Porto: «Cristianismo configurou a festa» do São João e mantém presença na celebração, diz pároco da Foz do Douro

Padre Jorge Teixeira da Cunha destaca «caso de sucesso de evangelização», do ponto de vista histórico

Agência ECCLESIA/LS

Porto, 23 jun 2024 (Ecclesia) – O pároco de São João Batista da Foz do Douro, na Diocese do Porto, afirma que a dimensão religiosa do São João “é um segredo bem guardado”, no meio de “imensos significados à volta”, mas é “sucesso da evangelização”.

“É um caso de sucesso da evangelização, o São João do Porto. O cristianismo deu os seus frutos e como que, discretamente, ficou um pouco na sombra, mas ficou profundamente e solidamente enraizado na alma do povo”, disse o padre Jorge Teixeira da Cunha, em entrevista à Agência ECCLESIA.

O pároco da Foz do Douro salienta que São João Batista “nem é o padroeiro do Porto”, e que o aspeto religioso está, “de certo modo, dissolvido, como sal”, numa manifestação cultural cheia de sentido.

“O religioso está escondido como a semente no meio disso, ele é profundo e é o sal de toda a celebração, mas a celebração transcendeu, de certo modo, o aspeto religioso. O São João tem imensas raízes, vem, talvez, antes do Cristianismo, mas foi também a sabedoria dos evangelizadores que conseguiram, no sítio da Saturnal, das festas do solstício, instituir a celebração do santo popular”, explicou o professor universitário, realçando que Santo António, São João e São Pedro “têm todos o mesmo significado neste capítulo”.

Segundo o sacerdote, “foi o cristianismo que configurou a festa” de São João e que, depois, de certo modo, “retirou-se”, ficando o destaque para “a cascata, a cultura popular, a música”, as quadras populares e a dança.

“O São João não tem pastoral, digamos assim. É um segredo que está mais guardado até pelas manifestações populares, pela alma do povo, pelas cascatas, pela romaria em si, do que propriamente pela parte litúrgica”, precisou.

Agência ECCLESIA/LS

Na Paróquia portuense da Foz do Douro, a festa litúrgica de São João Batista assinala-se na tarde de 24 de junho, “já depois da outra celebração toda, como uma espécie de coroamento”, e como lembrança daquilo que “é o centro”.

“O fenómeno é engraçadíssimo, porque o cristianismo configurou a cultura e, de certo modo, o aspeto explícito do São João e de Deus ficou um pouco na sombra. O efeito está lá, o efeito é visível, mas a causa ficou na sombra”, sublinhou o padre Jorge Teixeira da Cunha.

A festa de São João Batista marca a cidade do Porto, e outras localidades dos arredores, de 23 para 24 de junho, este ano na noite deste domingo para segunda-feira, e, segundo o padre Jorge Teixeira da Cunha a “semente” guarda o “principal do cristianismo”, ou seja, “o sentido da receção afetiva de Deus na vida das pessoas”.

“Que depois se manifesta como festa de fraternidade, como esplendor e alegria da vivência, como aproximação das pessoas, como superação da distância social e da instituição, como fraternização geral da noite de São João, que inclui todos os aspetos da vida, e isso é o vestígio evidente do cristianismo”, acrescentou.

Agência ECCLESIA/LS

O pároco de São João Batista da Foz do Douro comenta que os turistas “ficam admirados” com a noite da festa de São João no Porto, nunca viram “coisa igual, não há festa igual”, as pessoas compreendem “a mesma linguagem”, de celebração da vida, “do mar, da celebração da sardinha, do alimento animal, vegetal”, e tem uma raiz antropológica.

Tudo é de todos. Toda a gente celebra o rico e o pobre, o nacional, o estrangeiro, o imigrante e o autóctone, referiu o sacerdote que não conhece outra festa “com este significado e experiência englobante de humanidade”.

A típica cascata de São João, “que existe em muitos lugares, em muitas famílias”, e, também, na igreja paroquial da Foz do Douro, uma representação plástica “compreensível por todos”, “um pequeno mundo onde tudo está representado”, o clero, a nobreza e o povo, “está o religioso e o profano, está o telúrico, está o espiritual”.

“Se pudéssemos demonstrar que ela era um prolongamento do presépio, ou que tinha qualquer ligação, seria engraçado”, salientou o sacerdote, na entrevista para o Programa ‘70×7’ deste domingo, transmitido na RTP2, às 17h00.

O padre Jorge Teixeira da Cunha lembra que as pessoas assinalam a “contradição” entre a festa e a figura de São João Batista, um “santo de ascese, que se vestia de pele de camelo, da austeridade”, mas foi transformado “na celebração da abundância, da fraternidade, da partilha de todas as coisas”, e as pessoas entenderam isso.

LS/CB/OC

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