A cruz escondida

Corrida de 22 km por Cabo Delgado juntou mais de 5 mil euros

Solidariedade sem fim

Sílvia Duarte treinou, equipou-se a rigor e lançou-se, na manhã de 26 de Maio, numa dura prova de atletismo em Monsanto, Lisboa. Ela não correu por nenhuma equipa, nem para bater nenhum recorde. Correu apenas para ajudar os Cristãos perseguidos em Cabo Delgado, vítimas do terrorismo, e para divulgar junto dos Portugueses a missão da Fundação AIS. Resultado: Sílvia conseguiu angariar mais de 5 mil euros…
“É isto que me faz sentir útil ao mundo”, diz agora, ao saber que a sua corrida solidária foi um sucesso!

“Fiquei emocionada. Deus é maravilhoso em tudo o que faz em mim. É isto que me faz querer viver mais, que disputa em mim o sentido para a vida, que me faz sentir útil ao mundo.” Foi assim que Sílvia Duarte reagiu ao saber que a sua corrida solidária por Cabo Delgado, pelos Cristãos vítimas do terrorismo no norte de Moçambique, tinha gerado uma onda de solidariedade que se materializou em 5.544 euros. O valor é importante mas, mais significativo, foi o gesto protagonizado por esta cabeleireira de 56 anos, casada e mãe de três filhos. A prova de atletismo em que participou, correndo com uma T-Shirt com as cores da Fundação AIS e com o dorsal número 247, foi muito dura, entre trilhos, com subidas e descidas por vezes íngremes, num chão pedregoso e ladeada por vezes de silvas, o que lhe provocou até uma queda e deixou marcas de sangue nos braços. Mas Sílvia assumiu todo o sofrimento da corrida como uma forma de se entregar também à causa do povo de Cabo Delgado, dos homens e mulheres e crianças que todos os dias vivem o sobressalto do terrorismo no norte de Moçambique. Como ela nos explicou em Maio, poucos minutos depois de ter cortado a meta e ainda ofegante, as corridas são sempre muito difíceis. E desta vez chegou mesmo a pensar que não iria conseguir finalizar a prova, mas houve sempre uma força maior que a impeliu a continuar, que lhe deu forças e que a levou até ao fim. “É sempre dolorosa a corrida. E durante a corrida até pensei: ‘nunca mais me meto noutra…’ Mas depois, lá está, eu penso no nosso Jesus que carregou com aquela cruz e acabo por ir buscar nisso as minhas forças. E então, já não sou eu que corro. É mesmo uma força maior que corre comigo.”

Continuar a ajudar a Fundação AIS

Ao saber que o seu esforço acabou por mobilizar também a solidariedade dos Portugueses e que isso permitiu reunir mais de cinco mil euros em donativos, Sílvia diz que já pensa numa nova ideia para auxiliar através da Fundação AIS os Cristãos que sofrem e são perseguidos no mundo. “Peço a Deus que me dê a oportunidade de poder voltar ajudar a Fundação AIS num futuro bem próximo… Na minha mente e coração já sei o que tenho que fazer, só preciso de continuar a ter saúde e fé, e tudo se vai concretizar”, diz, agradecendo ainda “a oportunidade” que esta corrida lhe deu para a sua “evolução espiritual”. A ideia da corrida teve, desde o primeiro momento, o apoio entusiástico também do Padre Nuno Westwood, responsável pela Paróquia de Nova Oeiras, onde Sílvia reside. “A corrida da Sílvia para a Fundação AIS é um exemplo inspirador do compromisso pessoal e da solidariedade em prol de uma causa nobre. Ao angariar fundos e sensibilizar sobre a missão da organização, Sílvia não apenas demonstra o seu apoio prático, mas também inspira outros a envolverem-se e a fazerem a diferença. A sua dedicação reflecte o valor inestimável do trabalho da AIS e destaca a importância de indivíduos comprometidos que se dedicam a causas humanitárias e de justiça social”, disse o sacerdote quando a sua paroquiana decidiu avançar com a prova de atletismo. Também a directora do secretariado português da Fundação AIS sublinhou a grandeza do gesto desta cabeleireira destemida. “A corrida de Sílvia mostra que a solidariedade não tem limites, que há imensas maneiras de fazer o bem, de ajudar os outros, como é o caso, por exemplo, das populações de Cabo Delgado que passam por imensas necessidades e que são vítimas da tragédia do terrorismo. Obrigado, Sílvia, pelo seu testemunho, pelo seu exemplo e pela forma generosa como assumiu também a causa da Fundação AIS, a causa dos Cristãos perseguidos no mundo”, disse Catarina Martins de Bettencourt.

Projectos da AIS em Cabo Delgado

A verba angariada com a corrida de Sílvia Duarte vai agora reforçar os projectos que a Fundação AIS está a promover em Cabo Delgado em favor dos Cristãos vítimas do terrorismo. Ainda recentemente, a fundação pontifícia deu a conhecer a história da comunidade cristã de Mocímboa da Praia, uma vila costeira que chegou a estar ocupada durante meses pelos terroristas que destruíram por completo a Igreja local. Não obstante, os Cristãos continuam a reunir-se por lá aos Domingos e rezam no chão, sobre as pedras, sobre as ruínas do templo. O Bispo de Pemba, D. António Juliasse, está preocupado com a situação de insegurança que se vive em toda a diocese e recordou, à Fundação AIS, outro exemplo da tenacidade e alegria que os Cristãos de Cabo Delgado testemunham apesar dos tempos de violência que têm sofrido desde 2017. “Em Julho do ano passado, visitei uma comunidade no distrito de Palma. Celebrámos a Missa debaixo das mangueiras, à chuva e ao frio, mas as pessoas permaneceram durante duas horas, cantando e dançando. Fiquei profundamente comovido com a esperança que vi nos rostos das pessoas”, relatou o prelado à Fundação AIS. A Fundação pontifícia aprovou recentemente mais um pacote de ajuda para a Diocese de Pemba e que inclui apoio aos deslocados internos, ajuda de subsistência para 60 religiosas e 17 padres, e apoio à formação de 48 seminaristas, bem como projectos relacionados com a assistência espiritual às vítimas do terrorismo e programas de evangelização via rádio. Projectos que ganham vida graças à generosidade dos benfeitores e amigos da AIS em Portugal e em todo o mundo, como é o caso de Sílvia Duarte. Para ela, tudo isto é sinal de Deus: “Todos os dias eu própria vejo milagres a acontecer. Deus é extraordinário!”

Paulo Aido | www.fundacao-ais.pt

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Agência ECCLESIA

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