Igreja: «A vida em comunidade nunca é uma Quaresma» – padre Renato Pereira, carmelita

Religioso indica que «a adequação do Evangelho a cada biografia é uma das missões mais desafiantes»

Foto: Padre Renato Pereira com jovens da comunidade

Fátima, 31 mar 2023 (Ecclesia) – O padre Renato Pereira, Carmelita Descalço, disse à Agência ECCLESIA que a “vida em comunidade nunca é uma Quaresma” e defende que “o constante adaptar do Evangelho a cada biografia é uma das missões mais desafiantes”.

“Há diferenças e dinâmicas que nos falam mais da simplicidade da vida, de mudança e transformações interiores e exteriores, como todos os cristãos, mas a vida em comunidade nunca é uma Quaresma e a maior desmistificação é virem visitar-nos, aqui é sempre espaço de muita alegria, às vezes demasiada que até se volta ao quarto com dor na cara de tanto rir”, conta o religioso.

Ordenado sacerdote há quase dois anos, o entrevistado vive na comunidade carmelita de Fátima, na Domus Carmeli, e destaca o clima de “convívio” e a possibilidade de partilhar a vida com outras pessoas que “partilham da mesma essência”.

Neste caminho de preparação até à Páscoa, designado de Quaresma o padre Renato Pereira tem tido “vários desafios e acompanhado várias situações com jovens” que lhe trazem a reflexão.

“Tem sido 40 dias com menos planos, menos planos meus e mais planos de Deus, quero acreditar, e mais atenção para tentar escutar a voz de Deus para perceber o que me está a pedir nesta situações concretas em que vivo”, descreve.

No acompanhamento vocacional dos jovens o religioso carmelita vai-se defrontando com várias realidades e desafios e a atitude de “adequação” é um dos segredos.

“A adequação é percebermos que Deus é muito mais pedagógico do que pensamos, temos de nos colocar no coração de Deus e perceber o que Deus pediria àquela pessoa em concreto que temos em frente em nós… Porque não há histórias iguais, nem circunstâncias iguais, o constante adaptar do Evangelho a cada biografia é uma das missões mais desafiantes mas sobretudo mais belas”.

O padre Renato Pereira partilha ainda que, neste tempo de Quaresma, têm surgido várias questões.

“Penso muitas vezes que pessoa preciso ser para trabalhar com os jovens, também por força da reflexão desta realidade dos abusos na Igreja tem sido uma questão que me tem provocado muito, e tenho-me perguntado que igreja somos… dizemos que não temos jovens na Igreja mas, pergunto-me, e temos Igreja para os jovens? Temos espaço para eles, adequamos a Igreja para eles? Acho que não é só fazer a celebração desta ou daquela maneira mas, sobretudo, deixarmos de ser empresa de eventos religiosos e ser igreja mãe, como o Papa Francisco nos tem indicado”, afirma.

Natural da Ilha Terceira, nos Açores, o sacerdote defende que “a vida é sempre imprevista” e quando “chega um jovem que não cabe nos planos pastorais é preciso ser como mãe e pai que acolhe e ler a pessoa que ali está desde o amor, ajudar”.

“Tenho a graça de falar com amigos que são pais há pouco tempo e ter um filho obriga-os a mudar e acho que a Igreja podia ganhar muito a fazer esta revolução, esta revolução é o tempo da Quaresma, é para isso, para gerarmos vida”.

A viver na comunidade carmelita de Fátima, a capelinha das Aparições é um dos locais de eleição do padre Renato para o tempo de Quaresma, mas a “horas tardias onde se encontra mais silêncio”, outro local é a própria capela da comunidade.

Foto: Carmelitas – No dia de ordenação do padre Renato Pereira

“Nesta Quaresma tenho escolhido a capela da comunidade, tem uma janela ampla para o jardim, lado a lado com o sacrário, e é ali um espaço sossegado que me tem ajudado a ler tudo o que Deus tem escrito nos imprevistos que me têm aparecido”, revela.

Apontando à Jornada Mundial da Juventude (JMJ) o sacerdote carmelita deseja que “se abra um novo capítulo na Igreja em Portugal e no Mundo”.

“Que seja horizonte de esperança e confiança, que o encontro de agosto abra um capítulo novo na vida da nossa Igreja em Portugal e no Mundo, quando acolhemos fazemos a experiência de dar e é sempre transformador, que se abra um novo caminho, sobretudo pós jornadas, tem-me preocupado se somos casa e temos casa para jovens que não estão inseridos na Igreja e se vão sentir tocados pelo que vai acontecer”, afirma.

A entrevista integra o programa de rádio ECCLESIA deste sábado, pelas 06h00, na Antena 1 da rádio pública, ficando depois disponível online e em podcast.

Em tempo de Quaresma o programa de rádio ECCLESIA, a cada sábado, convidou um sacerdote jovem para, em jeito de conversa informal, conte como vive este tempo, e as suas dificuldades, deixe a sugestão de um local a visitar e uma música que convide à reflexão.

SN

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Agência ECCLESIA

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