Ambiente/Ecologia: «O Tempo da Criação nunca devia terminar», afirma frei Hermínio Araújo (c/ video)

Frade franciscano lembra que «a Casa Comum é de todos os seres, e não apenas uma questão de sintonizar com os movimentos ecológicos»

Lisboa, 04 out 2024 (Ecclesia) – Frei Hermínio Araújo afirmou hoje que  Tempo da Criação, a celebração ecuménica, entre 1 de setembro e 4 de outubro, ’ “nunca devia terminar” e devia ser um “tempo concreto para sensibilizar”, uma “alavanca” para o resto do ano.

“A ‘Casa Comum’ é de todos os seres e o ser humano, e não apenas só uma questão de sintonizar com os movimentos ecológicos. É muito para além”, disse o sacerdote do Convento do Varatojo, esta sexta-feira, em entrevista à Agência ECCLESIA.

Frei Hermínio Araújo explica que há determinados movimentos ecológicos, “às vezes com algum radicalismo”, que fazem com que, “às vezes, as Igrejas, e nomeadamente a Igreja Católica, e alguns católicos, achem que isto não é coisa para eles”.

“E a perspetiva evangélica de Francisco de Assis, da Bíblia no seu conjunto, não nos leva para aí, levam-nos para algo muito mais consistente, e a palavra é teológico. Há aqui um motivo teológico”, desenvolveu.

‘Ter esperança e agir com a Criação’ é o tema do ‘Tempo de Criação’ 2024, um tempo ecuménico que une Igrejas e comunidades cristãs de todo o mundo, que se realiza anualmente entre 1 de setembro e 4 de outubro, começa no Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação e termina na festa litúrgica de São Francisco de Assis.

O frade franciscano destaca que o Papa Francisco, na mensagem para o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, escreve que “sem dúvida nenhuma, está aqui em causa uma perspetiva ética”, mas também utiliza uma expressão para si “é muito mais significativa”, que “está em causa, sobretudo, uma dimensão teológica”.

“A salvaguarda da criação não é apenas uma questão ética, mas é eminentemente teológica: na realidade, diz respeito ao entrelaçamento entre o mistério do homem e o mistério de Deus”, escreve o Papa.

Segundo frei Hermínio Araújo, “está em causa uma visão da vida”, uma visão do mundo e da vida, “uma visão depois de onde é que esse mundo e a vida, com que realidades, é que isso se articula” e, aqui, entra a dimensão da transcendência, “da criação unida ao Criador”.

“Há este sentido de transcendência, esta dimensão teológica de perceber que tudo isto se relaciona muito para além daquilo que são as nossas preocupações e os nossos problemas de hoje. Temos que pensar no futuro a partir de uma regra muito mais abrangente”, destacou.

Para o guardião do Convento franciscano do Varatojo, em Torres Vedras (Patriarcado de Lisboa), o ‘Tempo da Criação’ “nunca devia terminar”, o período entre 1 de setembro e 4 de outubro seria um “tempo concreto para sensibilizar, que devia ser uma alavanca para todos os dias, todos os tempos”.

“Um modo de vida, e, talvez, que isto começasse a pegar também numa outra perspetiva, e não só a questão ecológica, o cuidado, mas fazer disto cultura”, indicou, no Programa ECCLESIA, transmitido na RTP2.

O entrevistado observa que, neste ‘Tempo da Criação’, “uma grande parte das iniciativas” são as celebrações, há também conferências, outro tipo de gestos e as ações, mas é preciso que vá “passando cada vez mais a uma cultura”, e uma cultura, “tem que ser feito todos dias, às vezes, falar menos”.

O sacerdote franciscano afirma que é um bom “ponto de partida” que esta celebração anual do ‘Tempo da Criação’, seja proposta por várias confissões religiosas, “sobretudo das Igrejas Cristãs”, mas, lembra que “é uma causa global”, e está “para além de uma perspetiva apenas franciscana, mesmo que, na história da Igreja, a “forma como Francisco de Assis viveu tudo isto, é realmente algo único”.

PR/CB

A Igreja Católica celebra hoje, dia 4 de outubro, a memória obrigatória de São Francisco de Assis, nas Ordens Religiosas Franciscanas é vivido como solenidade, e frei Hermínio Araújo salienta que o seu fundador “tem sido sempre uma figura muito inspiradora para estas dinâmicas” relacionadas com o ambiente e a ecologia.

“O exemplo de São Francisco de Assis como homem, sobretudo da reconciliação, da sintonia, da proximidade com todos os seres, tem sido claro que ele é visto em muitas perspetivas, mas tem sido de facto a linha de inspiradora e transversal”, explicou.

“São Francisco está sobretudo em sintonia com o criador, para utilizar as expressões sem as quais nós não entendemos o ‘Cântico das Criaturas’. É esta ligação entre o Criador, a fonte, a origem e depois todos os seres. A partir de Francisco há este despertar para uma pedagogia da relação entre todos os seres a partir de uma fonte comum, independentemente até das nossas crenças”, acrescentou.

Neste contexto, o frade franciscano destaca também “as expressões famosas de Francisco” no Cântico das Criaturas’ – “o irmão e a irmã –, que não é “quase uma espécie de nivelamento pelo mesmo”, porque tudo é igual, “não é tudo é igual”, mas tudo tem um fundamento, tudo tem uma origem, “e é um respeito por todos os seres”.

“Nós ainda não descobrimos o motivo pelo qual ele escreveu, ele compôs o ‘Cântico das Criaturas’, e o motivo é a cruz de Jesus Cristo, é a experiência pascal de Jesus; Tudo começa em São Damião, no encontro com um ícone, com o Cristo crucificado e ressuscitado em São Damião, depois toda uma caminhada que vai até ao Monte Alverne, em 1224, mas depois volta a São Damião, volta ao contexto do ícone, da experiência pascal, e que é consolidado, digamos assim, no ‘Cântico das Criaturas’”, desenvolveu o guardião do Convento franciscano do Varatojo, sobre o texto que “é talvez o legado mais significativo de Francisco de Assis”.

“Eu julgo que devíamos perceber que sem esta sensibilidade ecológica, neste sentido muito abrangente esta ecologia integral, este cuidado de todos, esta comunhão, tal como há comunhão na Eucaristia, com todos os seres é uma graça, sem a qual não há católicos e sem a qual não pode haver vida porque é algo mesmo necessário.”

 

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Agência ECCLESIA

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