Ponte de Lima: Igreja matriz é a «casa da alma limiana», afirma padre José Fernando Caldas

Sacerdote, que criou uma Comissão de Renovação da igreja, afirma que o «desafio é renovar a comunidade»

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Ponte de Lima, 22 ago 2024 (Ecclesia) – O pároco de Ponte de Lima, na Diocese de Viana do Castelo, destacou que a igreja matriz desta vila do alto Minho, a igreja de Santa Maria dos Anjos, “é a casa-mãe de todos os limianos”.

“É o centro espiritual, mas também é o centro onde confluem todas as regiões de Ponte de Lima, nos dias de feira, todos os que vêm à feira, antes, vêm até ao altar da igreja matriz, junto da Senhora das Dores, fazer as suas súplicas e colocar debaixo da bênção e do manto da Senhora”, disse o monsenhor José Fernando Caldas, em entrevista à Agência ECCLESIA.

O sacerdote, que é o pároco de três comunidades nesta região desde setembro de 2022 – de Divino Salvador da Feitosa, de Santa Maria dos Anjos de Ponte de Lima e de São Mamede de Arca -, afirma que a “igreja matriz de Ponte de Lima é a casa-mãe de todos os limianos”, “a casa da alma limiana”, onde as pessoas “reveem-se, encontram-se”, porque foi durante muitos séculos o sítio de confluência, e, “ainda hoje, mantém esta identidade”.

“Foi durante muito tempo a única igreja aqui do casco mais histórico, depois, claro, foram criadas outras, a igreja da Senhora da Misericórdia, mas, mesmo assim, por ser matriz, ainda hoje confluem aqui todas as gentes, seja do concelho, principalmente dos limianos, mas depois também de outros”, acrescentou.

Segundo o padre José Fernando Caldas, as pessoas que frequentam e visitam esta igreja histórica durante a semana são mais de Ponte de Lima, “é mais limiana com as pessoas que aqui residem ou trabalham”, mas, ao fim de semana, “torna-se quase uma metrópole”, porque recebem gente de todo o lado, “seja Portugal, seja do estrangeiro”, o que faz com que as celebrações sejam “sempre muito participadas ao sábado à tarde e ao domingo”.

“São celebrações, podemos dizer, católicas, tem uma universalidade. Muitas vezes não só dos peregrinos, que também celebram aqui a sua fé, mas gente que vem de outras paróquias, vem de outros concelhos, vem de outros distritos, porque Ponte de Lima é um centro natural, seja pela beleza, pelo comer bem, pela cultura, pela tradição, mas também pela fé”, desenvolveu o sacerdote, que nasceu em Paris (França) mas tem as suas raízes na Diocese de Viana do Castelo.

A igreja paroquial de Santa Maria dos Anjos de Ponte de Lima é de fundação medieval, “a última grande intervenção no interior da igreja foi na década de 60” e o pároco de Ponte de Lima criou uma Comissão de Renovação da Igreja Matriz por dois motivos, “um é estrutural, porque tem infiltrações e humidades”, o outro é uma reestruturação do espaço litúrgico, porque a adaptação na década de 60 “ficou um bocado limitada e, talvez, não, segundo o espírito do Concílio [CVII]”.

“Neste momento, estamos a pensar também dar-lhe beleza, dignidade, e que seja funcional e simbólica ao mesmo tempo. Eu tenho tido uma preocupação de renovar os espaços, mas a preocupação principal passa por que haja uma constante renovação, conversão da própria comunidade. Celebrar a fé é celebrar com a Igreja que aqui celebra a sua fé, esta é a preocupação principal; a grande aposta e desafio é renovar a comunidade”, afirmou o monsenhor José Fernando Caldas, no Programa ECCLESIA transmitido esta quinta-feira, dia 22 de agosto, na RTP2.

Celebrar aqui a mim dá-me sempre um certo nervosismo, porque há um peso de uma tradição, de uma cultura e de uma religiosidade e espiritualidade muito forte. Agora, é com muita alegria”.

O historiador Tito de Morais, natural de Ponte de Lima, é um apaixonado pela igreja de Santa Maria dos Anjos e pela riqueza que ainda conserva, como a talha dourada, e várias “obras que são de referência”.

“Esta igreja teve realmente muita dignidade a partir da colocação daquilo que são as artes cooperativas, principalmente na talha e imaginário, e a encomenda de obras de arte. A matriz é fundada, acentuadamente nos meados do século XV, mas do século XVI, e já existe alguma encomenda, alguns contratos para ver boas obras de arte”, explicou em declarações à Agência ECCLESIA.

Tito de Morais destaca que os entalhadores, “a partir do maneirismo e do barroco”, têm também o seu esplendor na matriz de Ponte de Lima, como no atual altar da Nossa Senhora das Dores, “primitivamente dedicado ao Bom Jesus, é uma obra de 1729”, do “grande artista, grande entalhador” Miguel Coelho, que era de Barcelos, “autor de grandes obras em todo o Minho”.

Sobre “obras de referência”, o especialista lembrou também a rosácea, o pórtico e os laterais, e no interior da igreja matriz de Ponte de Lima, o altar dedicado a Nossa Senhora de Fátima, “o frontal do altar-mor, que segue a linha de Miguel Coelho”, onde está representada a última ceia, uma Pietà, do séculos XVI-XVII, e um presépio do século XVII, e, os vitrais, “que são a obras da Vidraria Antunes do Porto”, já do século XX.

“Temos também outras obras que não estão expostas aqui na Igreja, porque entre 1956 e 63/64, a Matriz de Ponte de Lima teve uma certa reconversão do seu interior e muita dessa obra, imagens, partes de talha, alguma ornamentação, mesmo portas, ao nível de sanefas, foi transferido para o depois constituiu o Museu dos Terceiros”, desenvolveu o entrevistado, bibliotecário no Instituto Politécnico de Viana do Castelo.

O Programa Ecclesia, na RTP2, em cada quinta-feira deste mês de agosto, e até dia 5 de setembro, está a divulgar destinos que são propostas para visitar durante este tempo de férias, como na Diocese de Viseu as duas capelas dedicadas a São Macário (São Pedro do Sul), e a igreja Nossa Senhora da Esperança (Sátão).

CB/OC

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