«A grande maioria destes migrantes são pessoas de fé. Queremos estar presentes como Igreja» – D. José Domingo Ulloa
Lisboa, 18 jul 2024 (Ecclesia) – O arcebispo do Panamá afirmou que a Igreja deve “erguer a voz perante a crescente crise humanitária na região da selva de Darién”, rota da migração da América Central e do Sul para chegar aos Estados Unidos da América.
“Sentimos que devemos erguer a nossa voz perante a crescente crise humanitária na região da selva de Darién e as terríveis condições de morte e vulnerabilidade que estes migrantes enfrentam. Um número incalculável de pessoas perde a vida e muitos dos corpos dos que morrem nunca são recuperados”, disse D. José Domingo Ulloa, à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) durante uma visita à sede internacional, em Königstein, na Alemanha.
A floresta de Darién, a selva na fronteira entre a Colômbia e o Panamá, é uma das rotas da América do Sul, passando pela América Central e México, para chegar aos EUA.
Na informação enviada à Agência ECCLESIA, pelo secretariado português da AIS, o arcebispo do Panamá salientou que a “grande maioria” desses migrantes são “pessoas de fé” e, como Igreja, querem “estar presentes”, criando centros de apoio psicológico para as mulheres, “muitas das quais são abusadas durante a travessia e precisam de tratamento e atenção especiais para superar o trauma”, e também para as crianças, “onde um padre ou uma religiosa possa dar-lhes força e consolo, e curar as suas feridas”.
Gostaria que os migrantes vissem a Igreja como uma mãe, que cura as feridas. Como Igreja, queremos estar presentes, ser um ponto de referência, ser capazes de proporcionar um acolhimento espiritual e psicológico. Temos de sublinhar que os migrantes não são apenas números, são pessoas”.
D. José Domingo Ulloa salientou também que os agentes pastorais da Igreja devem passar por um processo de consciencialização sobre a migração, a começar pelos bispos, sacerdotes e religiosos, mas também leigos, porque às vezes, não compreendem “o fenómeno da migração”, e, um dos objetivos, é que “estejam preparados para ver o rosto de Deus nestes migrantes”.
O arcebispo do Panamá explicou ainda à fundação pontifícia que também querem “utilizar as novas tecnologias digitais para criar uma campanha de sensibilização”, a alertar para os perigos, porque “muitas pessoas utilizam os media para dizer aos migrantes que vai ser fácil”, e devem “chamar a atenção para os muitos perigos no caminho”.
O Panamá acolheu um encontro dos bispos fronteiriços da Colômbia, Costa Rica e Panamá, em março, de 19 a 22, realizado em Darién, com o apoio da Fundação internacional AIS.
“A visão dos seus rostos era de partir o coração; a migração tem o rosto de uma mulher: cerca de 40% das pessoas que fazem este caminho são mulheres. E tem também o rosto de crianças, de famílias inteiras… é de rasgar a alma ver isto”, lembrou D. José Domingo Ulloa, na visita à sede internacional da Ajuda à Igreja que Sofre.
No dia 21 de março, o Papa Francisco manifestou proximidade aos migrantes que tentam chegar aos EUA, através de uma mensagem enviada a um grupo de mulheres e homens acolhidos na Estação de Acolhimento Temporário para Migração (ETRM), em Lajas Blancas, no Panamá, que recebe migrantes que sobreviveram à floresta de Darién.
Já no dia anterior, Francisco tinha alertado para a “via-sacra” dos migrantes na América Latina, numa mensagem ao encontro dos bispos fronteiriços da Colômbia, Costa Rica e Panamá, publicada pela sala de imprensa da Santa Sé.
Em 2023, segundo o Governo do Panamá, mais de meio milhão de pessoas tentaram fazer esse “itinerário mortal” na região de Darién.
A AIS acrescenta que “113 mil eram crianças, incluindo milhares de menores não acompanhados”; o governo panamenho alertou também para o risco dos gangues criminosos que roubam ou pedem dinheiro e “usam violência, especialmente contra mulheres”.
CB/OC