Paróquia não é um «clube de perfeitos»

Homilia do Bispo de Angra na Missa Crismal «O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Ele Me ungiu. Enviou-Me a anunciar a Boa Nova aos pobres…, a proclamar um tempo de graça». Foi a profecia de Isaías, que Jesus aplicou a Si, conforme o texto evangélico: «Cumpriu-se hoje mesmo este passo da Escritura que acabais de ouvir». Jesus é o «Ungido», o «Cristo», que inaugura a economia da graça, de que a Igreja é sinal e instrumento, sobretudo, através dos Sacramentos. Ora, os sacerdotes são «ordenados», precisamente para serem os fiéis dispensadores da graça sacramental. Agindo «in persona Christi» representam, isto é, tornam presente «o hoje» da salvação, de que os Sacramentos são sinais eficazes. 1. Daqui o grande significado da Missa Crismal, reunindo sacerdotes e Bispo, que consagra o crisma e benze os óleos, que vão ser usados nos Sacramentos. Mesmo que, dada a dispersão geográfica da Diocese, não possamos estar todos juntos hoje, esta concelebração é expressão significativa da unidade do Presbitério diocesano. É que o fundamento dessa unidade é o Sacerdócio de Cristo, em que todos participamos. Dando graças ao Senhor pelo dom do sacerdócio, queremos reavivar esse dom, renovando hoje as promessas sacerdotais, comprometendo-nos de novo na entrega total da nossa vida ao serviço do Evangelho. O sacerdócio ministerial nasce juntamente com a Eucaristia, centro e ápice da vida cristã e “a fortiori” do sacerdócio ministerial, cuja espiritualidade é «intrinsecamente eucarística» (Bento XVI, Sacramento da Caridade, nº 80). Implica, portanto, transformar a nossa vida em Missa Permanente de entrega e de serviço. Nesta Igreja Particular. A identidade sacerdotal, definida pela configuração com Cristo-sacerdote, caracteriza-se pela diocesaneidade, isto é, pela inserção numa Diocese. Que não é abstracção, mas comunidades concretas, constituídas por estas pessoas e não por outras. 2. Pergunta alguém: que fazer com aquelas pessoas que aparecem na Paróquia só em determinadas ocasiões, para satisfazer usos e costumes sociais? A tentação é fingir que tenham motivações de fé, tantas vezes bem esmorecida ou quase apagada; ou então repreender e exigir, como se tivessem fé viva e vivida. Em vez de invocar o fogo do céu, há que fazer festa por um só que volta ao redil. Em vez de nos sentirmos incomodados, temos de graças a Deus, se as pessoas vêm, mesmo se a sua expressão de fé não for «quimicamente pura». Nós é que as deveríamos procurar. Se vêm, melhor. Demos graças a Deus! E evangelizemos. Não percamos uma única oportunidade para evangelizar, todas as vezes que essas pessoas aparecem na Missa, que trazem os filhos à catequese, que pedem os sacramentos ou o funeral religioso para um ente querido. A paróquia não é um «clube de perfeitos». É lugar e sinal de salvação e de anúncio do Evangelho. Não podemos reduzir o nosso ministério a uma espécie de «polícia de trânsito». Somos dispensadores da graça do Senhor, que recebemos gratuitamente e gratuitamente queremos anunciar e comunicar a todos, tendo presente a sua situação e sensibilidade, os seus problemas e anseios. Hoje, mais do que nunca, quando aumenta o número de pessoas que vivem afastadas da Igreja, é preciso evangelizar, oportuna e inoportunamente, com a frescura do primeiro anúncio. O Evangelho não pode ser como a pastilha elástica, que, quanto mais se mastiga, mais perde sabor. Tem de ser anunciado como Boa Nova, que dá sentido e sabor à vida. Certamente com as suas exigências, mas também com todo vigor da sua novidade. 3. É o compromisso, que desejamos reassumir, com a renovação das promessas sacerdotais daqui a pouco. Com o propósito de vencer todo o tipo de individualismo pastoral e de gestão autárquica das paróquias, promovendo uma real pastoral de conjunto, em comunhão afectiva e efectiva com o Presbitério diocesano. «Esta realidade manifesta-se, não tanto nem somente, desde uma lógica de colegialidade, mas especialmente partindo de uma lógica de sinodalidade, caminhando juntos (syn-ódos)… Caminhar juntos, viver a sinodalidade, é o desafio que a Igreja está chamada a assumir nos próximos decénios… Só uma Igreja “sinodal” será uma autêntica comunhão à imagem da comunhão divina trinitária, na qual a unidade e a diferença não são contraditórias, mas sim essenciais para uma comunidade plural» (Enzo Bianchi, Os Presbíteros, Ed. Sígueme, Salamanca, 2006, p. 52-53). 4. Convido-vos, caros fiéis, a acompanhar com a vossa oração estes ungidos do Senhor e todos os outros sacerdotes da Diocese, sobretudo os que se encontram em maiores dificuldades, os doentes e idosos, os aposeentados e os que estão internados em lares, os quais continuam a oferecer a vida pela Diocese. Lembremos os que o Senhor já chamou a Si, nomeadamente os falecidos no último ano, bem como os que vão celebrar as Bodas de Ouro e de Prata Sacerdotais. A todos queremos ter presentes nesta Missa Crismal. + António, Bispo de Angra

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Agência ECCLESIA

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