem à Paixão de Jesus, nomeadamente o longo relato do Evangelho de S.João. Em seguida, apresentam ao Pai a oração pelos cristãos, judeus, crentes e não crentes, os que sofrem, as autoridades, etc. Nesta celebração, os fiéis exprimem a sua veneração pela Cruz de Cristo através de um beijo. Neste dia e até à Vigília Pascal do dia seguinte, em virtude da celebração da morte de Cristo, a Igreja não celebra qualquer sacramento, exceptuando a Reconciliação e a Unção dos Enfermos. No entanto, durante a celebração da Adoração da Cruz, os cristãos comungam do Corpo e do Sangue de Cristo, consagrado no dia anterior. Esta celebração decorreu em todas as paróquias da cidade de Bragança, mas foi na paróquia de S. João Baptista da Sé que D. António Montes presidiu. Na reflexão, o prelado centrou-se na questão que Pilatos fez a Jesus: “O que é a Verdade?”. Para o prelado, esta interrogação revela o cepticismo dominante em vastos sectores da alta sociedade romana no tempo do Império, designadamente da classe dirigente. Para estes, a religião era um verniz cultural que não forjava convicções sólidas. Para o bispo diocesano “Pilatos nem parece interessado na resposta à sua primeira pergunta, soa mais como comentário depreciativo à afirmação de Jesus:«nasci e vim ao mundo a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz»”. Segundo o Pastor da Diocese, o céptico deleita-se na dúvida pois a verdade não se perfila no seu horizonte daí a compreensão das hesitações e da cedência de Pilatos. No entanto, esta questão atravessou os séculos. “Também hoje largos sectores da sociedade aderem ao cepticismo em matéria religiosa e professam o agnosticismo”, acrescenta o bispo. Contudo, D. António Montes afirma respeitar e considerar o itinerário interior de muitos não crentes na sua busca da verdade. “Mas quantas vezes o agnosticismo é refúgio cómodo (aparentemente cómodo) que permite instalar-se na dúvida sem atender à obrigação moral de procurar a verdade em matéria religiosa?”, interrogou. O prelado considera que desta forma o sentido da vida – quem somos, donde viemos e para onde vamos – vai sendo adiada indefinidamente. “Neste panorama nebuloso, despreocupado e distraído impera o relativismo, ditadura do relativismo, como observou o Papa Bento XVI. Em tal horizonte, tão comum nos dias de hoje, parece não haver lugar para a resposta à pergunta de Pilatos”. A resposta a esta questão é o próprio Cristo que veio revelar a verdade de Deus e do homem. “De Deus, que é Pai de misericórdia e por isso enviou o Filho ao mundo para salvar o mundo; do Homem, que só se realiza plenamente vivendo na órbita de Deus”, reflectiu o bispo diocesano. D. António Montes terminou a homilia da celebração com a interpelação da questão de Pilatos. “Sem descer a casuísticas que nos podem afectar do essencial, o grande desafio é este: sermos cristãos verdadeiros. Verdadeiros, no nome e na realidade de vida, dentro e fora das quatro paredes da igreja. Considerando os sacramentos como encontro pessoal com Deus e momento privilegiado do compromisso cristão, e não apenas nem principalmente como acontecimento social”, concluiu. Alberto Pais

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