Europa: Igreja vive «momento muito novo» de anunciar o Evangelho a «uma sociedade que já foi cristã» – Padre Santiago Guijarro Oporto

Sacerdote lembra «dinâmica da semente» e aponta para a felicidade das pessoas, «possam viver como filhos de Deus», mas objetivo «não pode ser todos os jovens, nem que todas as pessoas sejam cristãs»

Foto: Agência ECCLESIA/CB

Fátima, 02 fev 2024 (Ecclesia) – O padre Santiago Guijarro Oporto, biblista espanhol, afirmou que o objetivo da Igreja é fazer que “as pessoas sejam verdadeiramente felizes e possam viver como filhos de Deus”, tendo “atitude critica” em relação ao que não os ajuda.

“Os jovens e os adultos uma coisa que nós cristãos temos de ter muito presente é que o nosso objetivo não pode ser que sejam todos cristãos, mas a nossa dinâmica é uma dinâmica da semente”, disse à Agência ECCLESIA o sacerdote, conferencista nas Jornadas do Clero das Dioceses do Centro, que decorreram em Fátima até esta quinta-feira.

O trabalho com os jovens “é muito importante”, mas o entrevistado considera que tem de se fazer de “forma muito humilde, muito paciente”, porque os processos são “muito lentos, muito, muito lentos” e requerem algumas atitudes fundamentais, “que é a preocupação, o carinho, a atenção”.

“Os jovens de ontem e de hoje, de sempre, apreciam muito que se interessem por eles, que acompanhe e verdadeiramente se sintam queridos, entendidos, acolhidos. Nesse sentido, acho que esta pastoral com os jovens pode também ajudá-los a ter uma atitude crítica perante esta sociedade que realmente os esvazia deles mesmos”, desenvolveu.

“No fundo, a tarefa da Igreja com os jovens é ajudar a que tenham uma vida verdadeira. O nosso objetivo não é encher as igrejas de jovens”, acrescentou o padre Santiago Guijarro Oporto, alertando que os jovens têm “um sexto sentido”, é preciso ajudá-los verdadeiramente nos desafios da vida, “não escondendo as dificuldades”.

‘Evangelização e comunidades’ foi o tema geral das Jornadas do Clero das seis Dioceses do Centro de Portugal – Aveiro, Coimbra, Guarda, Leiria-Fátima, Portalegre-Castelo Branco e Viseu – que reuniram bispos, padres, diáconos e seminaristas em final de formação – 260 inscritos -, de 30 de janeiro a 1 de fevereiro, no Santuário de Fátima.

O padre Santiago Guijarro Oporto defendeu que “a Igreja tem de voltar aos espaços da vida quotidiana”, lembrando que na primeira evangelização, “quando não existiam estruturas cristãs”, esta evangelização realizava-se “não só na casa onde os cristãos se reuniam, mas também nos lugares de trabalho, na praça”.

Foto: Secretariado das Jornadas do Clero das Dioceses do Centro

“Eu dizia, e o padre Paolo Asolan [orador de quinta-feira, ndr] confirmou, que estamos a viver um momento muito novo na vida da Igreja, porque nunca antes se deu a situação que vivemos na Europa, que se caracteriza por anunciar o Evangelho a uma sociedade que já foi cristã, mas quis deixar de ser, e isso é novo”, desenvolveu.

Segundo o sacerdote, nesta situação que “é muito nova”, “recuperar os espaços da vida quotidiana”, é dizer, recuperar a vida normal “como o espaço onde os cristãos dão testemunho de fé, por isso, a ação pastoral da Igreja “não pode ser reduzida” à celebração litúrgica, ao espaço do templo, ou às reuniões dos grupos paroquiais ou a outro tipo de espaços e grupos definidos pela fé cristã.

“Temos que, de alguma maneira, desaprender coisas que temos feito no passado e descobrir que é o que o Espírito nos pede, hoje, nesta situação nova”, indicou o membro da Irmandade dos Padres Operários Diocesanos.

O padre Santiago Guijarro Oporto lembrou que o cristianismo configurou a sociedade europeia e, “talvez, uma das tarefas da nova evangelização”, desde o ponto de vista cultural, seja “fazer ver quantas coisas boas o cristianismo trouxe à vida das sociedades: a solidariedade que supõe os nossos sistemas de prevenção social, a sanidade, a educação, é algo que não teria sido possível sem o cristianismo”, exemplificou, acrescentando que também é necessário “reconhecer todas aquelas outras coisas negativas que também o cristianismo e os cristãos trouxeram à sociedade”.

“É um momento de purificação, de pedir perdão, mas também é um momento de recuperar as coisas boas que o cristianismo aportou à sociedade”, concluiu, sobre uma nova evangelização que tem de ser “muito criativa e que tem de ser muito positiva”.

CB/OC

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Agência ECCLESIA

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