Migrações: «O testemunho de Lampedusa é de solidariedade» – Padre Carlos Caetano, missionário scalabriniano

Sacerdote português esteve vários dias na ilha italiana, onde «falar de migrações exige grande humildade»

Lisboa, 01 out 2023 (Ecclesia) – O padre Carlos Caetano, missionário scalabriniano, esteve em Lampedusa, onde passou o 109.º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, e destaca que “é de solidariedade” o testemunho nesta “terra de fronteira”, porta da Europa para quem procura “um futuro melhor”.

“Falar de migrações em Lampedusa exige grande humildade: os scalabrinianos podem ser ‘missionários ao serviço dos migrantes’ mas os habitantes são peritos de acolhimento e vivem na pele, quase diariamente, o que significa receber na própria terra populações estrangeiras em busca de um futuro melhor”, disse o sacerdote português à Agência ECCLESIA.

O padre Carlos Caetano, vigário regional da Região Europa-África da Congregação dos Missionários de São Carlos (Scalabrinianos), nomeado em 2022, lembra que em Lampedusa os desembarques de migrantes são um evento “’normal’ há mais de 30 anos”, e destaca as vagas dos dias 11, 12 e 13 de setembro, quando desembarcaram “10 000 pessoas, em pouco mais de 48 horas”, numa ilha com “uma população de 6000 residentes”.

“É uma terra de fronteira. É a porta da Europa para tantos homens, mulheres e crianças que procuram um futuro melhor para si e para os seus”, observa, realçando que, apesar das dificuldades logísticas para gerir este fluxo excecional de migrantes, “o testemunho de Lampedusa é um testemunho de solidariedade” e quando o dispositivo estatal não é capaz de gerir o acolhimento, o povo da ilha sabe que “’acolher’ significa também ‘partilhar’”.

O sacerdote português, que chegou à ilha no Mar Mediterrâneo no dia 20, refere que há uma semana, no sábado, “já só estavam 150 menores que aguardavam uma solução adequada de alojamento”, e considera que chegou o momento de a Europa ter uma “política migratória europeia”.

Os scalabrinianos estão em Lampedusa, desde o final de agosto, convidados pelo pároco, Carmelo Rizzo, para colaborarem na festa de Nossa Senhora de Porto Salvo, a padroeira da ilha, e, em turnos de quatro missionários, asseguraram a pregação, as procissões, visitaram doentes, confessaram, benzeram as embarcações, entre outros.

“Nas catequeses e nas homilias tentámos propor uma leitura do fenómeno migratório iluminado pela luz do Evangelho; apresentámos a posição da Igreja e do Papa sobre o desafio do acolhimento e da integração dos migrantes”, explicou.

O padre Carlos Caetano assinala que, para além do que tinham programado para a festa, foram dias “marcados pelas visitas, pelos encontros e pela escuta”, como com o bispo, o presidente do município, voluntários da paróquia, os funcionários da Cruz Vermelha, e jovens migrantes, como um menor da Guiné-Bissau, com quem falou em português; teve também a oportunidade de jantar em casa de Rosa e Costantino Baratta, um pescador local que “salvou doze náufragos, na trágica noite de 3 de outubro de 2013”.

No último domingo de setembro, a Igreja Católica celebrou o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, e para esta 109.ª edição o Papa escolheu o tema ‘Livres de escolher se migrar ou ficar’.

“Não podemos esquecer que a maioria das pessoas que passa por Lampedusa faz parte do que consideramos ‘migrações forçadas’: homens e mulheres que escapam da guerra, da fome e da miséria extrema. Tal como a fuga da Sagrada Família para o Egipto não foi fruto de uma escolha livre, também hoje, para muitas pessoas, a alternativa à emigração é a perseguição e a morte”, desenvolveu.

O Papa Francisco esteve a Marselha, nos dias 22 e 23, a “cidade multicultural” francesa acolheu a terceira edição dos ‘Rencontres Méditerranéennes’ (Encontros do Mediterrâneo).

“Os discursos do Papa Francisco em Marselha são um eco das palavras que ele pronunciou em Lampedusa, em 2013, durante a primeira viagem, após a sua eleição. Já há dez anos, o Papa Francisco denunciava a ‘globalização da indiferença’ perante as mortes no mar e a angústia dos exilados”, comentou o padre Carlos Caetano, vive na Suíça, mas foi o diretor do Serviço Nacional Missão e Migrações dos bispos franceses, durante seis anos.

Os Missionários de São Carlos “não estão de maneira estável na ilha de Lampedusa”, mas, o padre Carlos Caetano, vigário regional Europa-África, indica que abriram, recentemente, novas presenças em Calais, no norte da França, em Algeciras, sul da Espanha, e no Uganda (África), onde trabalham “com refugiados, sobretudo, do Sudão do Sul”.

CB/OC

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Agência ECCLESIA

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