Papa condena emergência de formas de eugenismo

Bento XVI alerta contra discriminações de pessoas, povos ou etnias, tendo como base factores genéticos Bento XVI deixou este Sábado um alerta para as “novas formas” de eugenismo que surgem na humanidade, afirmando que “qualquer discriminação em relação a pessoas, povos ou etnias, tendo como base factores genéticos, é um atentado contra toda a humanidade”. Num discurso dirigido à Academia Pontifícia para a Vida, o Papa sublinhou que “a confiança na ciência não pode fazer esquecer o primado da ética, quando está em jogo a vida humana”. Esta Academia promoveu o Congresso intitulado “As novas fronteiras da genética e o risco de eugenética”. Evocando o caminho percorrido pela genética, desde que o abade agostiniano Gregório Mendel descobriu, em meados do século XIX, as leis da hereditariedade dos caracteres, Bento XVI sublinhou o “lugar de particular relevo que a genética moderna ocupa no seio das disciplinas biológicas que contribuíram para o prodigioso desenvolvimento dos conhecimentos sobre a arquitectura invisível do corpo humano e os processos celulares e moleculares que presidem às suas múltiplas actividades”. “Permanece ainda hoje muito aberto o âmbito da investigação e a cada dia se entrevêem novos horizontes em larga parte ainda por explorar. Nestes âmbitos tão enigmáticos e preciosos, requer especial apoio o esforço do investigador”, apontou. Para o Papa, é essencial evitar assim “o risco de um difuso reducionismo genético, que tende a identificar a pessoa exclusivamente com a referência à informação genética e às suas interacções com o ambiente”. “É necessário reafirmar que o homem será sempre muito maior do que tudo o que forma o seu corpo. De facto, o homem leva em si a força do pensamento, sempre em busca da verdade sobre si e sobre o mundo”, acrescentou. O Papa citou, neste contexto, Blaise Pascal, “um grande pensador que foi também um grande cientista”, que escrevia que o homem “é um junco pensante”. “Cada ser humano é, portanto, muito mais do que uma singular combinação de informações genéticas transmitidas pelos pais. A geração do homem nunca poderá ser reduzida a uma mera reprodução de um novo indivíduo da espécie humana, como acontece com um animal qualquer. Cada pessoa que surge no mundo é sempre uma nova criação”, prosseguiu. Bento XVI falou, neste contexto, dos riscos da eugenética, partindo das “inauditas formas de autêntica discriminação e violência” praticadas no passado. Na realidade, “a desaprovação em relação à eugenética utilizada com a violência de um regime de Estado ou fruto do ódio para com um raça ou uma população, está tão radicada nas consciências que encontrou expressão formal na Declaração universal dos Direitos do Homem”. No entanto, alertou, “também nos nossos dias surgem preocupantes manifestações desta odiosa prática, que se apresenta sob novos aspectos”. Segundo Bento XVI, “há que consolidar a cultura do acolhimento e do amor, que testemunham concretamente a solidariedade para com quem sofre, derrubando as barreiras que muitas vezes a sociedade eleva, discriminando quem é deficiente ou afectado de patologias, ou – pior ainda – chegando a seleccionar ou recusar a vida em nome de um ideal abstracto de saúde e de perfeição física”. “Se o homem é reduzido a objecto de manipulação experimental desde os primeiros estádios do seu desenvolvimento, isso significa que as biotecnologias médicas se rendem ao arbítrio do mais forte”, atirou. No início deste Congresso, o presidente da Academia Pontifícia para a Vida, D. Rino Fisichella, advertiu para o facto de, hoje em dia, existir efectivamente “o risco de uma deriva eugenética”, sobretudo em razão de “uma mentalidade que tende a difundir-se, lenta mas inexoravelmente”. “Nem tudo o que é cientificamente e tecnicamente possível é de lícito”, precisou, afirmando que não pode ser unicamente o cientista a traçar o confim entre o que é lícito ou não na sua investigação. A concluir, D. Rino Fisichella defendeu o princípio fundamental da inviolabilidade da pessoa, fruto de um dom gratuito de Deus: “O homem é devedor da sua vida. Ele saiu das mãos do Criador e a sua plena realização só se poderá concretizar com a condição de que ele se sinta a si próprio e construa a própria existência pessoal e social sem nunca querer substituir-se a Deus”. (Com Rádio Vaticano)

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