D. José Ornelas elogia «coragem libertadora» de quem denunciou casos
Lisboa, 10 mai 2022 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. José Ornelas, apresentou hoje em Lisboa um pedido de perdão a vítimas de abusos sexuais por parte de membros do clero ou em instituições eclesiais.
“Quero reiterar o pedido de perdão, por toda a falta de atenção ao vosso sofrimento ou de prevenção das suas causas”, referiu o bispo de Leiria-Fátima, falando aos participantes no colóquio sobre ‘Abuso sexual de crianças: Conhecer o passado, cuidar do futuro’, que decorre na Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), em Lisboa.
A iniciativa é promovida pela Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica em Portugal.
D. José Ornelas agradeceu a “coragem sofrida” das vítimas que “ousaram ir para além da dor, denunciando aquilo e aqueles que a causaram”.
“Espero que a vossa coragem libertadora possa motivar outros, em situação semelhante, a dar também esse passo, oferecendo um dos principais contributos para a libertação e a criação de uma nova cultura, rumo a um futuro digno, justo e acolhedor”, acrescentou.
O presidente da CEP disse confiar na comissão, que tem uma “real capacidade de acolhimento e de auscultação” das vítimas, com “autonomia e caráter nacional”.
“O nosso projeto sempre foi, desde o início, fazer luz, clarificar esta questão”, precisou.
D. José Ornelas destacou que a decisão de criar esta comissão, anunciada em novembro de 2021 pela CEP, nasceu da consciência da “gravidade” do fenómeno dos abusos, na Igreja e na sociedade, em particular nas últimas décadas.
O responsável católico aludiu ao “caráter devastador” dos abusos no desenvolvimento pessoal das crianças e adolescentes.
Estes atentados são particularmente graves, porque para além do mal direto e factual, afetam todo o sistema próximo e fundamental de afeto, confiança e de valores que suportam o desenvolvimento pessoal, relacional e espiritual”.
O presidente da CEP agradeceu o apoio da FCG numa iniciativa levada a cabo “em favor das crianças e dos jovens”, visando uma “melhor compreensão do fenómeno dos abusos de menores” e a “emergência de uma cultura de proteção, respeito e dignidade”.
A intervenção aludiu ainda à colaboração “desejável” com a Procuradoria-Geral da República, a todos os níveis, para que “se possa ter clareza” e identificar os males que existem, bem como as “soluções possíveis”.
Já o presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, enviou uma mensagem em vídeo aos participantes, na qual saudou a iniciativa da Igreja Católica e destacou a “forma empenhada” com que ele próprio acompanha o trabalho da Comissão Independente.
A mensagem recordou o que o Papa Francisco afirmou no dia 29 de abril, ao receber no Vaticano os membros da Comissão Pontifícia para a Tutela dos Menores, ao destacar a “independência” desse organismo.
O Papa falou então da “realidade do abuso e o seu impacto devastador e permanente na vida das crianças”, em contraste com “os esforços daqueles que procuram responder com amor e compreensão”.
HM/OC