Igreja: Dispersão territorial e envelhecimento marcam diocese de Portalegre-Castelo Branco, que ensaia mudanças sinodais

«Proposta absolutamente nova» em território que concentra jovens nas cidades, revelou dificuldade no processo e mostra ser necessário «insistir» junto das comunidades e dos seus líderes

Foto: Comissão de Gestão do Património Religioso – Diocese de Portalegre-Castelo Branco

Mação, 19 jul 2024 (Ecclesia) – O padre Amândio Mateus, da diocese de Portalegre-Castelo Branco disse à Agência ECCLESIA que apesar da “dispersão” e do “envelhecimento da população” a quem o processo sinodal “diz menos”, as comunidades mostram sinais de “corresponsabilidade”.

“Eu estou numa zona (Mação) onde há muita dispersão das comunidades: uma paróquia tem muitos lugares, muito dispersos que, com o tempo as pessoas foram envelhecendo e ficaram privadas da participação, onde também o clero não consegue chegar mas tornaram-se autónomas, quase autossuficientes, com a geração de ministérios de vária ordem. Participaram em cursos de liturgia, há ministros da comunhão, há ministros da celebração da palavra, na ausência do presbítero. Tudo isto mostra outra consciência”, indica o coordenador diocesano e elo de ligação da diocese com a Conferência Episcopal Portuguesa para o Sínodo dos Bispos.

O responsável lamenta a falta de conhecimento sobre os documentos que dão conta da reflexão sinodal – “globalmente, o documento não foi lido, não foi estudado, foram poucas as pessoas que manifestarem interesse e que tiveram capacidade de o ler e de entender”.

Perante isto o responsável indica: “Insistir, temos de insistir e fazer caminho e doutrina nova”.

“A questão da participação dos leigos na administração das paróquias já acontece há bastante tempo. Na diocese há muitas senhoras que, ao domingo, presidem a celebração na ausência do presbítero. Portanto, percebemos que a realidade antecipa a doutrina. O pensamento acaba por ser muito mais conservador do que a realidade, que se impõe”, traduz.

O coordenador reconhece que a Igreja está num caminho sem retorno e que as comunidades “terão de ser cada vez mais constituídas por homens e mulheres com verdadeira consciência e de corpo inteiro”, deixando de haver “quem manda e quem obedece” para uma “corresponsabilidade”.

O Papa Francisco desencadeou, em 2021, uma escuta em toda a Igreja, convidando os cristãos a dialogarem sobre formas de tornar a Igreja católica mais participativa, mais missionária e mais comunhão.

O coordenador do processo na diocese de Portalegre-Castelo Branco explica ter sido uma proposta “absolutamente nova” no contexto territorial, “que provocou alguma dificuldade na constituição da dinâmica e até na perceção daquilo que o Papa Francisco pretendia”.

O sacerdote descreve uma realidade territorial com “população e comunidades muito envelhecidas globalmente”, onde as dinâmicas eclesiais eram marcadas pela “estabilidade”, com “alguma juventude concentrada nas cidades”, mas perante a “provocação do Papa Francisco” foi necessário “desacomodar as pessoas e os próprios sacerdotes”.

O padre Amândio Mateus reconhece que o processo sinodal não terá chegado a todas as comunidades – “o certo é que houve uma dinâmica que, de facto, mobilizou muitos grupos” – mas indica a ausência de uma “onda que galvanize as pessoas”.

“É uma questão que acaba por ter mais escuta e mais mobilização nas comunidades, porventura até mais jovens. Para os outros as coisas não são tão evidentes e tão necessárias”, reconhece.

O coordenador sublinha, no entanto, que o processo sinodal significou uma “tomada de consciência de participação e participação de uma Igreja ao lado do mundo” registando também uma “partilha de responsabilidade” sentida entre os participantes.

A conversa com o padre Amândio Mateus vai estar no centro do programa ECCLESIA, emitido este sábado na Antena 1, pelas 06h00.

LS

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