Loreto, devoção de sete séculos

Considerada a maior relíquia cristã fora da Terra Santa, a Casa em que nasceu Nossa Senhora está guardada como tesouro dentro da Basílica de Loreto na Itália. Consta que lá viveram Maria, São José e Jesus, ao voltarem do Egipto. Há duas hipóteses sobre como a Casa Santa foi parar à Itália. A antiga, ou tradicional, fala que teria sido trazida por meio dos Anjos, voando. (Segundo um documento antigo, escrito em latim, onde se lê a expressão DE ANGELIS). E foi baseado nesta tradição que o Papa Bento XV, em 1920, declarou Nossa Senhora de Loreto a Padroeira Universal da Aeronáutica. A outra hipótese, a moderna, com base num documento de Setembro de 1294, conservado num arquivo de Nápoles, diz que não foi a Casa inteira que veio, mas sim as suas pedras. Elas teriam sido trazidas de navio pelos cruzados quando foram forçados a deixar a Terra Santa. O responsável pelo transporte foi uma pessoa de uma família bizantina de sobrenome DOS ANJOS. Como as pedras teriam sido entregues ao Papa Celestino V, como um presente, o Bispo de Recanati que, naquele tempo, era o encarregado do Papa para os negócios pontifícios, diante de tão precioso presente, achou por bem construir uma capela em honra de Nossa Senhora, escolhendo para tal a mais bela colina da região. O nome LORETO vem do facto de nas proximidades haver um bosque de louros. O povo começou então a falar na capela de Nossa Senhora do Loreto. Esse nome passou para o lugarejo que foi surgindo ao redor. A capelinha tem apenas 4 metros de largura por 9 de comprimento. Como as pedras só permitiram a construção das paredes do piso até a altura de uns três metros, o restante foi construído com tijolos do próprio local. Ela não tem alicerces, mas as suas medidas correspondem perfeitamente às dos alicerces da Casinha de Nossa Senhora em Nazaré. Em 1507, o Papa Júlio II ordenou que se fizesse o revestimento da Casa Santa em mármore, a fim de protegê-la da deterioração. A construção da Basílica que abriga a Casa começou em 1468, mas protelou-se por vários séculos. Madeira Segundo o padre Fernando Augusto da Silva, no Elucidário Madeirense, a Capela do Loreto deverá ter sido construída em 1510. Sinal evidente de que a devoção à Senhora do Loreto se havia ali expandido, ou pelo menos era cultivada pelas pessoas que a construíram. Também refere o mesmo autor que «há uma romagem anual à capela do Loreto, com grande e concorrido arraial, que se realiza nos dias 7 e 8 de Setembro». Esta data -7 e 8 de Setembro – sugere a sua ligação evidente à Festa litúrgica da Natividade. O seu nome, – Loreto – sugere, porém, uma outra ligação, também forte, à devoção de Nossa Senhora do Loreto, nascida na Itália no século XIII, e espalhada através dos séculos por muitos lugares da terra e cuja festa é celebrada no dia 10 de Dezembro, dia em que essa relíquia teria chegado à Itália. Segundo um antigo livro do arquivo paroquial do Arco da Calheta, referido por Augusto da Silva, «esta ermida é magnífica por sua arquitectura e fabrico, foi feita nos princípios desta freguesia … foi seu primeiro fundador homem ilustre da notabilíssima família dos Câmaras, como mostra o escudo das suas armas no alto da porta principal… nesta capela está a cabeça dum morgado que administraram muitos anos os priores da Esperança de Lisboa… e são todas as fazendas que divide o ribeiro do Ledo para a banda de leste….» A este propósito o Elucidário Madeirense cita as palavras de Henrique Henriques de Noronha: «Pedro Gonçalves da Câmara, filho 3.º do 2.º donatário João Gonçalves da Câmara, casou com Joana de Eça que foi ama da rainha D. Catarina, mulher de D. João III «… reedificou o mosteiro da Esperança, em Portugal, e fez a ermida de Nossa Senhora do Loreto, no Arco da Calheta, aonde teve nobres casas, de que se não vê hoje mais que ruínas; vê-se o seu retrato naquela ermida». D. Joana de Eça deixou esta capela e as terras que lhe ficavam anexas às feiras do convento da Esperança de Lisboa que, por seu turno, as venderam a Francisco Luís de Vasconcelos Bettencourt, instituindo este a ali a sede dum morgadio». Dada a propagação intensa do culto da Senhora do Loreto em Portugal é, portanto, muito plausível que, dois séculos mais tarde, essa devoção se tivesse cristalizado na Madeira, precisamente por intermédio de quem tinha sido ama da rainha D. Leonor, D. Joana de Eça, e cedo se transformasse num centro de romaria e devoção, a exemplo do Santuário de Loreto, aonde até os últimos papas têm vindo a peregrinar. Aliás o Santuário do Loreto está íntima e fortemente ligado à Natividade de Nossa Senhora, pois contém a pequena casa onde ela teria nascido. Enquanto a Itália fixou a festa no dia da chegada da Casa de Maria a Roma, o Loreto na Madeira fixou a sua Festa no dia da Festa Litúrgica da Natividade da mesma Senhora. Oxalá a mensagem da Senhora do Loreto, que, evoca a vida da Sagrada Família da Nazaré, desde a Natividade da mesma Virgem Maria, possa ser cabalmente captada e vivida pelas gerações que continuarão a honrar a fé dos seus antepassados, através das peregrinações e romarias.

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