Antigo reitor da UCP destacou simbolismo da escolha de um «cientista social», nesta distinção, e apontou à «descoberta da verdade» como principal missão
Lisboa, 08 mar 2023 (Ecclesia) – Manuel Braga da Cruz, antigo reitor da Universidade Católica Portuguesa (UCP), recebeu hoje em Lisboa o ‘Prémio de Cultura Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes’, atribuído pela Igreja Católica em Portugal.
“As ciências sociais são ciências da Cultura”, disse o distinguido, numa cerimónia que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Braga da Cruz referiu que a entrega deste prémio a um cientista social pode ser vista como “um reconhecimento da dimensão cultural do social”.
“Perceber o que nos mantém unidos é uma indagação cultural”, acrescentou.
O sociólogo e historiador assumiu como a sua preocupação maior “a descoberta da verdade”, contra o “relativismo subjetivista” e leituras ideológicas “deturpadoras”.
Manuel Braga da Cruz declarou que a fé constitui um “suplemento da razão”, apresentando-a como “uma iluminação prioritária para o cientista social”, porque se traduz “numa mundividência e numa axiologia”.
O discurso aludiu ao papel dos católicos no desenvolvimento das Ciências Sociais em Portugal, no século XX.
O prémio da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais homenageia o “testemunho convicto de humanismo cristão” do sociólogo e historiador.
“Com pensamento estruturado desde a inicial formação em Filosofia, Manuel Braga da Cruz conjugou de forma exemplar a liberdade de espírito com a coerência de princípios na carreira universitária como brilhante investigador e professor, desde o Instituto de Ciências Sociais até à Universidade Católica Portuguesa, de que foi reitor entre 2000 e 2012”, refere a justificação dos jurados, para a atribuição do prémio.
A nota destaca o “marcante trajeto intelectual” de Manuel António Garcia Braga da Cruz, nascido no ano de 1946 em Tadim, Braga, recordando a sua “constante intervenção no espaço público como conferencista e articulista de referência”, bem como as investigações nas áreas da Sociologia e da Ciência Política, nos estudos de História, em particular “sobre os antecedentes e o devir do Estado Novo e as relações entre Igreja e Estado nesse período”.
O prémio, instituído em 2005 pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC) para destacar um percurso ou obra que refletem o humanismo e a experiência cristã, é composto pela escultura ‘Árvore da Vida’, de Alberto Carneiro, e 2500 euros, com o patrocínio da Fundação Ilídio Pinho.
A entrega do prémio a Manuel Braga da Cruz foi feita por D. João Lavrador, presidente da Comissão Episcopal que acompanha o setor da Cultura.
O bispo de Viana do Castelo agradeceu a presença da assembleia e considerou que o premiado deste edição vem “acrescentar valor” a uma distinção que já ganhou o seu “brilho” próprio.
- João Lavrador destacou a dimensão do “pensamento e da ação” de Braga da Cruz na Igreja e na sociedade, falando deste prémio como um ato que reconhece a “grandeza da sua vida”.
José Miguel Sardica, professor da UCP, fez a evocação da trajetória científica e do magistério de Manuel Braga da Cruz.
Mais de uma centena e meia de pessoas lotaram a sala onde decorreu a cerimónia, inaugurada pelo diretor do SNPC, José Carlos Seabra Pereira.
O padre Manuel Antunes (Sertã, 1918 – Lisboa, 1985), jesuíta evocado por esta distinção, é apresentado pelos promotores do prémio como “um dos pensadores e pedagogos mais notáveis do século XX”, tendo sido diretor da revista ‘Brotéria’.
OC
Nas edições anteriores, o Prémio ‘Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes’ galardoou o poeta Fernando Echevarría, o cientista e religioso jesuíta Luís Archer, o cineasta Manoel de Oliveira, a classicista Maria Helena da Rocha Pereira, o político e intelectual Adriano Moreira, o trabalho de diálogo entre Evangelho e Cultura levado a cabo pela Diocese de Beja, o compositor Eurico Carrapatoso, o arquiteto Nuno Teotónio Pereira, o pedagogo e ex-ministro Roberto Carneiro, o jornalista Francisco Sarsfield Cabral, a artista plástica Lourdes Castro, o professor de Medicina e Bioética Walter Osswald, o encenador e ator Luís Miguel Cintra, o ator Ruy de Carvalho, o historiador José Mattoso, o ensaísta Eduardo Lourenço e o teólogo João Manuel Duque. |