Bispos ameaçados confirmam denúncias de violação de direitos humanos na Amazónia

Três bispos ameaçados de morte no Estado amazónico do Pará (Brasil) estiveram em Brasília e confirmaram as denúncias de violação dos direitos humanos na região. D. José Luiz Azcona, da Prelazia do Marajó; D. Flávio Giovenale, da Prelazia de Abaetetuba, e D. Erwin Kräutler, da Prelazia do Xingu, falaram ao Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) e, em seguida, participaram numa audiência pública proposta pela Comissão da Amazónia da Câmara dos Deputados. Esteve, ainda, presente o pároco de Anapu, Pe. José Amaro Lopes de Souza, que também é ameaçado. Os Bispos exigem, entre outras coisas, maior presença do Estado para coibir a violência, uma investigação rigorosa para saber de onde vêm as ameaças, punição exemplar para os criminosos e segurança para os ameaçados. “Somos mais de 300 pessoas ameaçadas de morte no Pará. Apenas cem têm protecção”, afirma D. Azcona. Os líderes religiosos denunciam a exploração sexual de crianças e adolescentes e o tráfico de mulheres, além da falta de um plano de desenvolvimento para a região que ouça a população local. Há quase dois anos com protecção policial, o bispo de Xingu, D. Erwin Kräutler, fala do desconforto de ser acompanhado por três polícias 24 horas por dia. “Perdi a liberdade de ir e vir e de exercer a missão que tenho como bispo, embora cumpra todos os meus compromissos”, explicou D. Erwin. O prelado austríaco vive na região amazónica há mais de 40 anos e tem lutado contra a devastação da floresta, a expulsão de pequenos agricultores de suas terras e contra a construção da central hidroeléctrica de Belo Monte, no rio Xingu. Segundo este responsável, o ponto de partidas para as ameaças foi a morte da Irmã Dorothy Stang, em Fevereiro de 2005 foi o ponto de partida para as ameaças. “Como bispo, não podia calar-me diante da morte da Irmã Dorothy e comecei a exigir a punição para o assassino e o mandante do crime”, explica. Para D. Erwin Kräutler “há um consórcio do crime” na região. “Sinto que estamos num terrorismo psicológico. Mas não vou embora de Altamira”, avisou. Acompanhando os Bispos, o vice-presidente da Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB), D. Luís Soares Vieira, ratificou o apoio da entidade aos bispos e reforçou as denúncias apresentadas. “A Amazónia ainda é considerada periferia do Brasil. Se essas ameaças acontecem com os bispos, podem imaginar o que está a acontecer ao nosso povo”, indicou. D. Luís Soares Vieira concorda que “há um vazio do Estado” na luta contra a violência na Amazónia e se disse esperançoso com a audiência. “Espero que a audiência desperte o Congresso e o Brasil para uma acção concreta que diminua a violência contra os pobres e excluídos”, concluiu. Redacção/CNBB

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