Vaticano: Papa diz que é preciso «chorar» diante das imagens da guerra

Em entrevista à Rai, Francisco fala em «dor» pelo conflito na Ucrânia e questiona tratamento desigual dado aos refugiados

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 15 abr 2022 (Ecclesia) – O Papa disse hoje, em entrevista à televisão pública italiana (Rai) que é preciso “chorar” diante das imagens da guerra, confessando a sua “dor” pelo conflito na Ucrânia.

“[Kiev é] Uma dor. A dor é uma certeza, é um sentimento que tira tudo. Quando alguém, após uma cirurgia, sente dor física, a ferida que foi feita, pede uma anestesia, algo para ajudar a tolerá-la. Mas [para a] dor humana, dor moral, não há anestesia. Apenas oração e pranto”, referiu, numa conversa de cerca de 50 minutos emitida nesta Sexta-feira Santa, no programa ‘À Sua Imagem’.

Francisco considerou que a humanidade atual deixou de saber chorar e de se envergonhar pelo mal que comete.

“Estou convencido de que hoje não choramos bem. Esquecemo-nos de chorar. Se posso dar um conselho, para mim e para as pessoas, é pedir o dom das lágrimas. E chorar, como Pedro chorou, depois de ter traído Jesus”, indicou.

O Papa apontou para o peito e apelou a uma mudança interior, destacando que “0 coração duro, o coração que não se comove, não sabe chorar”.

“Pergunto-me: quantas pessoas, diante das imagens de guerras, quaisquer guerras, foram capazes de chorar? Alguns sim, tenho a certeza, mas muitos não. Começam a justificar ou a atacar”, acrescentou.

Hoje, Sexta-feira Santa, em frente de Jesus Crucificado, deixa que ele toque o teu coração, deixa que Ele te fale com o seu silêncio e com a sua dor. Que Ele te fale através daquelas pessoas que sofrem no mundo: sofrem de fome, sofrem de guerra, sofrem de tanta exploração e de todas estas coisas. Deixa que Jesus te fale e por favor não fales tu. Silêncio. Deixa que seja Ele e pede a graça de chorar”.

O Papa dirige-se aos cristãos da Ucrânia que estão a preparar a Páscoa – no caso do rito bizantino, com uma semana de diferença (24 de abril), por seguirem o calendário juliano, não o gregoriano.

“Aproveito esta oportunidade para enviar uma mensagem de fraternidade a todos os meus irmãos bispos ortodoxos, que estão a viver esta Páscoa com a mesma dor com que nós, eu e muitos católicos a estamos a viver”, declarou.

Falando sobre a crise humana provocada pela guerra, com milhões de deslocados na Ucrânia, Francisco alertou que “os refugiados estão divididos”.

“Primeira classe, segunda classe, cor da pele, [quer sejam] provenientes de um país desenvolvido [ou de] um que não é desenvolvido. Nós somos racistas, somos racistas. E isto é mau”, lamentou.

O Papa destacou que o próprio Jesus Cristo foi um refugiado no Egito, “para escapar à morte”, e falou de um quadro que lhe foi oferecido, em que São José é representado como um sírio, “com a criança, a fugir da guerra de hoje”.

“O rosto de angústia que estas pessoas têm, como Jesus forçado a fugir. E Jesus já passou por todas estas coisas, mas Ele está lá”, sustentou.

OC

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Agência ECCLESIA

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