Prémio de Cultura lembra importância dos Estudos Clássicos numa sociedade cada vez mais refém da tecnologia A professora e investigadora de Estudos Clássicos Maria Helena da Rocha Pereira, catedrática da Universidade de Coimbra, recebeu esta Sexta-feira, em Fátima, o Prémio de Cultura Padre Manuel Antunes, na sua quarta edição. Ao receber a distinção, a universitária de Coimbra revelou-se grata, em especial pelo destaque dado à “área contemplada”, que considera estar “nos alicerces da cultura europeia e de todas aquelas, tributárias destas, de outros continentes”. “Podem muitos dos nosso contemporâneos esforçar-se por esbater ou ignorar esta relação (com o mundo greco-latino, ndr), mas a verdade é que tentar fazê-lo é renegar a história, desconhecer a necessidade de aprender”, acrescentou. Maria Helena da Rocha Pereira realçou que o latim e o grego têm estruturas “propícias ao desenvolvimento do raciocínio” e que dessas línguas brotam a maioria dos termos da linguagem científica e técnica de que nos servimos. O Prémio, instituído pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC), da Igreja Católica, procura destacar anualmente um percurso ou uma obra, onde os valores do Humanismo e da Experiência Cristã se achem reflectidos. Para a Igreja, a distinção entregue a Maria Helena da Rocha Pereira visa também lembrar a importância dos Estudos Clássicos numa sociedade cada vez mais refém da tecnologia. “A Professora Maria Helena da Rocha Pereira tem um grandíssimo mérito como investigadora e universitária, mas há também uma razão de oportunidade: o lugar que a herança clássica – não propriamente confessional – tem e mantém numa sociedade portuguesa”, indica à ECCLESIA D. Manuel Clemente, Bispo do Porto e presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais. “Sabemos que no aspecto de modernização e desenvolvimento temos de investir muito e bem na dimensão científico-tecnológica, mas isso vai levar-nos a esquecer a herança clássica, de onde vêem as nossas ideias base de filosofia, de arte, até de ética, de direito? Onde é que fica essa herança clássica? Se esse fundo nos foge, que humanidade é que ainda mantemos?”, questiona. Por tudo isso, explica, “a atribuição deste prémio é o vincar da importância do legado clássico que não pode ser esquecido”. Já o Pe. Tolentino Mendonça, director do SNPC, considera que é de “extraordinária justiça” destacar “o percurso humano e científico de esplendorosa sabedoria” de Maria Helena da Rocha Pereira, transmitindo “aquilo que a tradição clássica nos transmite de mais belo, de mais potenciador do humano”. Por outro lado, sublinha, “num tempo como o nosso, em que se hipervaloriza a dimensão técnica” e em que o humanismo e a sabedoria desta área de estudos clássicos, “que passa por uma grande crise”, a Igreja Católica em Portugal quer deixar uma indicação clara de que “não há uma educação integral se esquecermos as humanidades, este gosto clássico, esta visão clássica do homem que nos acompanha desde o princípio”. Para este responsável, é fundamental distinguir os contributos para o conhecimento das raízes clássicas da nossa cultura, que hoje em dia “tão escassa atenção colhem” Nota biográfica Nascida no Porto, em 1925, está ligada à investigação e ao ensino universitário, sendo a maior autoridade portuguesa na área a que dedicou a sua vida. A sua obra conta com mais de trezentos títulos, entre traduções, monografias e artigos enciclopédicos. Maria Helena da Rocha Pereira foi a primeira mulher a obter o grau de doutoramento e a atingir o grau de professora catedrática numa Universidade portuguesa (Coimbra). A sua trajectória ao serviço da Universidade e da Cultura Portuguesa está bem patente nos cargos e distinções que obteve ao longo da sua carreira. Foi Vice-Reitora da Universidade de Coimbra (1970), Presidente do Conselho Científico da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (1976 -1989), Membro do Conselho Consultivo do Instituto Nacional de Investigação Científica e do Conselho Geral da Fundação Calouste Gulbenkien, representante de Portugal nas mais credenciadas organizações internacionais de foro cientifico cultural, entre outras. A sua carreira mereceu, no dia 10 de Junho de 2004, o reconhecimento oficial pela atribuição, do Presidente da República, da Grã Cruz da Ordem Militar de San’Tiago da Espada.