D. José Ornelas disse que o segredo «deve ser usado para que a justiça não se faça nas ruas» e referiu que, com o trabalho da Comissão Independente, «não se trata de nenhuma ‘caça às bruxas’»
Fátima, 29 ago 2022 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) disse hoje que “não pode haver tolerância nem encobrimento de casos” de abusos sexuais na Igreja, apelou à “colaboração com as autoridades competentes” e destacou o trabalho da Comissão Independente.
“Impõe-se um caminho claro no interior da Igreja e uma colaboração com as autoridades competentes para averiguar quaisquer ocorrências, segundo os processos legais do país, com as medidas legais e penais previstas na Igreja e no ordenamento jurídico civil”, disse D. José Ornelas, esta tarde, na abertura do Simpósio do Clero, em Fátima.
Na palavra de saudação aos participantes deste encontro – bispos, presbíteros, diáconos, seminaristas e outros fiéis – o presidente da CEP explicou que para além desses processos, “é justo” que este seja também um caminho de “pedido de perdão sincero a cada pessoa” que foi vítima desses abusos, “comportamentos inadmissíveis, pelo mal que causam e pela clara negação dos valores do Evangelho” e do compromisso de quem se dispõe a estar ao serviço dos mais pequenos e vulneráveis, na Igreja e na sociedade.
“Não devia ter acontecido nunca e em nenhum lugar, mas pedimos desculpa sentida por ter acontecido na Igreja, na qual confiaram e da qual esperavam um apoio carinhoso e não um abuso cruel e perturbador. Esse pedido de desculpa significa também disponibilidade para acolher e colaborar com as vítimas no restabelecimento da sua saúde e dignidade, para que possam ser senhoras do seu futuro, com liberdade, felicidade e esperança”, desenvolveu.
Segundo D. José Ornelas, “não pode haver tolerância nem encobrimento de casos destes”, a primeira realidade a ter em conta é que “existem no presente e existiram no passado abusos de menores”, como também “é sensato reconhecer” que não conseguirão, apesar de todos os esforços, “evitar que continuem a ter lugar no futuro”.
“O segredo não deve servir para guardar e sigilar coisas nefandas. Deve ser usado para que a justiça não se faça nas ruas, mas proceda com rigor e eficiência, tanto na Igreja como nos tribunais civis, evitando condenar inocentes na praça pública, antes de qualquer processo digno. Para isso serve o segredo de justiça”, assinalou.
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa disse que “é ao serviço desta clareza e purificação” que foi criada a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos contra as Crianças na Igreja Católica Portuguesa, criada pela CEP, e manifestou a “grande confiança e gratidão” nas pessoas que a constituem.
“Não se trata de nenhuma ‘caça às bruxas’ nem de uma campanha contra ninguém, mas de um caminho necessário de identificação de males que existiram e continuam presentes, para que possamos assumi-los na sua realidade dolorosa, como processo de conversão e de libertação para todos”, acrescentou, referindo que a partir das conclusões do estudo em curso, “será necessário rever e adaptar as medidas de prevenção e formação, particularmente das pessoas que se ocupam dos jovens”.
Para o responsável católico, é importante este tema, pela existência de abusos, “pelo drama inesquecível das vítimas”, pelo que isso significa para a vida da Igreja e para a sua missão, “pela perceção social da gravidade de tais crimes que envergonham”, o destaque que tem nos meios de comunicação e pelos desafios que coloca.
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa assinalou que muitos ou poucos que sejam os abusos, “lançar luz sobre essa realidade, dar voz e acolhimento às vítimas”, e estudar os contornos destas anomalias “é um ato de justiça e de libertação para todos”, significa assumir que se trata de “comportamentos inadmissíveis, pelo mal que causam e pela clara negação dos valores do Evangelho e do compromisso de quem se dispõe a estar ao serviço dos mais pequenos e vulneráveis, na Igreja e na sociedade”, e a “vontade firme e absoluta de assumir um código de conduta e de procedimentos que mitiguem a reincidência destes abusos”.
Segundo D. José Ornelas, os crimes de abuso de crianças na Igreja são “frequentemente vistos” como o exemplo de uma atitude “demasiado hierárquica, clerical, resistente à mudança” e ao tema do 10º Simpósio do Clero ‘a identidade relacional e do ministério sinodal do presbítero’.
CB