Frei Fernando Cabecinhas, dos Frades Menores Capuchinhos, e irmã Joana Ribeiro, das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, abordam experiência de missão no país asiático e as expectativas em relação à visita do Papa
Ecclesia, 09 set 2024 (Ecclesia) – O frei Fernando Cabecinhas, dos Frades Menores Capuchinhos, que dedicou 11 anos de missão ao povo de Timor-Leste, disse em entrevista à Agência ECCLESIA, que a Igreja [Católica] no território “caminha para ser cada vez mais autónoma”.
“Visitei o seminário nesta minha visita em julho, fizeram obras, portanto duplicaram os espaços, está todo cheio, há muitos seminaristas. Também o Instituto de Filosofia e Teologia D. Jaime Goulart tem estruturas novas, já estão a lecionar em estruturas novas, tudo muito bem organizado academicamente, portanto vê-se que houve grandes passos nessa linha”, confirma o capuchinho.
No país asiático, que recebe até quarta-feira a visita do Papa Francisco, as vocações nas dioceses e congregações religiosas “continuam em crescendo ou estáveis”, diz o frei Fernando Cabecinhas.
Atualmente, existem já 27 frades capuchinhos em Timor-Leste, mais de metade dos que existem em Portugal, 40.
“A presença [dos Frades Menores Capuchinhos em Timor-Leste] está estável e em consolidação”, salientou o capuchinho.
Joana Ribeiro, da congregação das Irmãs Concepcionistas ao Serviço dos Pobres, esteve também em missão em Timor-Leste, de 2011 a 2017, descrevendo o país como “jovem”, com “uma igreja viva”.
“Realmente há muitos jovens a fazer este caminho de discernimento”, destaca.
A irmã refere que, neste momento, em Portugal, encontram-se a fazer caminho 8 noviças, e em Timor-Leste, seis: “Portanto sim, tem havido bastantes vocações”.
Também em abril, oito jovens timorenses receberam o hábito religioso das Irmãs Clarissas, numa celebração que decorreu no Mosteiro de Santa Clara, em Monte Real, Leiria.
“Essa para mim é uma realidade que não esperava, porque o povo timorense, como o povo asiático, tem uma espiritualidade muito forte, mas não é de todo contemplativa, no sentido de estar fechado no mosteiro”, manifestou frei Fernando Cabecinhas.
O Papa iniciou hoje a primeira visita de um pontífice desde a independência de Timor-Leste, acompanhada por centenas de milhares de pessoas. O Frei Fernando Cabecinhas dá conta que a presença do Papa no território foi preparada “dia e noite” por todo o governo e toda a estrutura social e civil, bem como a parte eclesial. “Cada paróquia com 40 ministros extraordinários, o que implica a formação. Havia quem estivesse a fazer retiro para preparar este momento de acolhimento do Papa. E está a ser vivido com muita alegria”, enfatizou a irmã Joana Ribeiro. Um dos pontos altos da visita do Papa Francisco a Timor-Leste é a celebração da Missa em Taci Tolu que, segundo a religiosa, recorda a presença do Papa João Paulo II, em 1989, salientando este como um momento “muito forte”. “As pessoas mais velhas falavam da importância que foi a visita do Papa numa altura em que estavam em ocupação. E é muito interessante, porque jovens também falavam dessa importância. Os jovens beberam muito daquilo que os pais partilharam com eles. Mas temos uma juventude que é necessário fazer caminho com eles. Foram batizados, mas isso não basta”, ressalta. Para a irmã Joana Ribeiro, o encontro de Francisco com os jovens “vai ser muito importante”, uma vez que este é “um país jovem”. Sobre o impacto da visita do Papa Francisco a Timor-Leste, a religiosa espera que o pontífice deixe uma mensagem de “acolhimento da diferença”. “Este cuidado para que a Igreja não se torne burguesa. Sendo a maioria e toda a gente sendo cristão que a Igreja continue a ser uma Igreja missionária, uma Igreja com grande proximidade e que seja uma Igreja profética. Que não se deixe calar pelos privilégios e que saia dos grandes centros urbanos e se ponha a caminho das montanhas e daqueles que estão mais longe, dos mais pobres”, desejou. |
Dos seis anos presente em território timorense, a Irmã Joana Ribeiro recorda o tempo em Laleia, terra onde esteve em missão e da qual foi pároco o frei Fernando Cabecinhas.
“Quando cheguei, encontrei uma paróquia extremamente viva, dinamizada pelos capuchinhos e eu parti como leiga com os Franciscanos Capuchinhos”, relata, revelando que em conjunto criaram uma rádio comunitária, de forma a chegar às populações que estavam mais longe.
A religiosa fala num povo “extremamente sofrido” e que muitos fugiram para as montanhas em 1975 e lá permaneceram.
“Nós missionários caminhávamos horas para ir ao encontro, para celebrar com eles. E a experiência de testemunho de fé, de proximidade, de amor aos missionários foi uma coisa que guardo com um carinho enorme. Muitas foram as coisas que fizemos. Um jardim de infância, um centro cultural, falar da cultura de Timor”, descreveu.
Por sua vez, o frei Fernando Cabecinhas lembra que os Capuchinhos iniciaram a presença em Timor-Leste em 2003 e que, apesar de no início ter sido “difícil”, o país agora está “muito diferente” daquele que encontrou.
“Em Laleia, onde estivemos, lançámos estruturas, construímos edifícios também para acolhermos os nossos candidatos, que houve logo jovens que vinham ter connosco e que queriam ser também Capuchinhos”, afirma.
“O programa melhor que lá deixámos em termos de evangelização”, defende.
PR/LJ