Jovem pároco da ilha do Pico, nos Açores, entende a preparação para a Páscoa como um «caminho diferente para um ilhéu»
Madalena, Açores, 03 mar 2023 (Ecclesia) – O padre Pedro Carvalho, pároco na ilha açoriana do Pico, Diocese de Angra, disse à Agência ECCLESIA que a Quaresma, tempo de preparação para a Páscoa, “ensina que o topo de uma montanha deve ser a base da próxima”, num caminho “diferente” para quem é ilhéu.
“Eu penso que a nossa vida é feita de montanhas, na nossa vida vivemos muitas quaresmas até nos encontrarmos com Deus, é como subir várias montanhas, a Quaresma ensina-nos que o topo de uma montanha deve ser a base da próxima”, refere o entrevistado.
O sacerdote, de 28 anos, deixa a sugestão de conhecer e subir a montanha do Pico, “perceber o valor de escalar, o sentimento de lá estar no topo, lembrando a transfiguração de Cristo, e depois descer, que é o mais difícil”.
Para o padre Pedro Carvalho, a subida de uma montanha pode ser um exercício de Quaresma.
“Nesta altura não subo ao Pico, é muito frio e tem neve, é muito difícil mas neste tempo subo várias montanhas na minha vida de várias dimensões, humana, espiritual, integral e como padre e pároco, essas são montanhas da vida que temos de subir e meditar, a Quaresma é isto”, partilha.
Natural da ilha de São Miguel, o entrevistado relaciona a Quaresma como um “lugar com mais introspeção, onde é possível conhecer-se a si mesmo e extravasar para a pastoral e para o outro”.
Recentemente, o padre Pedro Carvalho “teve a graça” de visitar a Terra Santa pela “primeira vez, com um grupo de paroquianos, amigos e com os pais”, um acontecimento marcante que “mudou parte da forma de pensar e viver a espiritualidade”.
“Somos uma atualização permanente da nossa espiritualidade, somos fruto do tempo e das circunstâncias e, nesta Quaresma, vai ser completamente diferente, no local onde se passou a ação que lemos no Evangelho é uma perspetiva completamente diferente”, recorda.
Em ano de Jornada Mundial da Juventude, a acontecer no próximo mês de agosto, em Lisboa, o sacerdote açoriano apresenta este tempo como “de renovação e uma proposta ao jeito dos jovens”.
Subir uma montanha não é só chegar ao cimo mas a alegria de perceber o valor da escalada, pode ser uma fase com mais restrições, e os jovens têm de ver como alguma coisa que tem de fazer sentido, Quaresma é viver de forma consciente mas, se for vivida baseada em regras, não é Quaresma, é um martírio porque não é feito em consciência”.
O sacerdote defende ainda que tem de se aproveitar a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de Lisboa para “ser nova Páscoa”, um encontro com o Ressuscitado, com o Papa
“Este encontro também pode ser aquela manhã de Páscoa, quando os discípulos correram apressadamente para anunciar, temos de ter essa esperança, de saber correr para anunciar a Palavra de Deus, saber correr em direção à JMJ e para dizer que façamos transbordar com esperança”, aponta.
Designando a Quaresma como caminho, o sacerdote entende que, para um ilhéu, “é diferente”.
“O caminho é diferente para quem vive isolado por mar mas, se pensarmos bem, todos somos ilhas, cada vida é uma ilha e o mar que nos rodeia é o mistério, o mistério de Deus, algo inesgotável, viver e ser ilha é uma forma de ser caminho, para a nossa realidade o caminho passa também pelo mar”, explica.
O padre Pedro Carvalho entende que esta época “é para todas a idades” e que pode ter “inúmeras formas de viver e fazer”.
“Eu já disse aqui nas minhas paróquias que não temos de olhar para a Quaresma como um tempo triste, a Quaresma é um momento de pensar em si e nos outros, na nossa vida, e isso não é uma coisa má ou triste, mas significa alegria que culmina num monte, lembramos onde Jesus orava”, refere.
A entrevista integra o programa de rádio ECCLESIA deste sábado, 04 de março, pelas 06h00, na Antena 1 da rádio pública, ficando depois disponível online e em podcast.
Em tempo de Quaresma o programa de rádio ECCLESIA, a cada sábado, convidou um sacerdote jovem para, em jeito de conversa informal, conte como vive este tempo, e as suas dificuldades, deixe a sugestão de um local a visitar e uma música que convide à reflexão.
SN