Braga: Homilia de D. Jose Cordeiro na celebração da Paixão do Senhor

Foto Avelino Lima/Diário do Minho
  1. Com(o) Maria junto à Cruz

Olhamos Maria, Mãe das dores, a Senhora da Soledade. Ela está ali no momento supremo da “Hora” da glorificação do Filho.

Os caminhos para chegar à Cruz são muitos. Não se chega lá porque se esteve com o Mestre. Os que O acompanharam na vida são os grandes ausentes no momento culminante.

A Senhora desolada não tem vergonha de aparecer como a Mãe do crucificado. Estava de pé – “stabat Mater” – por graça singular. O mistério da Mãe dolorosa converte-se em experiência vital para o cristão.

Na sequência da memória da Virgem Santa Maria das Dores (15 setembro), a Igreja Canta: «Maria, fonte de amor, / fazei que na vossa dor/ convosco eu chore também. (…) Chorar convosco é rezar».

O Papa Francisco comentou durante uma audiência geral numa quarta-feira de maio de 2017: «Maria “estava”, simplesmente estava lá. Ei-la novamente, a jovem de Nazaré, agora com cabelos brancos pelo passar dos anos, ainda ocupada com um Deus que só deve ser abraçado, e com uma vida que chegou ao limiar da escuridão mais densa. Maria “estava” na escuridão mais espessa, mas “estava”. Não foi embora. Maria está fielmente presente, cada vez que surge a necessidade de manter uma vela acesa num lugar de bruma e neblina. Nem ela conhece o destino de ressurreição que o seu Filho estava a abrir naquele instante para todos nós, homens: está ali por fidelidade ao plano de Deus do qual se proclamou serva no primeiro dia da sua vocação, mas também por causa do seu instinto de mãe que simplesmente sofre, cada vez que um filho atravessa uma paixão. Os sofrimentos das mães: todos nós conhecemos mulheres fortes que enfrentaram muitos sofrimentos dos filhos!» (10.05.2017).

  1. Um nome que está acima de todos os nomes

Podemos rezar com a oração de Alonso Schökel: – Recebe, Senhor, os meus temores e transforma-os em confiança; – Recebe, Senhor, o meu sofrimento e transforma-o em crescimento; – Recebe, Senhor, meu silêncio e transforma-o em adoração; – Recebe, Senhor, as minhas crises e transforma-as em maturidade; – Recebe, Senhor, as minhas lágrimas e transforma-as em oração; – Recebe, Senhor, os meus desânimos e transforma-os em fé; – Recebe, Senhor, a minha solidão e transforma-a em contemplação; – Recebe, Senhor, as minhas impaciências e transforma-as em paz da alma; – Recebe, Senhor, a minha espera e transforma-a em esperança; – Recebe, Senhor, a minha morte e transforma-a em Ressurreição.

  1. Adoração da Cruz

É tamanho o mistério, como aclama uma das antífonas para a adoração da santa Cruz: «Adoramos, Senhor, a vossa cruz, louvamos e glorificamos a vossa ressurreição: pela árvore da cruz veio a alegria ao mundo inteiro».

São Rafael, um monge trapista canonizado em 2009, escreveu: «se o mundo soubesse o quanto se pode aprender estando aos pés da Cruz».

A Eucaristia, que hoje não celebramos, apenas comungamos da reserva eucarística de ontem, não acrescenta nada à Cruz. Contudo é pela Eucaristia que chega até nós, como sacramento do sacrifício, isto é, memorial sacramental do único sacrifício da Cruz.

Deus Pai, fonte da Vida,

Que pelo Teu Filho, Jesus Cristo,

nos deste o Espírito de confiança e de amor,

fazei que toda a pessoa humana, criada à Tua imagem e semelhança,

em especial toda e cada uma das vítimas de qualquer tipo de violência,

as pessoas doentes, idosas, sós, abandonados, presas, tristes, pobres,

as pessoas que sofrem a guerra, a fome, a violação dos direitos humanos,

que sintam o abraço de compaixão, de ternura e de misericórdia,

e torna-nos mais próximos dos nossos irmãos e irmãs,

para que todos, peregrinos na humanidade,

com Santa Maria e todos os Santos,

vivamos a alegria da fé, da esperança e da caridade,

partilhando o pão e alimentando a esperança na Páscoa.

+ José Manuel Cordeiro

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