Igreja pede ajuda às autoridades para travar vaga de assaltos

Perante uma série de assaltos que têm varrido várias igrejas das dioceses de Viana do Castelo e de Braga, dos quais o Sameiro é apenas o último exemplo, o vigário-geral responsável pela área do Património, cónego José Paulo Abreu, lança um apelo às autoridades para uma união de esforços com vista a estancar esta onda de atentados ao património da Igreja. O também director do Instituto de História e Arte Cristãs apela à sensibilidade das pessoas para a defesa constante de um património que é de todos e aos responsáveis directos para o uso dos meios adequados de prevenção. Diário do Minho (DM) – Perante estes últimos assaltos, que medidas devem ser tomadas pelas autoridades? José Paulo Abreu (JPA) – Para se conseguir prevenir este fenómeno creio que tem que haver a conjugação de vários esforços. Há uma situação social que pode potenciar estes casos, mas penso que tem que haver uma maior vigilância por parte da autoridades a quem essa tarefa está confiada. Se calhar é necessário o aumento do número de efectivos, rondas mais assíduas, vigilância mais apertada. Depois, da parte dos responsáveis directos pelas instituições, igrejas e santuários tem que haver continuamente uma atitude de vigilância e nunca baixar a guarda, de preferência com recurso a todos os meios disponíveis, sejam sinais sonoros, alarmes ou outros, para que se dificulte o mais possível a acção aos amigos do alheio. Precisaríamos de uma colaboração estreita com as forças de segurança, Polícia Judiciária, PSP e GNR para detectar quem anda a fazer isto e evitar que estas coisas se repitam. Alguns destes casos dão a entender que há falta de efectivos, nomeadamente durante a noite, para manter a segurança constante. DM – O que é que mais preocupa? Os danos materiais ou o património histórico? JPA– Muitas vezes nem são as esmolas o mais significativo, mas sim os estragos que ficam em muitos edifícios. São vitrais que agora não se reconstroem ou, então, os custos da reconstrução são enormes, depois há também um estragar por estragar. Há esculturas, pinturas, lampadários alvo de vandalismo e destruição. Há também património móvel que desaparece e que não se sabe se virá a ser recuperado. Nestes casos, o que pretendem é essencialmente o dinheiro e parece que, muitas vezes, por não encontrarem a verba que entendiam, depois descarregam a sua frustração em actos de vandalismo. DM – Quais são os casos que considera mais graves? JPA – As pessoas têm muito gosto nos edifícios, nas esculturas, pois são representativos da devoção e mexem com a emoção das pessoas, pelo que é difícil distinguir o que é que provoca mais dano e o que provoca menos. Claro que, no caso presente, estamos a falar do São Bento, do Sameiro, do Bom Jesus, que são ícones da nossa devoção e locais de grande peregrinação. Mas qualquer uma das outras igrejas são importantes. Foram também as igrejas de Rio Caldo, de Forjães, de Marinhas, de São Bartolomeu do Mar, de Nogueira, num período cronológico bastante curto. As pessoas ficam desoladas e, no fundo, é a Igreja que se sente dorida, por ver o modo como tratam o que lhe pertence e que é de todos. DM – No imediato, que medidas vai tomar a Arquidiocese? JPA– Já contactamos o Governo Civil e o senhor Arcebispo e eu vamos reunir com o Governador na próxima segunda-feira, pelas 15h00. Tivemos também conhecimento que estará presente o comandante da GNR. É uma reunião em que pretendemos obter a máxima colaboração possível das forças de segurança e que haja um esforço conjunto para pormos cobro a isto e recuperar de alguma forma o que se perdeu. DM– O que é que a Igreja pode fazer mais para prevenir estes actos? – Nós temos uma campanha em duas linhas: a inventariação e a vigilância e protecção. No caso de haver furtos, naturalmente havendo a identificação da peça a recuperação torna-se mais viável, por isso temos tentado que o património esteja devidamente identificado e que se saiba a quem pertence o quê. Na linha da protecção, há sistemas de alarme, reforço de portas, de janelas de fechaduras, das grades, cuidado com as pessoas que tenham acesso às chaves, atenção quando há maior movimentação, de obras, festas. Curiosamente estes assaltos não têm acontecido em circunstâncias destas, alguns ocorreram em plena luz do dia. DM– Qual é a sensibilidade dos párocos e dos responsáveis das instituições para a segurança? – Penso que vão estando sensibilizados. A dificuldade está em encontrar meios, quer pessoais quer técnicos, pelos custos que isso acarreta para se poder fazer uma vigilância mais efectiva. Mas tudo tem os seus custos e, por vezes, simplifica-se pelo custo menor, porque também não abundam as posses. DM– Os ladrões têm mais meios que os assaltados? – Pois, quem quer roubar tenta ser ardiloso e socorrer-se às vezes até de meios profissionais para poder levar a cabo os seus intentos. Por isso, chamamos a atenção para o facto da segurança ter que ser feita por todos os que se movimentam perto dos templos. Damos a entender que, em parte, é um grupo já bastante profissionalizado, que usa meios algo sofisticados e mostram-se capazes de remover grandes pesos e estruturas. DM– Acha que esta maior frequência tem a ver com questões sociais e marginalidade ou são profissionais? – É uma panóplia de coisas e, neste momento, ainda não está identificado o figurino destes assaltantes e do seu modus faciendi. Naturalmente há aqui o reflexo social da delinquência que vai grassando, eventualmente de fenómenos marginais que fazem com que algumas pessoas tenham que encontrar dinheiro à viva força. Claro que há património da Igreja que é precioso e quem precisa, procura ir onde sabe que pode encontrar alguma coisa que tenha valia e sabem que no mínimo têm caixas de esmolas, depois podem ter materiais nobres, depois há peças de pintura e escultura que também têm valor.

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