Igreja/Sociedade: «A doutrina também progride, dilata-se com o tempo, consolida-se e torna-se mais firme» – Papa Francisco

Opção pelos pobres, críticas nos EUA e «mundanismo» na Vida Consagrada foram temas abordados no diálogo com os Jesuítas em Portugal, por ocasião da JMJ Lisboa 2023

Foto Vatican Media

Lisboa, 28 ago 2023 (Ecclesia) – O Papa Francisco disse aos jesuítas em Portugal que se preocupa quando o mundanismo se introduz na vida consagrada, destacou a opção pelos pobres e o acompanhamento” na espiritualidade inaciana e lembrou que “a doutrina também progride”.

Referindo-se a críticas sobre forma como conduz a Igreja Católica, o Papa disse que existe uma “atitude reacionária muito forte, organizada”, nomeadamente nos Estados Unidos da América, alertando que “voltar atrás é inútil”.

“É preciso compreender que há uma evolução correta na compreensão das questões de fé e de moral; a doutrina também progride, dilata-se com o tempo, consolida-se e torna-se mais firme, mas sempre progredindo. A mudança desenvolve-se da raiz para cima; Quando se anda para trás, forma-se algo fechado, desligado das raízes da Igreja e perde-se a seiva da revelação”, desenvolveu, observando que os “grupos americanos, tão fechados, estão a isolar-se” e não vivem a “verdadeira doutrina que sempre se desenvolve e dá fruto”, mas “ideologias”.

“O meu sonho para o futuro é estarmos abertos ao que o Espírito nos diz, abertos ao discernimento e não ao funcionalismo.”

O Papa lembrou também a importância da oração e afirmou que “com a oração, o jesuíta vai em frente, não tem medo de nada”, porque sabe que o Senhor lhe inspirará o que tem de fazer, mas quando não reza, “torna-se um jesuíta seco, em Portugal poder-se-ia dizer que se tornou «um bacalhau»”, alertando para o “mundanismo” na Vida Consagrada.

“Vivemos numa sociedade «mundana», o que me preocupa muito. Preocupa-me quando o mundanismo se introduz na vida consagrada”, disse Francisco, em resposta aio estudante de Filosofia Vasco, o mais novo da Província portuguesa da Companhia de Jesus, no dia 5 de agosto, num encontro no Colégio São João de Brito.

O Papa, que tinha anunciado “um diálogo fraterno e aberto”, recordou a divulgação da sua carta sobre “mundanidade e clericalismo” enviada ao clero de Roma, a diocese de que é bispo, onde alertava contra o “clericalismo”, “que é uma forma de mundanismo”, e que “é ainda pior quando se infiltra nos leigos”, indicando que o mundanismo espiritual “é uma armadilha muito recorrente”.

“É preciso aprender a distinguir: uma coisa é preparar-se para o diálogo com o mundo – como vocês fazem com o diálogo com o mundo da arte e da cultura – e outra coisa é comprometer-se com as coisas do mundo, com a mundanidade”, exemplificou, aconselhando, novamente, a ler a conclusão do livro ‘Meditação sobre a Igreja’, do Padre de Lubac, “apenas quatro páginas”, e deixou como reflexão a pergunta: ‘Serei eu espiritualmente mundano?’.

Foto: Vatican News

Francisco assinalou que “é preciso dialogar com o mundo, porque não se pode viver em conserva”, e é preciso “sair para este mundo, com os valores e os desvalores que ele tem”.

Sobre o trabalho com crianças e jovens num bairro pobre dos arredores de Lisboa, e como fazer para que o modo de vida e o testemunho “sejam cada vez mais um sinal profético”, Francisco, que também é jesuíta, lembrou que na espiritualidade inaciana existe “a opção pelos pobres e o acompanhamento dos pobres”, que têm uma “sabedoria popular especial”, mas não é a única “forma de alcançar a justiça social”, porque existem “mil maneiras de abordar os problemas sociais”, e que também “existem nas zonas residenciais, só que permanecem escondidos”.

Nesta conversa, enviada hoje à Agência ECCLESIA e publicada no sítio online ‘Ponto SJ’, da Companhia de Jesus em Portugal, em simultâneo com a Revista italiana ‘La Civiltà Cattolica’, o Papa também falou sobre a JMJ Lisboa 2023, e o futuro, a alegria do Sínodo dos Bispos e a preocupação das guerras.

 

 

No encontro privado, com mais de 90 jesuítas da Província Portuguesa da Companhia de Jesus, na capela do Colégio São João de Brito, o superior provincial fez uma breve apresentação da realidade da Companhia em Portugal.

O padre Miguel Almeida disse que são “pouco mais de 130 companheiros, 18 que ainda não foram ordenados e outros tantos ainda não fizeram os seus últimos votos”, e têm “quase 40 em formação”; com as suas diversas obras estão presentes na área da educação, da pastoral universitária, paróquias, ação social e trabalho com o mundo da cultura.

O superior provincial afirmou que existe um bom ambiente, mas, “por outro lado, algumas relações têm sido tensas” e tiveram “algumas crises que causaram feridas profundas em alguns”, assinalando que estão “num processo de perdão e reconciliação”.

O Papa agradeceu “tudo” o que o padre Miguel Almeida disse especialmente que “também há problemas”, porque deu “um toque de realidade, caso contrário teria sido uma descrição de um museu, onde tudo está no lugar e exposto na vitrina”.

CB

 

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Agência ECCLESIA

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