Limites da ciência

Vista de qualquer ângulo, a história de Galileu Galilei nunca deixará de ser absurda e ridícula. Uma investigação, uma teoria, um homem condenado pelo dado novo que ofereceu à humanidade – o sol e não a terra, era o centro planetário. Como se fosse possível negar a Neil Armstrong a sua descida à lua. Destas e doutras histórias, bem o sabemos, se compõe a história. E também sabemos que a distância no tempo umas vezes foca, outras desfoca os factos e pouco acrescenta às teorias. Muitas perguntas são hoje lan-çadas à ciência. E justamente. Acabou o tempo em que tinha legitimidade a investigação sem limites, mesmo desfigurando o rosto do homem ou até lançando-o mortalmente por terra. Ao sabermos que nenhuma arma se construiu sem que fosse posteriormente aplicada, já nos precavemos um pouco mais, mesmo na convicção de que o homem tem a ordem nata e bíblica do “enchei a terra e dominai-a”. Há, de facto, limites. Muitos, éticos. As “ciências da vida” não podem caminhar indefinidamente contra o homem e a humanidade. Mas nem sempre a exigência ética é referência única. Hoje a ciência sente-se desafiada por bloqueios inerentes à própria investigação. São limites nascidos no seu interior mesmo com todos os caminhos abertos ao progresso e descoberta ilimitada. Há novas fronteiras no terreno do microcosmos “por falta de instrumentos de observação que nos permitam prosseguir para lá das paredes douradas” escreve o professor George Steiner no lançamento da Conferência 2007 na Gulbenkian. Dois dias de reflexão para esta pergunta”A ciência terá limites?” Eis uma questão oportuna para alguma arrogância dos nossos dias. Terá limites a ciência? Não se trata de arrevesadas questões filosóficas – tão essenciais como o pão de cada dia – mas de visitar a fronteira onde o limite nos remete para o ilimitado, a razão para o mistério, a dúvida para o absoluto, a razão para a fé. Seja qual for o credo que cada qual professe, nunca poderá deixar passar ao lado o nuclear destas questões. A história de Galileu não serve de pretexto para converter relativos em absolutos. António Rego

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