Em Ano Paulino, D. Manuel Clemente salienta que a busca de novas presenças são desafios intemporais para os cristãos Uma nova configuração no compromisso cristão e na evangelização é preconizado por D. Manuel Clemente. O Bispo do Porto pede que os cristãos, cada um reavivado “pela memória baptismal”, “fale a todos e estimule mais proximamente alguns, porque a dinâmica evangelizadora é a do «fermento na massa»”. Numa conferência proferida na Semana de Estudos Teológicos do núcleo da UCP em Braga e agora publicada pela página oficial da Diocese do Porto, o Bispo afirmou que também as dioceses e paróquias “terão de (con)viver cada vez mais em rede e abertura com outras agregações menores ou mais largas, com um ritmo muito mais acelerado de sugestão e notícia”. D. Manuel Clemente recorda que no actual contexto demográfico, “de multidões tão concentradas urbanisticamente como socialmente dispersas”, as comunidades constroem-se de outro modo. Na escola, no trabalho, no lazer ou nos media devem ser os novos “territórios que vão além da geografia física”. “A nova evangelização, como a primeira, não se fará por ocupação maciça do espaço mas por expansão dinâmica das (con)vivências”. As famílias num prédio ou num bairro, um movimento numa escola ou num meio sócio-profissional específico, uma presença nos media ou na Internet, “correspondem às cidades escolhidas pela argúcia evangelizadora de Paulo”. “Nas circunstâncias e necessidades actuais reencontramos aí a verdade e a projecção da Igreja”, assume o Bispo do Porto. “Manter e avivar as nossas comunidades é um tópico pastoral tão paulino como indispensável”, sublinha D. Manuel Clemente que indica como maior urgência pastoral dar “a quem procura ou a quem procuramos, a oportunidade de vislumbrar o que a sua existência pode ser, se for a de Cristo em si”. “Toda a paciência e persistência são necessárias, respondendo por vezes a solicitações impossíveis e a pedidos inoportunos”, acrescenta. Num paralelismo constante entre o contexto de São Paulo, que foi analisado nas Semanas de Estudos Teológicos, e o tempo actual, D. Manuel Clemente assinala a “tensão constante entre a religiosidade espontânea, que pretende sobretudo conservar o que está e a religião de Cristo, sempre fundada na Páscoa, como espantosa novidade”. O Bispo do Porto indicou que diariamente, “paróquia a paróquia, sector a sector”, “somos confrontados com questões idênticas às que Paulo levantava ou tentava resolver nas suas próprias comunidades”. Iniciação cristã, baptismos, crismas e comunhões, vida eclesial, matrimónio, sacramento da Ordem, consagração religiosa e laical, “tudo o que define o ser cristão, como existência para Deus enquanto filhos e para os outros como irmãos, na comunidade cristã e na sociedade secular”. D. Manuel Clemente recorda que, em Paulo, “tudo tem um ponto de partida absoluto: Cristo”. Da mesma forma, “com todo o acolhimento que devemos aos outros e às suas solicitações espontâneas e costumeiras, nada nos pode dispensar de apresentarmos Cristo e a novidade que Ele nos oferece e propõe: morte e ressurreição”. “As questões ditas «pastorais» são basicamente questões de identidade cristã”, aponta. O prelado acrescenta ainda que pastoralmente, “o desafio é hoje tão grande como o foi para Paulo, em relação às suas comunidades”. D. Manuel Clemente assinala que ler e ouvir Paulo “é constatar o esforço incessante da sua parte em evidenciar a novidade cristã a ouvintes muito propensos em retornar ao que antes conheciam, mesmo «religiosamente», ou ainda desejavam, muito «naturalmente»”. Recordando alguns pedidos que também endereçou ao clero do Porto, este responsável apontou o dever de “se alcançar comunidades de participação carismática e ministerial generalizada e não só de oferta por alguns e procura por outros de «serviços religiosos» para outros”. O Bispo do Porto denuncia a “predisposição natural” que espelha a crença de haver pessoas “destacadas para garantir a protecção divina ao comum dos mortais, dispensando os outros de responsabilidades efectivas”. “É fundamental que a iniciação cristã leve cada um dos membros das nossas comunidades à mesma experiência e ao mesmo compromisso evangelizador”, sublinha, indicando que, “não só por sermos poucos, os padres, mas porque a evangelização tem de ser feita local a local e meio a meio, de proximidade comum ou mediática, a cooperação de todos e cada um é imprescindível”.