Sínodo 2024: Papel das mulheres e processo de decisão dos bispos entre os temas que dividiram participantes

«Não há nenhuma razão para que as mulheres não assumam papéis de liderança na Igreja: o que vem do Espírito Santo não pode ser impedido» – documento final

Foto: Agência ECCLESIA/OC

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 26 out 2024 (Ecclesia) – O documento final da XVI Assembleia Geral do Sínodo, aprovado na totalidade dos seus 155 pontos, dedicou um número específico ao ministério das mulheres, o qual mereceu o maior número de votos contra.

“Não há nenhuma razão para que as mulheres não assumam papéis de liderança na Igreja: o que vem do Espírito Santo não pode ser impedido. A questão do acesso das mulheres ao ministério diaconal também permanece em aberto. É necessário um maior discernimento a este respeito”, refere o ponto 60 do texto conclusivo, que recebeu 258 votos a favor e 97 contra.

Os pontos do documento final precisam de uma maioria de dois terços para a sua aprovação (mínimo de 237 votos a favor, nesta votação).

A assembleia sinodal, cuja segunda sessão decorre desde 2 outubro, com o tema ‘Por uma Igreja sinodal: participação, comunhão, missão’, começou com a auscultação de milhões de pessoas, pelas comunidades católicas, em 2021; a primeira sessão da XVI Assembleia Geral do Sínodo decorreu em outubro de 2023.

O documento final regista que “as mulheres continuam a enfrentar obstáculos para obter um reconhecimento mais pleno dos seus carismas, da sua vocação e do seu lugar nas diversas esferas da vida da Igreja, em detrimento do serviço à missão comum”.

Os participantes destacam os vários contributos das mulheres, das famílias à investigação teológico, bem como “em posições de autoridade ou como líderes comunitárias”.

“Esta Assembleia apela à plena implementação de todas as oportunidades já previstas na lei atual relativamente ao papel das mulheres, particularmente nos lugares onde estão por cumprir”, pode ler-se.

O documento final realça que “numa Igreja sinodal missionária, é necessário promover mais formas de ministérios laicais, isto é, ministérios que não requerem o sacramento da Ordem, e não apenas no âmbito litúrgico”.

O texto propõe “uma participação mais ampla dos leigos e leigas nos processos de discernimento eclesial e em todas as fases dos processos de decisão”, bem como “um acesso mais alargado a cargos de responsabilidade nas dioceses e instituições eclesiásticas”.

Nem todos os carismas devem ser configurados como ministérios, nem todos os batizados devem ser ministros, nem todos os ministérios devem ser instituídos. Para que um carisma seja configurado como ministério, é necessário que a comunidade identifique uma genuína necessidade pastoral”.

O ponto 92, com 39 votos contra, aborda a “competência decisória do bispo, do Colégio Episcopal e do bispo de Roma [Papa]”, sublinhando que a mesma “é inalienável”, mas “não é incondicional”.

“Não se pode ignorar uma orientação que surge no processo consultivo como resultado de um discernimento correto, sobretudo se levado a cabo pelos órgãos de participação. Uma oposição entre consulta e deliberação é, portanto, inadequada”, indicam os participantes.

O texto defende “processos de decisão caracterizados por um estilo mais claramente sinodal”, indicando que “na Igreja, o exercício da autoridade não consiste na imposição de uma vontade arbitrária”.

“A tomada de decisão não encerra o processo de decisão. Ela deve ser acompanhada e seguida de práticas de prestação de contas e de avaliação, num espírito de transparência inspirado em critérios evangélicos”, propõe o texto.

A fórmula recorrente no Código de Direito Canónico, que fala de um voto meramente consultivo (tantum consultivum), deve ser reexaminada para eliminar possíveis ambiguidades. Por isso, parece oportuna uma revisão das normas canónicas em chave sinodal, que clarifique tanto a distinção como a articulação entre consultivo e deliberativo, e esclareça as responsabilidades de quem participa nos processos de decisão nas suas várias funções”.

Ainda relativamente ao ministério episcopal, a Assembleia Sinodal assinalou o desejo de que “o povo de Deus tenha mais voz na escolha dos bispos”.

Francisco promulgou o documento final e envia-o agora às comunidades católicas, sem publicação de exortação pós-sinodal, uma possibilidade prevista na constituição apostólica ‘Episcopalis communio‘ (2018).

O ponto 27, outro dos números com mais de 30 votos contra, sugere o aprofundamento da “ligação entre liturgia e sinodalidade” para “adotar estilos celebrativos que manifestem o rosto de uma Igreja sinodal”.

Os participantes sugerem a constituição de um Grupo de Estudo específico, sobre “o modo de tornar as celebrações litúrgicas mais expressivas da sinodalidade; poderia ocupar-se também da pregação dentro das celebrações litúrgicas e do desenvolvimento de uma catequese sobre a sinodalidade”.

Fotos: synod.va/Lagarica

O ponto 78, com 33 votos contra, aborda a proposta de criação de um ministério da escuta e do acompanhamento, com várias possibilidades para o mesmo, como a sugestão de que seja “orientado para o acolhimento daqueles que estão à margem da comunidade eclesial”.

Outro ponto que mereceu vários votos contra (37) foi o número 137, que propõe a criação de um conselho de patriarcas, arcebispos maiores e metropolitas das igrejas católicas orientais presidido pelo Papa, como “expressão de sinodalidade e um instrumento para promover a comunhão e a partilha do património litúrgico, teológico, canónico e espiritual”.

“O êxodo de muitos fiéis orientais para as regiões de rito latino corre o risco de comprometer a sua identidade”, advertem os participantes, sugerindo a “convocação de um Sínodo especial para promover a consolidação e o renascimento das Igrejas Católicas Orientais”.

Com 40 votos contra, o ponto 148 pede que “os percursos de discernimento e de formação dos candidatos ao ministério ordenado sejam configurados num estilo sinodal”.

“Isto significa que devem incluir uma presença significativa de figuras femininas, uma inserção na vida quotidiana das comunidades, uma educação para a colaboração com todos na Igreja e para a prática do discernimento eclesial”, acrescentam os participantes.

O Sínodo dos Bispos, instituído por São Paulo VI em 1965, pode ser definido, em termos gerais, como uma assembleia de representantes dos episcopados católicos de todo o mundo, a que se juntam peritos e outros convidados, com a tarefa ajudar o Papa no governo da Igreja.

No número 136 do documento final (37 votos contra), destaca que o Sínodo, “embora conservando a sua natureza episcopal, viu e continuará a ver a participação dos outros membros do Povo de Deus”.

A segunda sessão desta Assembleia Sinodal teve 368 membros com direito a voto, dos quais 272 bispos; à imagem do que aconteceu 2023, houve mais de 50 votantes mulheres, entre religiosas e leigas de vários países.

OC

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) foi representada pelo seu presidente, D. José Ornelas, e por D. Virgílio Antunes, vice-presidente do organismo.

O cardeal Américo Aguiar, bispo de Setúbal, participou na segunda sessão da Assembleia Sinodal por nomeação do Papa Francisco; já o cardeal Tolentino Mendonça participou na sua condição de prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação (Santa Sé).

Além dos quatro responsáveis portugueses, estiveram também nesta segunda sessão, o padre Miguel de Salis Amaral, docente da Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em Roma, integrando o grupo de peritos (teólogos, facilitadores, comunicadores); o padre Paulo Terroso, da Arquidiocese de Braga, e Leopoldina Simões, assessora de imprensa, no grupo dos assistentes e colaboradores.

 

Sínodo 2024: Papa encerra trabalhos reforçando apelo a Igreja «sem muros» e aberta a «todos, todos, todos» (c/fotos)

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Agência ECCLESIA

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