A Santidade como caminho

Discurso do Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa na Congregação para as Causas dos Santos. Recordo que a minha participação no Sínodo dos Bispos sobre o nosso ministério consistiu numa recordação do testemunho de santidade que o Beato Bartolomeu dos Mártires nos legou, – como vida pessoal, pastoral, de compromisso na Igreja diocesana e na renovação delineada pelo Concílio de Trento. Desta intervenção surgiu uma proposição que foi acolhida, em maioria absoluta ou quase unanimidade, pela assembleia sinodal. Daí que a Pastores Gregis nos recorde: “o ministério de santificação do Bispo tem por objectivo a santidade do Povo de Deus, que é dom da graça divina e manifestação do primado de Deus na vida da Igreja. Por isso, no seu ministério, deve fomentar incansavelmente uma verdadeira e própria pastoral e pedagogia da santidade, de tal modo que se realize o programa, proposto no capítulo quinto da Constituição Lumen Gentium, sobre a vocação universal à santidade” . Foi este programa que ele quis, no início do terceiro milénio, propor a toda a Igreja como prioridade pastoral e fruto do grande Jubileu da Encarnação. É que a santidade constitui, ainda hoje, um autêntico sinal dos tempos, uma prova da verdade do cristianismo que resplandece nos seus melhores expoentes, tanto naqueles que em grande número foram elevados às honras dos altares, como naqueles – ainda mais numerosos – que de forma velada fecundaram e continuam a fecundar a história dos homens com a santidade humilde e alegre do quotidiano. Mesmo no nosso tempo, não faltam preciosos testemunhos de santidade, pessoal e comunitária, que constituem um sinal de esperança para todos, inclusive para as novas gerações. Assim, para fazer despertar o testemunho da santidade, “exorto os meus Irmãos Bispos a procurarem identificar e pôr em evidência os sinais da santidade e das virtudes heróicas que ainda hoje se manifestam, especialmente quando se trata de fiéis leigos das suas dioceses, em particular cônjuges cristãos. No caso em que tal resultasse verdadeiramente conveniente, encorajo-os a promoverem os relativos processos de canonização. Isso poderá constituir um sinal de esperança para todos e um motivo de encorajamento, para a caminhada do Povo de Deus, no testemunho que oferece ao mundo sobre a presença permanente da graça no tecido dos acontecimentos humanos.” Como povo peregrino, a missão do Bispo passa pela proposta da santidade como vocação universal. Sabemos que o contexto social e ambiental nos é adverso. A história encarregou-se de destruir os “muros” que separavam os povos (embora hoje outros comecem a surgir), só que este abater dos muros tornou a missão eclesial mais vulnerável pois todo o tipo de mensagens e propostas invadem o interior das nossas comunidades familiares. A laicização, o hedonismo, a banalização dos costumes chegam a todos os contextos. A globalização, nas vantagens que nos proporciona, não deixa de ser, em termos gerais, uma proposta que seduz, talvez inadvertidamente, para vidas superficiais onde as virtudes e os valores quase que desaparecem. Propor um caminho de fidelidade nos conteúdos evangélicos torna-se muito complicado. Importa, porém, acreditar na bondade do nosso povo e saber que é nossa obrigação propor uma “santidade de povo” na convicção de que existem autênticos “santos” que edificam e consolidam as comunidades. A declaração da santidade está longe de esgotar as falanges de pessoas que caminham num testemunho de autêntica vida cristã. Parece-me que devemos revalorizar esta realidade e partir deste testemunho positivo. Nunca podemos ignorar o mundo que nos rodeia. Só que deixar-se prender ao negativo que nos impressiona, pode ser motivo para resignar-se e não propor a partir de casos de vida muito concretos e reais. Talvez as nossas homilias devessem falar destes casos e as nossas comunicações sociais comprometer-se com recolher e dar a conhecer o maravilhoso de muitas vidas sacerdotais, religiosas e laicais. A luz deve ser colocada no candelabro e as comunidades devem ser mais positivas. Trata-se duma auto-estima eclesial que nos daria entusiasmo e coragem para prosseguir na proposta do seguimento de Cristo. Maria, a Senhora de Fátima, é esta simplicidade escondida que nas poucas palavras pronunciadas desencadeou todo um “milagre” que abraçou o mundo. Como discípula e missionária de Seu Filho desafia-nos para o dever de anunciar as maravilhas de Deus de modo que muitos queiram viver para Ele no “caminho, verdade e vida” que é Cristo. D. Jorge Ortiga, Presidente da C.E.P. e Arcebispo Primaz 1 – Pastores Gregis, n. 41. 2 – Pastores Gregis, n.41

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