Documento de síntese da primeira sessão vai ser votado na tarde de sábado
Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano
Cidade do Vaticano, 27 out 2023 (Ecclesia) – O padre Timothy Radcliffe, assistente espiritual da assembleia sinodal que decorre no Vaticano, disse hoje que este encontro mundial promoveu uma “mudança extraordinária” na forma como os participantes entendem a Igreja.
“É uma mudança extraordinária na forma de sermos Igreja, juntos”, disse o religioso dominicano, durante o encontro diário com jornalistas, na sala de imprensa.
A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’, começou a 4 de outubro e decorre até sábado; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.
Timothy Radcliffe, na sua quarta experiência como participante de um Sínodo, falou de um encontro “completamente diferente dos outros” em que “não havia tanto diálogo real”.
Para o religioso, que co-orientou o retiro espiritual de três dias que antecedeu esta sessão sinodal, foi “profundamente transformador” ver sentados, lado a lado, os vários membros do sínodo, cardeais, bispos, sacerdotes, consagradas, leigos e leigas.
“Esta forma de desenvolver um Sínodo revela mais claramente do que os anteriores, em que estive, o que significa ser bispo”, sustentou, porque cada bispo está “mergulhado na conversa do seu povo, ouvindo, falando, aprendendo em conjunto”.
O religioso convidou a moderar “expectativas enormes de mudança” sobre este Sínodo, precisando que a assembleia procura abrir caminhos para “ser Igreja de uma nova forma”, em vez de debater decisões imediatas, numa espécie de “debate político”.
“Estamos a aprender, lentamente, a tomar decisões juntos, a ouvir-nos uns aos outros”, assumiu.
Para o padre Radcliffe, esta experiência é de “importância extraordinária” no mundo de hoje, marcado pelas guerras na Terra Santa, Ucrânia e vários países africanos, ou até no Ocidente, com a “polarização e o colapso da comunicação”.
“A minha esperança é que sínodo ajude a sarar a Igreja, mas também a humanidade”, apontou.
Com os jornalistas esteve ainda frei Alois, prior da Comunidade de Taizé, convidado especial do Sínodo, que falou numa “profunda experiência de comunhão”, aberta a “todos os cristãos, ao mundo”, desde a vigília ecuménica de oração, na Praça de São Pedro, a 30 de setembro.
“Demos um passo enorme, neste Sínodo, com a escuta, com a simplicidade. Havia questões difíceis, sobre a mesa”, acrescentou.
O monge deixou votos de que esta forma de ser Igreja, vivida ao longo das últimas três semanas, chegue a outros locais do mundo, superando a tentação de se “fechar em ideologias”.
“Os jovens querem ultrapassar estas fronteiras, querem ser mais compreensivos com as diferentes culturas”, sustentou.
A irmã Maria Ignazia Angelini, monja do mosteiro de Viboldone (Itália) e assistente espiritual desta assembleia sinodal, saudou a “inclusividade de presenças” e “capacidade de escuta das diferenças”, durante os trabalhos.
A religiosa deixou votos de que se possa avançar, após esta reunião, para que a mesma não seja uma experiência “autorreferencial”.
Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação (Santa Sé), adiantou aos jornalistas que o relatório final de síntese desta sessão sinodal vai ser lida e votada, em reunião geral, este sábado, pelas 15h30 (menos uma em Lisboa).
O esboço do documento, apresentado na quarta-feira, recebeu 1125 propostas de alteração coletivas e 126 individuais.
A votação de cada parágrafo exige uma maioria de dois terços dos membros presentes na votação, sem opção de abstenção, segundo a instrução sobre a realização das assembleias sinodais, de 2018.
OC