Portugal: Responsável das Conferências Vicentinas assume preocupação com aumento da pobreza e da fome

Alda Couceiro admite agravamento da situação, perante impacto da inflação, que exige novas medidas de apoio

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 06 nov 2022 (Ecclesia) – Alda Couceiro, presidente do Conselho Nacional da Sociedade de São Vicente de Paulo, responsável pelas Conferências Vicentinas, assumiu a sua preocupação e “tristeza” perante o agravamento da pobreza e da fome em Portugal.

“É com muita tristeza que o confirmo, porque cada dia vamos tendo ecos, dos Vicentinos que estão no terreno, das dificuldades e da situação grave que estão a passar muitas das nossas famílias, por diversos tipos de carências”, alerta, em entrevista conjunta à Renascença e Agência ECCLESIA, emitida e publicada este domingo.

A responsável fala em “muitas famílias jovens, muitos casais jovens” que enfrentam dificuldades e admite que a situação “complicada” que se vive atualmente “vai agravar-se” em 2023.

“Queremos realmente a ajudar a enfrentar esta situação, que vai ser muito difícil”, aponta.

Alda Couceiro diz que os pedidos de ajuda terão aumentado na ordem dos “30 ou 40%”, estando as Conferências Vicentinas, presentes nas várias paróquias católicas do país, a assumir apoios não só na área da alimentação, mas de “pagamentos de rendas, eletricidade, água ou gás”, de medicamentos ou consultas médicas.

A entrevistada fala mesmo em “muitas situações de fome”.

“As dificuldades são cada vez maiores e há zonas do nosso país com graves problemas de falta de alimentação”, alerta.

Questionada sobre se o congelamento de aumento das rendas em 2% pode levar senhorios a não renovar os contratos de arrendamento, a presidente do Conselho Nacional da Sociedade de São Vicente de Paulo sublinha que essa é uma situação que merece a atenção dos Vicentinos e que vão procurar “minimizar”.

Sobre as medidas do Governo, Alda Couceiro observa que o apoio excecional de 125 euros “não resolve a situação”, sublinhando a necessidade de novas medidas, dado que o cenário de 2023 será “cada vez mais preocupante”.

Temos uma vantagem em relação a outras instituições: visitamos as nossas famílias nas suas casas, não as desinstalamos para saber o que se passa. E assim vamos tomando consciência da realidade, das dificuldades que têm e do desespero em que vivem”.

A responsável pelas Conferências Vicentinas em Portugal mostra-se confiante na capacidade de “inventar soluções” para os casos mais difíceis, apesar das dificuldades em recolher donativos, face ao aumento das necessidades.

“Ficamos muito, muito apreensivos relativamente ao futuro. Vemos com muita apreensão o que será o ano 2023”, insiste.

Na última semana, foram divulgados os dados da operação Censos Sénior 2022, que decorreu em outubro, na qual a GNR sinalizou 44 500 idosos que vivem sozinhos, isolados e/ou em situação de vulnerabilidade.

“A solidão é terrível e há muitos idosos que estão a viver em solidão e inclusive com muita dificuldade em enfrentarem essas situações. Nós temos realmente muita gente que vive só e está desanimada”, declara Alda Couceiro.

Sobre a dinâmica interna das Conferências Vicentinas em Portugal, a entrevistada aborda os desafios levantados pela pandemia e o envelhecimento dos seus membros, falando na oportunidade que a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 representa.

“Com a JMJ e as pré-jornadas dos jovens vicentinos a nível internacional, que se realizam em Felgueiras uma semana antes da Jornada Mundial, vamos tentar sensibilizar e cativar realmente mais jovens para esta grande realidade e para este grande sonho que é tornar possível a melhoria das famílias”, conclui.

Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

 

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