Vaticano: Papa denuncia novos pobres criados pela «política das armas»

Mensagem para o VII Dia Mundial dos Pobres questiona cultura que coloca «riqueza em primeiro lugar» e sacrifica dignidade das pessoas

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 13 jun 2024 (Ecclesia) – O Papa denunciou hoje as consequências de uma “política das armas”, que alimenta as guerras e provoca novos pobres, em todo o mundo.

“A violência causada pelas guerras mostra claramente quanta arrogância move aqueles que se consideram poderosos aos olhos dos homens, enquanto aos olhos de Deus são miseráveis. Quantos novos pobres produz esta má política das armas, quantas vítimas inocentes!”, escreve, na mensagem para o VII Dia Mundial dos Pobres (17 de novembro), divulgada esta manhã.

O texto, publicado pelo Vaticano, evoca o “ruído das armas, o grito de tantos inocentes feridos e o silêncio das inúmeras vítimas das guerras”.

“Dirijamos a Deus a nossa invocação de paz. Somos pobres de paz e, para a acolher como um dom precioso, estendemos as mãos, ao mesmo tempo que nos esforçamos por costurá-la no dia-a-dia”, apela Francisco.

A mensagem liga a celebração ao ano dedicado à oração, em vista do Jubileu 2025, com o tema ‘A oração do pobre eleva-se até Deus’, do livro bíblico de Ben-Sirá.

“Os pobres têm ainda muito para ensinar, porque numa cultura que colocou a riqueza em primeiro lugar e que sacrifica muitas vezes a dignidade das pessoas no altar dos bens materiais, eles remam contra a corrente, tornando claro que o essencial da vida é outra coisa”, aponta.

O Papa, que convida à redescoberta do livro de Ben-Sirá, texto do Antigo Testamento, destaca que o autor “descobre uma das realidades fundamentais da revelação, ou seja, o facto de os pobres terem um lugar privilegiado no coração de Deus”.

“Como Pai, preocupa-se com aqueles que mais precisam dele: os pobres, os marginalizados, os que sofrem, os esquecidos… ninguém está excluído do seu coração, uma vez que, diante dele, todos somos pobres e necessitados”, indica.

Francisco dirige-se aos pobres das cidades e das comunidades católicas, para lhes manifestar a “certeza” da presença de Deus.

“O silêncio de Deus não significa distração face ao nosso sofrimento; pelo contrário, contém uma palavra que pede para ser acolhida com confiança, abandonando-nos a Ele e à sua vontade”, apela.

A mentalidade mundana pede que sejamos alguém, que nos tornemos famosos independentemente de tudo e de todos, quebrando as regras sociais para alcançar a riqueza. Que triste ilusão! A felicidade não se adquire espezinhando os direitos e a dignidade dos outros”.

O Papa desafia todos os católicos a assumir “a oração dos pobres e rezar com eles”, com um “coração humilde”.

“A humildade gera a confiança de que Deus nunca nos abandonará e não nos deixará sem resposta”, precisa.

Francisco destaca que o Dia Mundial dos Pobres – celebração instituída no seu pontificado e que se assinala no penúltimo domingo do ano litúrgico – deve ser “uma oportunidade pastoral”.

“Não deve ser subestimada, porque desafia cada fiel a escutar a oração dos pobres, tomando consciência da sua presença e das suas necessidades”, acrescenta.

O Papa pede que se promovam “iniciativas que ajudem concretamente os pobres”, elogiando todas as pessoas que se disponibilizam para “escutar e apoiar” os mais necessitados.

Francisco evoca o testemunho de Madre Teresa de Calcutá, “uma mulher que deu a vida pelos pobres”, e, na cidade de Roma, de São Bento José Labre (1748-1783), recordado como o “vagabundo de Deus”, cujo corpo é venerado na igreja paroquial de Santa Maria ai Monti.

A mensagem é assinada, simbolicamente, neste dia 13 de junho, festa litúrgica de Santo António, “patrono dos pobres”.

OC

Foto: Vatican Media

A celebração do próximo Dia Mundial dos Pobres acontece a 17 de novembro; o Papa vai presidir à celebração eucarística na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

Após a Missa, como é tradição, decorre um almoço de Francisco com algumas pessoas pobres no Auditório Paulo VI, do Vaticano, organizado pelo Dicastério para a Caridade; Dicastério para a Evangelização vai “atender às necessidades dos mais necessitados, com várias iniciativas de caridade”.

Durante a semana que antecede a Jornada, apela a Santa Sé, “todas as comunidades paroquiais e diocesanas são chamadas a concentrar as suas atividades pastorais nas necessidades dos pobres dos seus bairros, através de sinais concretos”.

 

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