Fundadora Joana Morais e Castro explica como nasceu o projeto e qual o impacto que tem provocado nas escolas
Porto, 16 jan 2023 (Ecclesia) – O projeto “8 mil milhões de Nós”, fundado por Joana Morais e Castro, quer contribuir para a visibilidade das pessoas com deficiência e neurodiversidade, promovendo a escuta, o encontro de histórias, saberes e vivências.
“É um projeto de promoção da inclusão e de celebração da beleza das mentes e dos corpos diversos”, explica a responsável, em entrevista transmitida esta terça-feira no Programa ECCLESIA, revelando que a plataforma surgiu de alguma “inquietude” e “indignação”.
“’8 mil milhões de Nós’, porque somos oito mil milhões de pessoas na Terra, mas estima-se que cerca de 17% das pessoas no planeta tenham alguma deficiência e é considerada pelas Nações Unidas a maior minoria do mundo e é também a mais invisível. E, portanto, com esta consciência e também munidos desta vontade de alguma maneira trazer para o espaço público também a voz das pessoas com deficiência, onde não têm sido escutadas, infelizmente, nasce esta ideia”, adianta Joana Morais e Castro.
Criado por um grupo que trabalha há largos anos em projetos sociais “na área transversal da economia social da Universidade Católica do Porto”, o projeto conta agora com o apoio da Embaixada dos EUA em Portugal para dar início a várias atividades.
“Vamos às escolas, temos uma equipa de pessoas com deficiência e neurodiversidade que vão ser speakers e que vão fazer workshops às escolas para provocar o pensamento crítico dos alunos”, avançou a fundadora do projeto, que acrescenta que também em universidades temas como “O que é para si o perdão, o que é para si a espiritualidade, o amor, a felicidade?” vão ser abordados.
“A ideia é que seja um espaço de escuta”, indica.
“Temos muito pouca oportunidade de escutar os outros que muitas vezes até nos mudam o nosso olhar sobre determinadas realidades”, destaca.
A responsável salienta que o foco é esta ser “uma plataforma de encontros se seres humanos”, de forma a combater a invisibilidade e o silêncio à volta das pessoas com deficiência.
Uma das questões mais interessantes é que muitas vezes os jovens dizem-nos: ‘Eu nunca tinham pensado nisso desta maneira’. […] ‘Nunca tinha pensado que se calhar estava a olhar para aquela pessoa que não anda, mas nunca tinha pensado que ela tem tanto para me ensinar sobre o que é que é o perdão’. E isto gera empatia e gera compaixão e gera encontros”
Além das escolas, também as empresas cada vez mais se interessam pelo projeto com preocupação pelo tema: “Há aqui uma porta a abrir-se que é muito positiva e que é muito importante”.
“Mas o mais importante de tudo tem sido a quantidade de pessoas com deficiência que vêm ter connosco e dizem: ‘Eu gostava de ser entrevistado por vocês, porque eu tenho alguma coisa a dizer ao mundo’. Isto, para mim, é um grande símbolo do que nós realmente, como sociedade, temos de mudar”, sublinha.
Para Joana Morais e Castro não faz sentido a existência de projetos sociais em torno das pessoas com deficiência, se depois não forem questionadas sobre o que pensam sobre isso.
De acordo com a responsável, é importante parar de olhar “para as pessoas com deficiência a partir daquilo que não conseguem, mas sim daquilo que têm tanto potencial para conseguir”.
“Muitas vezes eu posso não conseguir andar, mas se calhar tenho uma capacidade de gerar alegria e felicidade aos outros e isso é uma competência também”, realça.
“Estamos há milhões de anos a discriminar as pessoas com deficiência. Portanto, isto não é de um dia para o outro que muda. Acho que já estamos com grandes caminhos e grandes passos num bom caminho, mas ainda falta muito. Ainda falta nós estarmos realmente a celebrar os corpos e as mentes diversas com aquilo que têm de maravilhoso para dar ao mundo”, lamenta.
Joana Morais e Castro ressalta que é preciso não adormecer face ao tema, denunciando que as estatísticas e os estudos mostram que “as pessoas com deficiência no mundo, por causa da falta de acesso a oportunidades, falta de acesso a educação, de empregabilidade, porque não participam no espaço social e político, são o grupo com maior risco de pobreza”.
HM/LJ
Pessoa com Deficiência: «A Maria Joana levou-nos para o lado certo da vida» – Joana Morais e Castro