Portugal unido à Igreja na América Latina

D. Jorge Ortiga destacou necessidade de evangelizar Portugal e de maior compromisso dos leigos Intervenção de D. Jorge Ortiga, presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, na V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, em Aparecida Portugal, que nos seus contornos geográficos actuais deve ser dos países mais antigos do mundo, nasceu e cresceu numa aliança permanente com a Igreja. Não foi por acaso que diversos papas o apelidaram de “Nação Fidelíssima”. Por outro lado, esta circunstância de fidelidade nascia do amor a Maria. Daí que muitos dos documentos papais nos chamem “Terra de Santa Maria”. A missão de Maria é gerar Cristo e Portugal tornou-se um país aventureiro através dos Descobrimentos, onde se procurava dar consistência ao Império Lusitano numa obrigação simultânea de dilatar a fé. A todos os Continentes chegou a fé pela acção do pequeno país que era e é Portugal. Os tempo mudaram e começamos a reconhecer a necessidade de uma evangelização no interior do nosso país. A fé, para uma grande maioria, 85% – embora cresçam os indiferentes e agnósticos -, é algo herdado dos pais e concretizado em momentos, muitas vezes de índole social, marcados pelos tradicionalismo. Fazem-se peregrinações e grandes sacrifícios, mas falta o essencial do encontro personalizado com Cristo e sua doutrina. Como Conferência Episcopal, organizamos um itinerário de catequese básica obrigatória, de dez anos. Terminando este período, acontece a celebração do Crisma que deveria significar adesão a Cristo e à Igreja. Só que, como verificamos, muitos aceitaram a caminhada catequética somente para poder corresponder à exigência canónica de serem padrinho ou madrinha de baptismo. (Renova-se a catequese nos conteúdos e pedagogia, mas poucos aderem à exigência de uma vida cristã). A prática dominical é muito diversificada conforme os contextos. No Norte cerca de 50%, e em muitas regiões 10%, o que nos situa numa média de 22%. Se muitos cristãos restringem o seu cristianismo a momentos particulares, temos um conjunto de leigos, integrados em movimentos ou serviços eclesiais, que começam a testemunhar uma fidelidade característica dos verdadeiros discípulos. Na recente campanha do referendo sobre o aborto, foram estes cristãos que assumiram todo o trabalho e continuam, agora, organizando-se em associações para lutar pela vida. Não é fácil, pois assistimos a um confronto com adeptos do laicismo que, em nome da laicidade, querem exigir que o Estado e suas instituições tenham uma marca areligiosa. Estão sempre atentos e prontos para criticar iniciativas religiosas nos espaços públicos ou para exigir a retirada de símbolos cristãos dos mesmos locais. O referendo sobre o aborto foi uma batalha. Outras nos esperam no âmbito do matrimónio, educação e saúde. Procuraremos ser fiéis, sabendo que teremos de testemunhar uma vida diferente. Nesta mudança cultural, muitos cristãos tradicionais desconsideram os valores e optam por comportamentos onde a marca do Evangelho está ausente. Vale muito o que acontece nos outros países e diz-se que não podemos ser retrógrados. (A moral cristã é sempre empurrada para este âmbito, como algo de íntimo). Perante esta realidade, sinteticamente descrita, a Conferência Episcopal escolheu como tema para este triénio: “Transmitir a fé, hoje”. Reconhecemos que os portugueses ainda procuram a Igreja e são baptizados, mas não são evangelizados. (Mesmo aqueles que frequentam a Igreja geram conflitos com muita facilidade por questões insignificantes ou nada cristãs). Por outro lado, reconhecemos a necessidade da presença dos cristãos nos várias discussões políticas, culturais, económicas. É uma preocupação que nos acompanha. Daí que no comunicado da Conferência Episcopal após o resultado do referendo sobre aborto, em que o Sim venceu, tivéssemos reconhecido muitas fragilidades ou debilidades na nossa evangelização. Perante esta franja crescente de cristãos não evangelizados estamos a procurar reassumir uma missão evangelizadora “ad intra”, para que nas comunidades surjam verdadeiros discípulos capazes de preservar uma cultura e não permitir que o cristianismo, nas suas variadas manifestações, seja reduzido a festas populares, com carácter mais ou menos tradicionalista, onde os santos e Nossa Senhora servem de pretexto para a festa, mas não suscitam desejos de imitação. A minha presença nesta assembleia quer significar uma renovação da nossa vocação missionária tornando os nossos cristãos mais discípulos para tornar a história da Igreja em Portugal digna dos antepassados que partiram, num aventureirismo audaz, para dilatar a fé em Cristo em todos os cantos da Terra. Quando o Papa Bento XVI dizia, no último Domingo, que Fátima era o acontecimento mais profético dos últimos tempos, chamando à penitência e à conversão, estava a recordar-nos uma conversão à Palavra como Maria, palavra vivida, numa penitência de morrermos para os nossos programas pessoais e arriscarmos um pouco mais na identificação com o Cristo para prosseguir a missão evangelizadora. Se Fátima é o altar do mundo, convosco queremos sacrificar-nos para que, por Maria, Cristo seja tudo em todos. Esperamos convosco readquirir a caridade primitiva e a fidelidade a Cristo e à Igreja que caracterizou a nossa história e que agora, sem dramatismos ou pessimismos, está ameaçada. Assim Deus nos ajude e a vossa comunhão nos encoraje. +Jorge Ferreira Ortiga, Arcebispo Primaz de Braga

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