Domingo de Ramos: Vocação ao Amor

Homilia de Domingo de Ramos do Bispo de Viseu O Domingo de Ramos é o início da Semana que celebra o Amor, na sua expressão mais integral: descer até ao outro, aceitar dar a vida pelo outro e oferecer ao outro o seu próprio lugar, levando-o a recuperar tudo o que tinha perdido, mais, tudo quanto se pode oferecer. O Domingo de Ramos é, além disso, a celebração das 2 faces do Mistério Pascal: a vida e o triunfo, vividos na procissão de aclamação; a morte e o fracasso, narrados na leitura da Paixão. Mistério Pascal que vamos viver, nos seus diversos momentos, ao longo desta Semana e que, através de símbolos tornados realidade sacramental, se vive na Eucaristia em cada semana. O Domingo de Ramos é, pois, a inauguração da Páscoa e a sua síntese, enquanto passagem das trevas à luz, da humilhação à glória, do pecado à graça, da morte à vida. Vocação ao Amor Sendo a segunda etapa do nosso Plano Pastoral a Vocação ao Amor, entramos no centro, alto e profundo, desta Vocação que, segundo o Papa na Exortação Apostólica sobre a Eucaristia, diz mesmo que o amor é a “nossa verdadeira vocação” (n. 35). Filhos de Deus Amor; irmãos do Verbo Encarnado que Se despojou para vir ao nosso encontro, indo até ao extremo do Amor com a morte na Cruz… qual poderia ser a nossa vocação? A Semana Santa celebra, de forma plena, total, mesmo infinita, a Vocação ao Amor, ao Amor máximo – a entrega de si mesmo, da própria vida por quem se ama, mesmo sem correspondência e mesmo que, quem se ama, seja indiferente ou mesmo até, seja inimigo. O Amor verdadeiro acaba sempre por vencer a própria traição, toda a violência e os maiores insultos. O amor é fonte de ressurreição, até porque quem ama não morre e não deixa morrer o que ama, sendo, ao mesmo tempo, a única força capaz de mudar o coração do ser humano e transformar a humanidade inteira. O Amor e a Juventude O Santo Padre escolheu como tema, dirigindo-se aos jovens neste dia que lhes é dedicado o tema do Amor – da Vocação ao Amor – na frase de Jesus que é um desafio para todos: «Que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei». Quero, hoje e aqui, saudar, com muita alegria e amizade, todos os jovens da nossa Diocese, saudando os que trabalham no Departamento Diocesano que os representa e que os anima e desafia a viver esta mesma vocação ao Amor. O Papa e o Departamento Diocesano – eu uno-me a eles – desafiam todos os jovens a viver este lema e apresentam um modelo e uma referência: Jesus Cristo, o exemplo máximo do Amor total, pleno, infinito. É o Amor que dá o tamanho da pessoa. É o Amor o fato que vestimos, melhor, a natureza que somos e que nos mostra e nos apresenta perante os outros. Daí, haver pessoas muito pequenas, mesquinhas mesmo, que nem as recordamos e não marcam a história… Porém, há outras pessoas que são muito grandes, enormes e enchem a história, muito para além da sua idade, da sua época, do seu mundo… O Papa chama os jovens e chama-nos a todos nós a sermos grandes no Amor. A termos um coração que nos ultrapasse e que toque quem de nós se aproxime. Convida-nos a sermos discípulos do Mestre que é Amor e que nos disse mesmo que era a condição para sermos aceites na Sua escola e sermos reconhecidos como Seus discípulos – amando-nos uns aos outros… E a grande Escola do Amor, a Escola que especializa no Amor é a Eucaristia. Jovens evangelizadores dos jovens A partir da vivência da Eucaristia, os jovens são chamados a ser evangelizadores dos outros jovens e da sociedade em geral, colocando-se bem no “centro” das estruturas da juventude: família, trabalho, ruas, cidades, escolas, noites… e quaisquer que sejam os espaços de divertimento ou de lazer… Faltam jovens e adultos cristãos bem no “centro” das estruturas sociais, políticas, culturais, económicas… Quem acolhe e aceita responder positivamente à vocação ao Amor, luta pela Verdade, vive a Justiça, constrói a Paz… Torna-se expressão das Bem-aventuranças e proclama o Reino de Deus. Hoje há muito medo do Reino de Deus, como outrora, quando o medo por este Reino levou a gritar pela condenação à morte de Jesus, ainda que Ele dissesse que o Seu Reino não é deste mundo… Hoje há muito medo do Reino de Deus, porque a sua Lei é o Amor e os seus princípios são a Verdade, a Vida, a Justiça, a Graça, a Santidade, a Paz… Daí quererem reduzir a Igreja e os seus valores a meras expressões privadas, a recordações culturais ultrapassadas, a recordações de conservadorismos sem consequências e sem implicações… A legislação e atitudes no que se refere às aulas de Educação Moral e Religiosa nas Escolas, a começar pelo 1º ciclo; a assistência religiosa nas instituições públicas; a orientação para a ausência dos símbolos religiosos, da própria Cruz, dos diversos “espaços”; a anulação das representações da Igreja nos protocolos oficiais; a determinação orquestrada contra a vida e contra a família… Tudo isto quer fazer esquecer a Verdade das pessoas e das instituições, como, também, a identidade das próprias Nações e Estados, como está a acontecer com a identidade da União Europeia… Vocação ao Amor significa “descer” até ao outro e ser capaz de encontrar lugar para o outro no próprio coração. Significa ser misericordioso até ao extremo da própria generosidade. Esta é a mensagem fundamental da 2ª leitura de hoje e que o Filho de Deus encarnou na plenitude e consumou na totalidade no drama de amor e de libertação, relatado no Evangelho. Peçamos ao Deus Pai que nos faça corajosos na coerência da nossa Fé e que nos dê a força e a alegria de, como diz a primeira leitura, termos a capacidade de ouvir, escutar e falar como discípulos, para não recuarmos nunca, quando estão em jogo os valores da vida, da verdade, da paz, da justiça, do amor… No fundo, os valores do Reino de Deus. Tenhamos a certeza de que não ficaremos desiludidos, pois Jesus Cristo Ressuscitado, presente na Eucaristia, é mesmo o Caminho, a Verdade e a Vida que nos dará a plenitude da alegria. D. Ilídio Pinto Leandro

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