Irmã Aparecida Queiroz, da coordenação dos projetos de emergência da Diocese de Pemba disse à Agência ECCLESIA que é necessário «agir o mais rápido possível»
Pemba, Moçambique, 16 dez 2024 (Ecclesia) – Irmã Aparecida Queiroz, da coordenação dos projetos de emergência da Diocese de Pemba disse à Agência ECCLESIA que é necessário «agir o mais rápido possível»
O bispo da Diocese Pemba, no norte de Moçambique, disse que ciclone Chido deixou “um enorme rasto de destruição”, fala num cenário “assustador” e pede a ajuda da comunidade internacional para com o povo de Cabo Delgado.
“Faço o apelo para todos aqueles que podem ajudar, para nos apoiarem aqui em Cabo Delgado a minorar este sofrimento. Eu agradeço antecipadamente qualquer tipo de apoio, qualquer tipo de ajuda que pode vir em socorro deste povo que agora ficou sem casa, sem teto, sem alimentação, sem água”, apelou D. António Juliasse, numa mensagem enviada à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
Em declarações à Agência ECCLESIA, a irmã Aparecida Queiroz, da coordenação dos projetos de emergência da Diocese de Pemba, defende que “é necessário agir o mais rápido possível”, alertando para o risco de propagação de doenças, devido à destruição.
“As pessoas em Cabo Delgado mais uma vez estão em completo sofrimento e a necessitar da mão solidária de todos. Não podemos ficar parados a ver pessoas a morrerem sem nada e com fome, doentes…”, advertiu.
O ciclone tropical Chido atingiu Moçambique na madrugada de domingo, provocando a morte a pelo menos três pessoas e causando a destruição de casas, infraestruturas, capelas e postes de eletricidade, deixando população sem água e energia em alguns distritos.
“De facto, é assustador ver que, em pouco tempo, os ventos fortes deixaram um enorme rasto de destruição. Até agora, apercebemo-nos que este ciclone tropical, Chido, na Diocese de Pemba, fustigou fortemente os distritos de Mecufi, Pemba, Ancuae, Chiúre e Namono”, relatou o bispo.
A irmã Aparecida Queiroz descreve que nas ruas da cidade de Pemba se vê “o cenário triste da força da destruição deixada pelo Chido”, como “árvores caídas, postes e fios pelo chão, chapas de teto espalhadas por toda a parte e um olhar de espanto e preocupação”.
Em Mecufi, Pemba, Ancuae, Chiúre e Namono, sobretudo nas zonas “um pouco distantes dos polos urbanos”, o bispo descreve que a população tem as casas construídas com materiais locais, habitações feitas de estacas e “embatocadas com barro e com cobertura de capim” e que “boa parte delas, estão agora parcial, ou totalmente destruídas”.
“As pessoas mais simples nestes distritos que eu mencionei ficaram praticamente sem habitação nestes dias e perderam também os poucos bens que tinham dentro das suas casas, porque as chuvas mantiveram-se intensas durante muito tempo”, referiu.
Algumas famílias tentaram encontrar refúgio nas salas de aula, indica o bispo diocesano, e correram o risco de ver também os tetos voar por causa dos ventos.
D. António Juliasse fala numa situação “muito difícil” e de “emergência” que vivem famílias que ficaram sem casa, na cidade de Pemba e nos outros distritos afetados. “São famílias de baixa renda, que viviam com o mínimo e agora nem sequer abrigo têm”, assinala em declarações enviadas pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), revelando que a grande preocupação que tem como bispo é com o futuro destas populações, nomeadamente no que toca à reconstrução das casas. “Por enquanto, precisam de ter alguma lona para fazer um abrigo mais simples, para poderem colocar as poucas coisas que ainda têm e também, certamente com isso, está o problema da fome, o problema da água potável, etc”, realçou. Esta madrugada, D. António Juliasse falava que ainda não tinha sido feita a quantificação de pessoas com necessidades e que este é um trabalho a desenvolver “rapidamente nos próximos dias, envolvendo a Cáritas e o setor de emergência da diocese”. “No entanto, as destruições são muitas. Mesmo ao nível das infraestruturas da nossa diocese de Pemba, nós temos perto de meia centena de igrejas, entre igrejas da sede paroquial e as igrejas das comunidades cristãs destruídas”, indica o bispo diocesano, acrescentando que escolas foram também afetadas, com “tetos praticamente fora do lugar, que voaram, que estão no chão ou destruídos”. O responsável católico destaca que “em Chiúre, a Fazenda de Esperança também tem as suas instalações com os tetos, todos eles danificados”. D. António Juliasse assinala que mais uma vez o povo de Cabo Delgado está submetido ao sofrimento: “Para além do sofrimento da guerra, agora aparece este sofrimento”. |
Na missão de Ocua, a irmã Aparecida Queiroz indica que “a igreja da sede paroquial teve parte do teto arrancado, árvores destruídas e várias vias de acesso impedidas”.
“Centenas de casas da população totalmente destruídas. Famílias estão a ser acolhidas na parte da igreja em que o teto não caiu”, afirmou.
“O Chido com uma força destruidora gerou dor e desespero para a população de Cabo Delgado. Exatamente no momento em que as famílias começaram a fazer as plantações na esperança de colher algo, o ciclone destrói a casa, leva os poucos bens materiais e toda a pouca comida (mandioca seca na maioria) que era esperança de não passar o Natal com fome”, lamenta a religiosa.
“O que será de nós? Perdemos tudo… nossa casa deitou no chão”, é “a expressão repetida por centenas de pessoas”, ressalta a irmã Aparecida Queiroz.
A comunidade católica está a reunir todos os esforços para atender as necessidades mais urgentes das pessoas que, realça a religiosa, neste momento, “é a manutenção da vida”.
“Mesmo com infraestruturas destruídas, as paróquias e comunidades religiosas têm acolhido as pessoas nos espaços que tem um pouco de proteção. Seja as próprias casas nos espaços ainda com segurança, escolas e igrejas”, refere.
Além disso, a igreja católica em Moçambique tem “mobilizado a todas as pessoas e grupos conhecidos para que sejam solidários com Cabo Delgado”.
LJ/PR
Notícia atualizada às 17h12