Domingo de Páscoa – Homilia de D. António Montes, bispo emérito de Bragança-Miranda

Os cristãos das Igrejas Orientais saúdam-se na Páscoa com a exclamação: «Cristo ressuscitou!». Ao que se responde: «Sim, verdadeiramente Cristo ressuscitou!».

Sim, Cristo ressuscitou! Este é o fundamento da nossa fé cristã, a razão da nossa esperança e o motivo da nossa caridade. Como escreve S. Paulo aos fiéis da cidade grega de Corinto, «se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação e também é vã a vossa fé… E se temos esperança em Cristo apenas para esta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens» (1 Cor 15, 14 e 19).

Sim, Cristo ressuscitou ao terceiro dia, como todos os domingos proclamamos na Eucaristia na recitação do Credo.

 

A ressurreição de Cristo, sintetiza o Catecismo da Igreja Católica, «é um acontecimento real, com manifestações historicamente verificadas» (n.º 639). Entre estas destacam-se o sinal da descoberta do túmulo vazio, narrada no primeiro evangelho do domingo de Páscoa (Jo 20, 1-9), e os relatos das aparições do Ressuscitado a Simão Pedro e depois aos outros apóstolos (1 Cor 15, 4-5 e Lc 24, 34), «as testemunhas de antemão designadas por Deus, a nós que comemos e bebemos com Ele depois de ter ressuscitado dos mortos» (At 10, 41), como refere o mesmo S. Pedro na primeira leitura da Eucaristia de hoje.

Durante o seu ministério público Jesus ressuscitou três mortos: a filha do chefe da sinagoga Jairo (Mc 5, 22-43), o filho da viúva da cidade de Naim (Lc 7, 11-17) e o seu amigo Lázaro de Betânia (Jo 11, 1-44). Estes miraculados regressaram à vida terrena anterior e, em dado momento, voltaram a falecer.

Em Cristo aconteceu algo de natureza e significado essencialmente distintos. Pela  ressurreição a sua humanidade, em corpo glorificado, deu entrada na glória da Santíssima Trindade à qual Jesus, como Deus,  esteve sempre intimamente unido durante o seu peregrinar em terras da Palestina. Deste modo, o corpo ressuscitado de Cristo passou do estado de morte a uma outra vida, para além do espaço e do tempo, e deixou de estar sujeito às limitações da presente condição humana. Assim, prossegue o Catecismo da Igreja Católica, «Jesus ressuscitado é soberanamente livre de aparecer como quer: sob a aparência dum jardineiro» [como na aparição a Maria Madalena; Jo 20, 14-15] ou «com aspeto diferente daquele que era familiar aos discípulos; e isso, precisamente, para lhes despertar a  fé» (n.º 645), como na aparição aos discípulos de Emaús, referida no evangelho desta missa vespertina do domingo de Páscoa (Mc 16,12 e sobretudo Lc 24, 13-35].

 

A ressurreição de Jesus não diz respeito exclusivamente a Ele. Como toda a sua vida. Ele veio ao mundo, viveu, morreu e também ressuscitou por nós e para nós, conforme igualmente proclamamos todos os domingos na recitação do Credo.

A ressurreição de Cristo é princípio e fonte da nossa própria ressurreição futura. O mesmo Deus o garante por meio de S. Paulo na carta aos coríntios: «Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram… Do mesmo modo que em Adão todos morreram, assim também em Cristo todos serão restituídos à vida» (1 Cor 15, 20 e 22).

Para isso, o mesmo Apóstolo exorta na segunda leitura desta missa de Páscoa: «Afeiçoai-vos às coisas do Alto, não às coisas da terra» (Col 3,2). E ainda, na variante desta leitura: «Celebremos a festa, não com fermento velho, (…) mas com os pães ázimos da pureza e da verdade» (1 Cor 5,8). Fiel a estas orientações, a nossa existência cristã no tempo presente alimenta-se da expectativa confiante da ressurreição.

Neste espírito, saúdo-vos cordialmente com votos de Santa Páscoa na alegria do Senhor ressuscitado. Cristo ressuscitou!

D. António Montes, bispo emérito de Bragança-Miranda

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