Bispo do Porto desafia universitários

Bênção das Pastas celebrada na Avenida dos Aliados com apelos contra o desencanto e a indiferença perante o futuro – Para subir com Cristo! Amigos universitários, finalistas de tantos cursos, que todos vos levem à feliz realização das vossas vidas profissionais e cívicas. Caríssimos familiares e amigos dos nossos finalistas, que com eles partilhais a conclusão dos seus cursos. Estimadas autoridades civis e académicas, professores, alunos e funcionários da Academia do Porto. Irmãos e irmãs em Cristo, aqui reunidos para celebrar a Ascensão do Senhor. Profissionais da comunicação social, neste dia que a Igreja particularmente vos destina, insistindo desta vez na necessária dimensão ética da vossa actividade. E, muito especialmente, estimadas mães que estais connosco, aqui ou através da televisão, neste primeiro Domingo de Maio que tão justamente vos é dedicado. – A vós, mães, em que a vida encontra a mais esplendorosa Primavera! É sempre de vida que a Sagrada Escritura nos fala. Como o ouvimos agora, muito a propósito da Ascensão de Cristo, neste Domingo celebrada. Tudo, como sempre, potenciando infinitamente o dinamismo natural das nossas existências, do seio materno e do seio da terra rumando ao Céu. Céu que biblicamente também se referia como “seio de Abraão”, pátria definitiva dos que a fé põe a caminho. Sabemos nós, os cristãos, que este caminho tem nome. Cristo disse de si mesmo ser “o caminho”. É-o realmente, sempre adiante, pois sempre nos faz andar, num percurso onde nunca há propriamente finalistas… E, quando digo que sabemos o nome deste caminho, refiro a experiência que já tendes, pois se fez encontrado, para com Ele “subirdes”. De subida nos falava a primeira leitura, quando Jesus “se elevou à vista dos apóstolos e uma nuvem O escondeu à vista deles”. Ficaram de olhos presos em Jesus que se elevava. Tanto, que foi precisa a advertência: “Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu?”. Compreendamo-los a eles, transportados e fixos em Jesus, que ao Céu tornava. Compreendamos a advertência: fixemo-nos nesta terra, mesmo com os olhos cheios de Céu. Assim convosco, caríssimos finalistas, que já conheceis a Cristo e o sentido ascensional que Ele dá à vida; mas, exactamente porque o sabeis, estais dispostos a continuar nesta terra a sua obra redentora. Através das várias competências que adquiristes, ireis subindo com Cristo e ao seu modo: no serviço, na prontidão e na qualidade do que fizerdes, em prol da humanidade que todos integramos e que Deus deseja feliz. Para nós, cristãos, “subir na vida” é realmente outra coisa. Porque se consegue ao modo de Cristo, quando sobem os sentimentos e as motivações, querendo o que Deus quer e como Deus quer e em Cristo se demonstra: serviço, sentido dos outros, caridade. Neste sentido, impor-se na terra não é o mesmo que subir ao Céu. Neste sentido ainda se percebe porque é que a humanidade só guarda com gosto a memória do bem. Daqueles homens e mulheres que reproduziram na variedade das suas vidas pessoais, profissionais e cívicas o sólido modelo que encontramos em Cristo. Por entre tantas manifestações de sabedoria e religiosidade que a humanidade transporta e vos oferece, caros amigos, entreveis a figura concreta, mesmo que envolvida em glória celeste, dum Cristo muito próximo e amigo, pois compartilha com o Pai, no Amor que os une, o cuidado permanente por todos e cada um. Quem vislumbra estas coisas, já sabe para onde deve “subir”, ascendendo pela caridade, único “céu” de nós todos. Na segunda leitura escutámos a oração de Paulo, que tão bem se refere ao que mais importa, agora e para cada um de vós: “O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo […] ilumine os olhos do vosso coração, para compreenderdes a esperança a que fostes chamados, os tesouros de glória que encerra a sua herança entre os santos e a incomensurável grandeza que representa o seu poder para nós os crentes”. Redobra-se a convicção em oração. Sim, caríssimos amigos, que se ilumine o olhar e a perspectiva de vida; que se aprofunde a esperança na omnipotência divina, que tem por tamanho e qualidade a sua misericórdia, o cuidado de nós. Não peçais hoje nem nunca uma bênção coisificada, para projectos curtos ou egocêntricos. Pedi a caridade divina, para uma ascensão autêntica e uma vida verdadeira e bela, porque bondosa e útil. Deus só tem Deus para oferecer. E o nosso Deus, manifestado em Cristo, é dom de si mesmo, preocupação por todos, humildade e serviço, que são outros nomes da verdade – da verdade “pura e simples”, como não dizemos por acaso. A ascensão definitiva de Cristo foi precedida de dois modos: quando subia ao monte para orar e quando subiu à cruz para dar a vida. Nós cristãos, sabemos isto. E, como sabemos, assim pedimos, para que não nos falte o ânimo nem nos arrefeça o entusiasmo. Aqui sim, incidirá, forte e omnipotente, a bênção divina. Estai disto muito certos e garantidos – com “dois mil anos de garantia”! Disse-nos depois o Evangelho que “os discípulos partiram para a Galileia, em direcção ao monte que Jesus lhes indicara”. Na Galileia tinham começado o seu caminho com Jesus, três anos antes. À Galileia “de toda a gente” se dirigiriam agora, para reproduzir e alargar o que tinham visto e convivido com o seu Mestre e Senhor. Senhor que os fortalece e certifica, próximo e peremptório: “Todo o poder Me foi dado no Céu e na terra. Ide e ensinai todas as nações […]. Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos”. Galileia é agora o Porto, como os discípulos somos agora nós – sois agora vós, caríssimos finalistas! E o monte indicado, é esse mesmo da vossa ascensão nos sentimentos de Cristo, donde não deveis descer; antes subireis, pela convivência com Ele, mais e mais. De que ensino vos incumbe, também sabeis, autêntica “licenciatura” do que aprendestes já no Evangelho do amor e do serviço. Porque não há uma página da ciência nem uma aplicação da técnica que prescindam da verdade, que é, por natureza, difusiva e solidária. Se é certo que só temos o que aprendemos, é ainda mais certo que só mantemos o que partilhamos e só crescemos no que oferecemos. Caros amigos, que cada um dos vossos percursos pessoais e profissionais seja de partilha criativa de saberes e ofícios, no Espírito de Cristo. Aí sim, subireis ao Céu! Há muita caricatura de poder, neste vasto mundo que é o nosso. Tão caricatural, que mal arremeda a superioridade que não tem. Fazem-se e desfazem-se ídolos de pé de barro e coração vazio. E a própria comunicação social tem dificuldade em acertar com caras e casos que nos estimulem e atraiam, de sinal positivo e duradouro. – Não será então a melhor das notícias, que estejais aqui tantos e tantas, atraídos pelo “poder” de Cristo e a força convincente e sempre nova do seu Evangelho?! – Não chegará isto mesmo como prova do que Ele disse e prometeu?! Como vos diz agora mesmo, valendo muito a pena saborear-lhe as palavras, uma a uma: “Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos!”. Nós sabemos, vós atestais, é mesmo assim, Evangelho ao vivo. E deixai-me dizer, a todos os que escutam e vêem esta magnífica celebração: Fala-se hoje de algum desencanto juvenil, em relação à vida social e cívica. Desencanto e indiferença que justamente preocupam altos responsáveis e muitos observadores. Mas eu entrevejo nisso uma dupla reacção, de sinal diverso. Por um lado, é verdade que muitos jovens caem no imediatismo de consumos vários, infelizmente suscitados por más publicidades e péssimos negócios. Mas, por outro lado, tal alheamento referir-se-á ainda mais à inconsistência das práticas pessoais e públicas dalguns mais velhos, que não são de molde a cativar os mais novos. Por outro lado, são muitos os jovens que hoje aderem de alma e coração a iniciativas concretas e válidas de voluntariado e solidariedade, no país e além dele. Mais do que acusar os jovens de alheamento e descaso, devemos ser nós, os adultos, a testemunhar-lhes um real compromisso com a sociedade e o desenvolvimento. A isto, decerto, aderirão. Não desistamos nós da juventude e ela se tornará em “bênção”, como Deus a oferece ao mundo em cada geração que chega. Parabéns, então, caríssimos finalistas. Como aos vossos pais, professores e amigos, todos reunidos neste momento de bênção. E já que em Cristo o Céu desceu à terra, seja a vossa vida um caminho aberto, por onde com Ele e com muitos subais ao Céu, na constante ascensão das vidas verdadeiras, bondosas e belas, que certamente tereis. Há muita gente à vossa espera! Avenida dos Aliados, 4 de Maio de 2008 + Manuel Clemente, Bispo do Porto FOTO: Lusa

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