Rede Europeia de Religiosas contra o Tráfico e Exploração prepara encontro em Fátima para partilha de boas práticas
Lisboa, 03 nov 2022 (Ecclesia) – O tráfico humano existe em Portugal e é o “lado sombrio” das migrações que compete a todos combater, através da informação generalizada, sensibilização e prevenção, defendeu hoje a diretora da Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM).
“Trata-se de uma questão ética e de consciência sobre o outro. E é aqui que paira a nossa exigência educativa: como é que formamos o carácter das pessoas para elas entenderam que o ser humano não tem preço? Vivemos numa sociedade que está toda desenvolvida em cima da exploração. Como podemos mudar a mentalidade e a economia para não explorar?”, questiona Eugénia Quaresma, em declarações à Agência ECCLESIA.
A diretora da OCPM, que integra a rede Comissão de Apoio às Vitimas do Tráfico de Pessoas (CAVITP), fala de situações de exploração sexual, laboral, e lamenta que a exploração ao nível da habitação seja uma realidade que está a alastrar.
“O que está a acontecer com a habitação, não só com os migrantes mas com pessoas vítimas de tráfico. A exploração económica que se faz em cima da habitação devia pesar-nos na consciência porque não é justa para ninguém. É preciso fazer alguma coisa porque a habitação condigna é um direito”, enfatiza.
Nascida em 2006, perante o esforço de religiosas que se depararam com o “flagelo” do tráfico de pessoas e a sua exploração, a CAVITP trabalha em rede e aposta na educação e sensibilização para o tema, propondo-se chegar a escolas das congregações religiosas, atingindo alunos e pais, mas também paróquias e centros sociais.
A CAVITP integra a Rede Europeia de Religiosas contra o Tráfico e Exploração que vai realizar a sua terceira assembleia, em Fátima, entre os dias 13 e 19 de novembro, com o objetivo de conhecimento e partilha de métodos de trabalho.
A Irmã Julieta Dias, religiosa do Sagrado Coração de Maria, fala num trabalho de difícil identificação e na necessidade de envolver toda a população no combate à exploração e tráfico de pessoas.
“O nosso papel é denunciar e chegar à população para que as pessoas tenham consciência. Este flagelo é muito difícil de descobrir: a pessoa traficada porque tem medo e já não confia em ninguém, e para quem beneficia porque iria deixar de beneficiar”, lamenta a religiosa.
A responsável afirma haver em Portugal tráfico de origem, de passagem e de destino.
“As vítimas são pessoas mais vulneráveis economicamente, vindas de locais onde há fome e guerra, que têm sonhos e devem poder ter condições para os realizar. Mas há outros que querem enriquecer. O tráfico de pessoas equivale ao tráfico de armas e de droga, mas com as pessoas os lucros são multiplicados e a dignidade das pessoas é espezinhada”, explica.
Já a diretora da OCPM indica que o trabalho realizado para acolher cidadãos vindos da Ucrânia permitiu identificar boas práticas e consolidar o trabalho em rede, prevenindo situações de tráfico humano.
“O fluxo dos deslocados da Ucrânia ajudou-nos a criar estruturas de alerta e ajudou-nos a consolidar o trabalho em rede. Não só em Portugal, mas o trabalho em rede do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, da rede Cáritas na Europa atuaram para apoiar. Houve um trabalho concertado. O trabalho em rede para combater as redes mafiosas é essencial”, observa.
Eugénia Quaresma fala no “lado sombrio das migrações” que a todos cabe ter consciência para se atuar na prevenção.
“Sentimo-nos mais implicados quando em 2019, o Vaticano publicou orientações pastorais para atuar sobre o tráfico humano e trata-se, essencialmente de um trabalho de sensibilização e educação”, acrescenta.
‘Juntos para 2030 – Acabar com o Tráfico – Em Movimento – Realizando o sonho – Um Mundo Livre de Escravidão’ é o tema do encontro em Fátima, que vai juntar o Observatório de Tráfico de Seres Humanos, a CAVITP, congregações religiosas e demais atores no combate ao tráfico para identificar novas formas de exploração e partilhar ações no combate ao tráfico.
LS